O GLOBO - 30/09
A inflação se manteve dentro da meta oficial nos últimos anos, porém perigosamente sempre mais próxima do teto de 6,5% do que do ponto central (4,5%). Nesse patamar, a inflação causa distorções e mantém o sistema econômico sob permanente pressão de reajustes, tanto de preços como de salários.
Na raiz do problema, está a tentativa fracassada de uma mudança de “modelo”, aproveitando-se a crise mundial deflagrada a partir do final de 2008, com o derretimento de Wall Street.
A necessária intervenção do Estado para reduzir ao máximo as forças recessivas vindas de fora se converteu em política de governo, com injeções maciças de dinheiro do Tesouro proveniente de dívida pública nos bancos públicos (BNDES, principalmente, Banco do Brasil e Caixa). Ao mesmo tempo, enquanto o Banco Central cortava os juros, de forma correta, diante da antevisão da crise europeia, insuflou-se o consumo, via medidas creditícias, bem como pela expansão dos gastos públicos em custeio. E ainda favoreceu-se a desvalorização cambial.
Resultado: a economia aqueceu muito (7,5% de crescimento em 2010), superou a capacidade instalada internamente — devido aos anêmicos investimentos —, o consumo “vazou” para o exterior (aumento de importações) e a inflação subiu. Sem falar no crescimento do déficit externo em conta corrente.
Como o governo deixou evidente que seria mais despreocupado com a inflação, os formadores de preço deixaram de se guiar pelo farol dos 4,5% do centro da meta. Com a grande pressão do consumo, as taxas anuais chegaram a superar o teto de 6,5%. E resistem acima dos 5%.
O BC não teve alternativa, então, a não ser voltar a subir com os juros básicos (Selic). Eles chegaram a 7,25%, no fundo do poço, já estão em 9% e deverão subir mais.
A inflação aguda encurta os horizontes dos investidores, poupadores, consumidores. Inviabiliza o planejamento a médio e longo prazos. Derrubá-la, no tempo do descontrole inflacionário, foi muito difícil e por isso não se pode negligenciar no esforço para controlá-la. A estabilidade monetária é uma necessidade, não um fim em si mesmo.
Um ambiente mais favorável à estabilidade monetária dependerá também da correção de desequilíbrios estruturais, que envolvem ações de médio e longo prazo, inclusive reformas que ultrapassam o campo administrativo e precisam de novo arcabouço legal.
Quando há mais contribuição da política fiscal nesse esforço — ou seja, se o déficit público é comprovadamente declinante —, a política monetária (juros) pode ser atenuada. Mas, se tal contribuição é sofrível, como acontece hoje no Brasil, o combate à inflação se concentra na política monetária.
Essa é a razão de o Banco Central ter aumentado os juros básicos nas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária. E é o que os especialistas esperam que ocorra na reunião marcada para outubro. Com a inflação, simplesmente não é possível contemporizar.
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