domingo, setembro 29, 2013

Avanços não implicam relaxar-se diante da Aids - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 29/09

O fantasma da Aids ainda é assustador, no Brasil e no mundo, com índices de contaminação e mortalidade causando flagelos, especialmente nos cantões mais pobres do planeta. Mas o relatório que a Unaids, a agência das Nações Unidas para o combate a essa moléstia, divulgou segunda-feira em Genebra revela que, se a letalidade do HIV ainda não está completamente contida, os países, de modo geral, têm adotado bem-sucedidas políticas de redução de danos. Os indicadores divulgados pelo organismo da ONU mostram que os níveis globais de infecção pelo vírus e de óbitos associados à doença têm caído exponencialmente.

De acordo com a Unaids, há no mundo 35,3 milhões de infectados (no Brasil, até junho de 2012 chegava a 656,7 mil o total de casos registrados). É muita coisa, ainda um perfil de calamidade mais da metade da população da França, pouco menos que o mesmo número de mortos na Segunda Guerra Mundial. Mas, fato consumado, o que a pesquisa da ONU traz de estimulante é a inversão, que parece sem volta, das curvas de mortes provocadas pela doença e de novas notificações. Em 2005, foram registrados em todo o planeta 2,3 milhões de óbitos; ano passado, o número caiu para 1,6 milhão. O registro de novos casos chegou a 2,3 milhões ano passado, 200 mil a menos do que o total notificado em 2011 (ano em que o Brasil chegou a 38,7 mil casos de novas notificações).

A melhora no perfil epidemiológico mundial tem diversas causas uma das mais importantes, o aumento, em 2012, do percentual (20%) de pessoas contaminadas em países pobres e de renda média que entraram na rede de tratamento. Isso representa mais 9,7 milhões de infectados com acesso a terapias antirretrovirais. Outro dado positivo é relativo à infecção de crianças pelo vírus HIV: desde 2001, a queda de contaminação nessa faixa foi de 52%.

A cura da Aids ainda é um sonho que se busca em laboratórios de pesquisas, mas o esforço mundial do qual resultam indicadores de redução de danos como os apresentados pela Unaids mostra que é possível conter a propagação da doença e reduzir seus efeitos de modo a aumentar a expectativa de vida dos pacientes. Para isso, foram importantes iniciativas como o compromisso que os países assumiram com a ONU, em 2001, de adotar políticas positivas de combate à epidemia. Ações como a distribuição em massa de coquetéis de medicamentos (da qual o Brasil foi um dos pioneiros) se somam a essa cruzada, bem como campanhas de prevenção que contribuem para a população evitar comportamentos de risco.

Os dados positivos da recente pesquisa não devem implicar relaxamento na guerra contra a Aids. Tais números devem, antes, reforçar a ideia de que o mundo precisa se manter em guarda para evitar o descontrole dos indicadores de uma doença que, afinal, não tem cura e cujas taxas de mortalidade refletem uma tragédia social.

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