sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Inflação preocupa BC; Mantega fica - CLAUDIA SAFATLE


VALOR ECONÔMICO - 08/02

Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, entrou em cena, ontem, e elevou em alguns decibéis o tom das preocupações da autoridade monetária com a inflação. "A inflação está resistente e nos preocupa", disse ao Valor PRO, pouco depois da divulgação da alta inflação de janeiro, pelo IBGE, que revelou variação de 0,86% do IPCA.

A trajetória que se apresenta para o índice de preços ao longo do ano não ajudará o BC. O IPCA só deve cair, na taxa acumulada de 12 meses, no segundo semestre do ano.

Assim que tomou conhecimento do índice, o mercado reagiu com o aumento dos juros nos contratos de curto e longo prazos. A mensagem de Tombini, se pretendia domar as taxas futuras que extrapolavam o bom senso, teve efeito contrário.

Ele voltou a agir para impor alguma racionalidade ao mercado e disse ao Valor PRO que "a comunicação da última ata do Copom não foi alterada". Ou seja, continua válido o texto que diz: "O Copom entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta".

A Inflação está no topo das inquietações do BC. O elevado grau de disseminação da alta dos preços torna o problema mais agudo. O índice de difusão, que retrata a parcela dos produtos que tiveram alta no mês, subiu de 70,7% para 75,1% e os núcleos também subiram de dezembro para janeiro. Embora o governo sustente que ela está sob controle, os riscos não são desprezíveis.

O BC garante que a taxa de janeiro não se repetirá. A inflação deste mês deve ser menos da metade da registrada no mês passado e os índices mensais tendem a ficar comportados este ano. Mas a trajetória da inflação acumulada em 12 meses não será nem um pouco "confortável", comentou.

Durante todo o primeiro semestre, a inflação acumulada em 12 meses estará pressionada, superior a 6%, mas não necessariamente vai furar o teto da meta, de 6,5%. "É desafiador", disse ele.

Dilma quer Mantega na Fazenda até o fim do governo, em 2014

Só no segundo semestre é que a inflação de 12 meses começará a recuar. Tombini cita as razões pelas quais confia nesse cenário: a boa safra de grão, que afasta do horizonte um choque de preços dos alimentos como teve o país no ano passado, agravado pela seca americana, que também não deve se repetir; a inflação de serviços vai continuar caindo, ainda que lentamente, e o menor reajuste do salário mínimo vai contribuir para essa desaceleração; e a taxa de câmbio que, em 2012, entre "pico" e "vale" teve uma depreciação de cerca de 24%, este ano ficará mais acomodada. Ou, como avalia o BC, será razoavelmente "neutra".

Somam-se a esses fatores uma expansão do crédito, algo entre 15% e 16%, mais moderada do que nos anos passados, à exceção de 2012; e a base de comparação da inflação do segundo semestre de 2012, que foi bem alta, carregada pela desvalorização da moeda (cerca de 10% no ano) e pelo choques de alimentos.

As expectativas do mercado se deterioram há cinco semanas seguidas, embora a taxas decrescentes. Hoje, as projeções para o IPCA se encontram em 5,68% para o ano.

Nas declarações de ontem, Tombini endureceu o verbo. Mas não está claro se isso será o suficiente para que a inflação de 2013 seja bem menor do que os 5,84% de 2012.

Guido Mantega, desde o fim do ano passado, tornou-se alvo constante de uma bateria de boatos. Ministro da Fazenda desde 2005, ele está no cargo por um fio, segundo especulações das mais diversas origens. O Palácio do Planalto nega que a presidente Dilma Rousseff pretenda substituí-lo. "A determinação da presidente é de mantê-lo no cargo até o fim do governo", assegurou ontem o porta-voz da Presidência, Thomas Trauman, a esta coluna, reiterando a posição de Dilma sobre o assunto. "O ministro da Fazenda é Guido Mantega. Boatos são boatos", completou.

O governo atribui os boatos ao mercado, motivado por interesses contrariados sobretudo com a redução dos juros. Mas há, no aparente silêncio de corredores ministeriais, um julgamento severo da performance de Mantega. A falta de respostas da economia às políticas de incentivo do governo e tantas negativas da Fazenda à demandas dos demais ministros, deixaram Mantega vulnerável.

O ministro da Fazenda, ao longo desses anos, tem se mostrado uma pessoa de "couro duro". Suporta pressões e tem flexibilidade como poucos. Ele é da total confiança de Dilma e ela sempre diz que a política econômica é dela, Mantega é o executor.

Mais do que uma eventual troca de comando da pasta da Fazenda, num futuro imprevisível, a pergunta que se faz no governo é: "Quem o substituiria?". Há quem argumente que o ex-presidente Lula gostaria de indicar o sucessor e que um novo titular teria que ser alguém próximo ao ex-ministro Antônio Palocci. O Palácio nega. Há ministros do PT no governo que poderiam ser uma solução. Mas isso não está em jogo agora.

Mantega fica. 

O Ministério da Fazenda não vê contradição, para o controle da inflação, entre a política monetária frouxa e a nova e expansionista política fiscal do governo, que reduziu o superávit primário este ano em mais R$ 20 bilhões para abrigar novas desonerações de impostos. As novas desonerações serão feitas de forma mais universal, em benefício do consumidor - a exemplo da cesta básica e da energia elétrica - ao contrário dos incentivos setoriais concedidos até agora para determinados segmentos da indústria. Foi uma vitória do secretário-executivo, Nelson Barbosa, que desde o fim de 2011 defendia a queda do superávit para reduzir a carga tributária. 

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