Todo Carnaval tem um profeta do apocalipse. O deste ano é o sambista Zeca Pagodinho ("Entrevista da 2ª" ): "Não tem mais Carnaval, acabaram com o que é da cultura, roubaram tudo", diz ele. "Não há mais bailes nem enfeites pelas ruas do Rio. [...] Antigamente, o subúrbio era coisa enfeitada. Tinha coreto, baile infantil nos clubes. Também não tem mais clubes. [...] No meu bairro, em Del Castilho, tinham as cornetas. A gente ouvia as músicas de Carnaval. Era um Carnaval. Não tem mais."
Por sorte, Zeca tem para onde se virar: "Vou pra casa de um amigo em Xerém. Levo as crianças. [...] Contrato uma bandinha, enfeito tudo como se fosse o Carnaval antigo, e as crianças se fantasiam: 'Mamãe Eu Quero', 'Índio Quer Apito'. E a Mônica [sua mulher] vai fazer pipoca, cachorro-quente, batata frita. Enfim, o Carnaval. Com confete, serpentina, tudo".
Não quero desapontar o Zeca, mas periga suas crianças irem lá para dentro assistir a desenho animado, enquanto ele come pipoca, toca corneta e brinca em 2013 o Carnaval da sua infância. E ele se complica ao dizer que a televisão deveria passar "não só o Carnaval da avenida [o das escolas], mas o da [avenida] Rio Branco, bloco, as crianças fantasiadas com o pai levando para ver os blocos". Afinal, tem bloco e Carnaval de rua ou não tem?
Deve ter. Neste ano, a Prefeitura do Rio precisou limitar os blocos a cerca de 450 e regulamentar suas cerca de mil saídas pelos próximos dez dias, para evitar os nós no trânsito. O Carnaval de rua da Zona Sul, quase inexistente no tempo do Zeca, é hoje um fenômeno, com muita gente fantasiada. O do Centro já voltou --vide o Bola Preta, que atrai mais de 1 milhão de pessoas-- e o da Zona Norte também começa a lembrar seus grandes dias.
Os dias em que Zeca era jovem e saía à rua para brincar o Carnaval.
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