FOLHA DE SP - 18/09
RIO DE JANEIRO – Não entendi. Marcos Valério, principal personagem envolvido no mensalão, segundo uma revista lançada na última semana, atribui a Lula toda a responsabilidade moral e operacional do escândalo, que é realmente um dos maiores de nossa história.
Acontece que ele teve milhões de oportunidades, formais e informais, para revelar tudo o que sabe ou ficou sabendo durante o processo. Inclusive foi ouvido, sob juramento, a pedido do Supremo Tribunal Federal, único lugar onde legalmente devia depor -se houvesse, da parte dele, a intenção de revelar o que sabia, para o bem da Justiça e dele próprio.
A acusação frontal da participação do ex-presidente no escândalo teria como consequência sua inclusão entre os réus do mensalão, que analisaria à luz do direito (e da Constituição) a culpa principal ou secundária de Lula, ou a sua total inocência no tenebroso episódio.
Afinal, o foro legítimo e natural para a acusação de Valério não seria a mídia, mas o tribunal. E, se as coisas se passaram como ele diz, fatalmente haveria testemunhas, provas ou indícios da atuação do ex-presidente nas complicadas operações políticas e financeiras do mensalão.
Revelando ao tribunal os sombrios porões do escândalo, Valério não estaria praticando chantagem. Pelo contrário, estaria colaborando com a Justiça. O recurso que usou -uma entrevista que pode ser contestada, falseada ou acusada de coisa pior- demonstra a fragilidade e a leviandade com que se submeteu ao apelo da mídia.
As declarações de agora em nada servirão para anular ou diminuir as penas que lhe foram aplicadas. A tática de "afundar atirando" não mudará sua situação nem atenuará a sua culpa. Pessoalmente, acredito que Lula tenha tido algum conhecimento da tramoia, mas não que tenha sido o "capo di tutti i capi".
Nenhum comentário:
Postar um comentário