A ação direta agora é da presidente Dilma, que concorrerá respondendo não mais pelo governo Lula, mas pelo período em que está à frente das decisões do país
A contar pela entrevista de Luiz Inácio Lula da Silva concedida a Tereza Cruvinel e Leonardo Cavalcanti e publicada hoje nos Diários Associados, o ex-presidente está a ponto de passar o bastão para o futuro e voltar ao que parece ser a sua sina: alavancar o PT, fazer crescer ou estabilizar o PT. Lula faz isso desde a fundação do partido. Em pelo menos uma oportunidade, 1998, foi candidato mais para evitar um racha petista do que por vontade própria de disputar a Presidência da República.
Agora, com a presidente Dilma Rousseff em processo de recuperação perante a opinião pública, uma candidatura dele torna-se prescindível, embora muitos ainda continuem na torcida pelo seu retorno. Mas, dada a sua importância na história do país e do PT, ele sempre vai pairar como uma opção, nem que seja apenas para assustar adversários. Tem no PT um papel de atrair aliados, mover os pauzinhos para assegurar um apoio no primeiro turno, um segundo turno acolá e pacificar a legenda.
Na realidade, Lula se prepara para ser mais um oráculo, procurado por todos aqueles interessados em ouvir suas lições sobre política — e são muitas — do que propriamente concorrer a um mandato de presidente da República. Nem agora nem em 2018. Voltar para quê? Para correr o risco de fazer um governo que não tenha uma avaliação tão boa quanto os outros dois? Afinal, reza o ditado popular, um é pouco, dois é bom, três é demais. Lembram-se ainda da movimentação de muitos para que ele fosse candidato a governador de São Paulo? Pois é, não se passaram dois meses dessas especulações e Lula lançou o nome de Alexandre Padilha.
A atitude dele agora será esta: usar todo o seu prestigio e forca eleitoral para ajudar o PT a construir líderes capazes de cuidar da herança política que ele amealhou ao longo de dois mandatos presidenciais. A ação direta agora é da presidente Dilma, a candidata que concorrerá respondendo não mais pelo governo Lula, mas pelo período em que está à frente das decisões do Palácio do Planalto. E nessa temporada de gestão, as obras do PAC engasgaram, a crise internacional deixou a economia brasileira devagar, quase parando. Partiu-se para o improviso de baixar IPI dos carros e da linha branca (geladeira, fogões). O da linha branca volta a valer parcialmente na semana que vem. As pessoas se endividaram e a resultante de tudo isso em 2014 ainda não é visível a olho nu.
Ainda que o quadro econômico esteja embaçado — e Lula saindo da toca com essa entrevista de hoje ao Correio —, Dilma se recupera perante o eleitorado. Faz gestos de apelo popular, como receber Jeferson Monteiro, autor do perfil Dilma Bolada no Twitter; inaugura obras e, a cada solenidade, o Planalto se enche de pessoas comuns, alvo dos programas governamentais, levadas para acompanhar de perto os resultados e reverberar o assunto em suas comunidades de forma positiva. O PT acredita que o primeiro reflexo da recuperação de Dilma se dará na política. Os novos partidos, por exemplo. O Pros veio com a missão de auxiliar o projeto petista de eleger Dilma. O Solidariedade vai se dividir, mas em alguns locais ficará aliado ao PT. O PSD de Gilberto Kassab já está no governo Dilma e deve se alinhar ainda mais.
Enquanto isso, logo ali na frente…
Se essa recuperação nas pesquisas se consolidar até o fim do ano, a presidente corre apenas um risco na seara política. O de o balaio ficar pequeno para abrigar tanta gente. Todos esses partidos, somados ao PTB, PP, PCdoB e aos grandes PMDB e PT terão muitos candidatos a governador para pouco candidato a presidente. Todos, nessa atual fase de recuperação da popularidade presidencial, sonham em conseguir o apoio de Lula ou de Dilma, ou, pelo menos, a neutralidade na hora da campanha. Ocorre que essa neutralidade não virá. Em São Paulo, por exemplo, Dilma não terá meios de deixar de fazer campanha ao lado de seu atual ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Ainda que leve para o palanque candidatos de outros partidos no primeiro turno, os eventos organizados pelo PT darão destaque, obviamente, ao petista deixando os demais sob risco de vaias dos militantes. É aí que a oposição vai se criar na política. Afinal, se o PT não for generoso e não ceder nem estados nem apoios, pode acabar perdendo parte importante de seus apoiadores. Um, Eduardo Campos, do PSB, abriu esse caminho. Se outros seguirão, o tempo dirá.
Por falar em oposição...
Do rol dos insatisfeitos com o governo petista, muitos tendem a procurar outro oráculo da política, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Engana-se quem pensa que ele está afastado. Tem sido um dos que trabalha pela permanência de José Serra no PSDB, da mesma forma que Lula trabalhou pela manutenção de Eduardo Campos na órbita do governo Dilma. Nestes últimos capítulos da novela das filiações partidárias, criação de partidos e montagem de times para 2014, Serra continua a merecer atenção. Oito em cada 10 políticos afirmam que, se a Rede de Marina Silva não vingar, Serra migrará para o PPS. Até sexta-feira, tudo isso estará resolvido. Aí, será outra história.
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