O GLOBO - 29/09
Educação é o tema mais importante dentre todos os que a sociedade brasileira fez questão de mostrar que a afligem e impacientam
A greve dos professores do Rio é um assunto que deveria estar sendo acompanhado com mais atenção. Educação é o tema mais importante dentre todos os que a sociedade brasileira fez questão de mostrar que a afligem e impacientam. O modo como os professores do Rio vêm sendo tratados pela prefeitura deveria despertar protestos mais audíveis e visíveis. A classe média (e não só a classe média) saiu às ruas muitas vezes recentemente para demonstrar que não está sedada. O clamor por melhoria no tratamento dado à educação, em todos os níveis, foi ponto central dessas movimentações. Que os professores continuem se manifestando, através da greve e de idas em grupo à Câmara dos Vereadores, é sinal de que o essencial do desassossego brasileiro não está amortecido. Levar uma palavra ou um gesto de apoio ao movimento dos profissionais da educação é, neste momento, uma mostra de coerência da parte de quem se mexeu para não deixar tudo como está. Estive viajando e trabalhando muito, por isso não pude ver melhor tudo o que se passa nesse drama. Mas não quero deixar de fazer aqui um aceno em direção os professores grevistas.
Em que pé ficou a CPI dos ônibus? Outro assunto que não se podia deixar morrer. Estive em Montevidéu e Buenos Aires, numa viagem que durou uma semana, com show ao ar livre na primeira das duas cidades, sob uma temperatura que tinha descido, com as chuvas de uma frente fria, de 30 para 8 graus. Os shows foram ótimos, as plateias do Rio da Prata sendo as melhores que se podem imaginar. Mas tudo isso me deixou sem tempo para acompanhar os desdobramentos desses episódios. E com um resfriado renitente que me impede de me mover um pouco mais. Meu amigo Arnaldo Brandão, o grande baixista, cantor e compositor, tinha me trazido um recado de Bia Provasi me convidando para cantar na Cinelândia, em frente à Câmara Municipal, como parte da ocupação do local por manifestantes que exigem limpeza no trato do tema transporte urbano. É assunto incontornável. Mas eu não pude comparecer. A boa viagem ao Cone Sul me tomou toda a energia de que dispunha. Mas sigo interessado em sentir os resultados da chacoalhada que o Brasil deu.
Acima de tudo, me pergunto o que acontecerá com o partido que Marina Silva se esforça para criar. (Enquanto escrevo, chega-me aqui o e-mail de um amigo professor que diz: “Os profissionais da educação tomaram a Câmara dos Vereadores”.) Será impossível para o grupo no poder (o PT de Dilma) evitar a desconfiança provocada pelas complicações legais criadas por cartórios na avaliação das assinaturas para a fundação do partido Rede Sustentabilidade. Muita gente que foi às ruas — e muita gente que não foi mas se sentiu inspirada pelos que foram — declara intenção de voto em Marina. Eu também. Por que tantos partidos são criados e justamente o da mais forte candidata em oposição à reeleição de Dilma se vê embargado? (Acabo de ler que o Ibope mostra larga vantagem de Dilma sobre Marina nas pesquisas. Será que assim os critérios de avaliação das assinaturas se tornarão menos esquisitos?) Li o artigo de Bechara sobre a estranheza das dificuldades apresentadas pelos cartórios à fundação da Rede. Mas o sentido mais profundo de tudo isso aparece com clareza total em outro artigo: o de Demétrio Magnoli. É que ali se discutem os próprios princípios que regem a criação de partidos. Em suma, a elite política fica com o poder de admitir partidos inócuos que possam servir de coadjuvantes de seus interesses, mas uma real liberdade política referente à fundação de agremiações partidárias, nem pensar.
Sou cantor de rádio. Meus modelos são Ângela Maria, Cauby, Nora Ney, Jorge Goulart, Dolores Duran, Maysa. Sou autor de canções. Meus mestres são Ary Barroso, Dorival Caymmi, Assis Valente, Tom Jobim, Carlos Lyra, Dolores Duran, Maysa. Nora Ney e Jorge Goulart eram comunistas. Em Santo Amaro víamos isso como uma prova da superioridade moral e intelectual deles. Dolores foi à URSS com o casal e não gostou do que viu. Jorge defendeu os comunistas das críticas de Dolores. Depois vi gente de teatro e cinema com a exigência de exibir consciência social. Pessoas sérias devem ler o que digo sobre política com um pé atrás. Não errei com a camisa preta. Errei sobre a autoria do filme em que aparece a máscara de Guy Fawkes. (Meu amigo acaba de me enviar link para Ninja sobre profissionais de educação da Câmara.) Quero escrever sobre Maria Rita cantando “Caminho das águas”. E ia escrever hoje menos samba-do-crioulo-doido. Mas não deu. Sigo vendo na Ninja os profissionais da educação em frente à Câmara. Me pareceu ver Rafael com um cocar de índio.
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