FOLHA DE SP - 29/09
Segundo a Pnad, alta da renda em 2012 foi maior do que indicava o PIBinho; pobreza deve ter caído
A RENDA MÉDIA cresceu entre 6% e 8% em 2012, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a Pnad, a pesquisona quase anual das condições de vida no Brasil, feita pelo IBGE e divulgada na sexta-feira.
Mas 2012 foi o ano do PIBinho, de crescimento de 0,9% da economia e de praticamente zero da renda per capita, certo?
A divergência não é fácil de explicar. No entanto, a satisfação e o consumo dos brasileiros em 2012 parecia mais compatível com os números que a Pnad revela agora. Note-se que, com base nos dados da pesquisa, é possível dizer que a taxa de pobreza deve ter caído bem no ano passado.
Os dados da Pnad, além do mais, são mais coerentes com números tais como o crescimento da renda do trabalho nas maiores cidades, com o aumento do salário mínimo, dos benefícios da Previdência e do Bolsa Família, embora, ainda assim, a renda na Pnad tenha avançado mais rápido.
Em tese, não deveria haver discrepância entre o crescimento da renda per capita (medida pelas Contas Nacionais, as contas do crescimento do PIB) e a da Pnad.
As diferenças ficam menores desde que realizados alguns ajustes e, em particular, se a comparação não é feita ano a ano, mas entre anos afastados (entre 2011 e 2004, por exemplo).
Porém, uma diferença entre um crescimento zero e outro de 7% ou 8% parece muito mais difícil de entender. De resto, a diferença é grande por qualquer conta de variação de rendimentos baseada nos dados da Pnad de 2012 (rendimentos no caso incluem renda do trabalho, de aluguéis, benefícios do governo etc etc).
A renda média dos indivíduos com mais de 15 anos cresceu 7,4% de 2011 para 2012. A dos indivíduos com renda, 5,6%. A renda média dos domicílios, 6,5%. Uma conta baseada nos dados gerais da Pnad indica que o rendimento per capita (de todos os indivíduos) cresceu 8,4%.
Sim, a desigualdade parou de cair, em especial devido ao aumento mais rápido dos brasileiros mais ricos, 1% da população. Mas ninguém na rua vai prestar atenção a centésimos de diferença no índice de Gini (um tipo de medida de desigualdade), ainda mais quando a renda parece ter crescido tanto.
Os dados da Pnad ajudam em parte a explicar parte do apoio ao governo e o alto nível de satisfação com a vida que os brasileiros declaravam até (e mesmo durante) os protestos de junho.
Foi em meados deste ano que os brasileiros descobriram que "eram infelizes e não sabiam". No entanto, parecemos estar mudando paulatinamente de ideia e, enfim, os protestos não se deveram a uma percepção de piora da situação econômica individual, grosso modo.
Isto posto, a economia vai bem? Não, nada bem. Parece contraditório ou espírito de porco dizer tal coisa depois do arrazoado dos parágrafos anteriores. Mas a inflação persistente e o déficit externo (excesso de consumo financiado pelo exterior) indicam que os aumentos recentes de renda não cabem no bolso da economia.
Não vamos (governo, empresas ou famílias) poder continuar a gastar no ritmo em que vínhamos, pelo menos por algum tempo, até arrumarmos a casa. O que no entanto não estamos fazendo --o governo não está fazendo.
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