sexta-feira, fevereiro 08, 2013

A guerra dos cargos - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 08/02

Passadas as eleições municipais e a dos presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e do Senado, Renan Calheiros, a política entra na fase de pagamento das faturas de acordos pré-eleitorais fechados ao longo desses processos. E as pressões estão chegando ao limite. Basta ver o caso da Fundação de Seguridade Social (Geap), que o Correio Braziliense trouxe em sua edição de ontem e apresenta novos ingredientes na reportagem publicada hoje. As informações que chegam até a redação do jornal têm o cheiro de uma gênese parecida com aquela que há oito anos desfraldou a teia do mensalão.

Para você leitor, que lê o jornal na sequência, e ainda não chegou às páginas de economia, onde está publicada essa a reportagem, aqui vai um resumo. Na primeira cena, aparece Paulo Paiva, afastado do cargo de gerente do Geap na Paraíba por suposto envolvimento em má gestão. Seu afastamento foi determinado em 2011, pelo ex-diretor executivo do Geap Carlos Célio, escolhido por indicação técnica do atual secretário-executivo do ministério da Previdência, Carlos Gabas, desde o início do governo Dilma Rousseff.

Coincidentemente com o período eleitoral, e logo depois do acordo eleitoral de Lula com o PP de Paulo Maluf em favor de Fernando Haddad em São Paulo, Paiva retorna ao Geap. Desta vez, para o lugar daquele que havia pedido a sua demissão. Fica ali de agosto a novembro, até que o conselho deliberativo, do qual participa Eloá Cathilor, resolve tirá-lo por considerar os procedimentos administrativos dele incompatíveis com a gestão colegiada adotada no órgão. Eloá vota pelo afastamento.

Agora, é Eloá que o governo deseja substituir porque ela não teria pedido formalmente uma investigação sobre o ex-diretor. Os conselheiros dizem que ela está sendo usada como bode expiatório para que o governo possa removê-la e colocar ali um novo conselheiro capaz de aprovar a demissão do atual diretor-executivo no lugar do atual. Enquanto isso, em conversas com integrantes do Geap, Paulo Paiva tem dito que voltará em breve, porque o substituto do atual diretor a ser indicado pelo PP de Maluf é seu aliado. Chama-se Francisco Saraiva. Diz Paiva que até a presidente Dilma já sabe e concorda. Mas, para isso, é preciso obter maioria no conselho deliberativo.

Esse jogo de intrigas e versões impressiona. Assim como a dificuldade de todos envolvidos no processo serem claros e transparentes quando as perguntas são feitas. E o jeito que todos desconversam quando se pergunta sobre Paulo Paiva, alguém que até hoje não teve pedida uma investigação formal por parte do governo. Tirando isso, é incrível o apetite dos políticos por cargos que concentram grande volume de recursos. Especialmente, esses de terceiro escalão que não costumam chamar a atenção da imprensa.

Por isso, essa história do Geap merece uma lupa. Até porque, se o atual diretor-executivo, Jocelino Francisco Menezes, fez tudo o que foi pedido pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha; apresentou o programa de recuperação; e já conseguiu reduzir a dívida de R$ 400 milhões para R$ 320 milhões, não haveria motivos de ordem técnica para afastá-lo. Mas Jocelino, um sergipano com um jeitão simples, não tem como padrinho o poderoso Maluf. Paiva e seus aliados têm.

Nunca é demais lembrar que o escândalo do mensalão surgiu depois de um acordo eleitoral do PT com o PTB, o PR e o PP. Agora, mais uma vez, na história do Geap, lá está novamente o PP e colado nele um acordo eleitoral. Depois, dizem que a história não se repete. Por enquanto, há apenas um sinal de algo estranho por ali. E quem avisa amigo é.

No mais…

Na Câmara, Henrique Eduardo Alves também tem suas faturas. Assim que passar o carnaval, o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) assume a ouvidoria da Casa. E, ao contrário das agruras que o Executivo tem passado com as indicações políticas, Marquezelli pretende somar no sentido de deixar Henrique ciente de tudo o que se diz do parlamento por aí. Vai começar sugerindo o fim dessa história de gabinete especial para ex-presidente da Casa. Se vingar, Marco Maia será o último a receber esse privilégio. Afinal, se um ex-presidente é um deputado como todos os outros, não há razões para ter gabinete especial. Faz sentido.


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