O GLOBO - 10/03/12
Promessas funcionam para eleger, mas são desmascaradas pela realidade
Líderes populistas frequentemente têm sucesso nas urnas com promessas demagógicas a eleitores empobrecidos e desencantados. Porém, mais dia menos dia, a realidade se impõe e eles se veem diante de cidadãos revoltados. É o que acontece em nações sul-americanas que escolheram líderes desse tipo, como a Venezuela de Hugo Chávez, a Bolívia de Evo Morales, o Equador de Rafael Correa e, em alguns aspectos, o Paraguai de Fernando Lugo e a Argentina dos Kirchner.
A questão se torna mais dramática quando se trata de países de menos recursos. Não é o caso da Venezuela, com sua imensa riqueza petrolífera. Ela permitiu a Chávez a construção do "socialismo do século XXI", um projeto baseado no hiperpresidencialismo, no gigantismo estatal, no assistencialismo. E a contrapartida é a dilapidação da riqueza do país, a desorganização da economia, o desabastecimento, inflação de 30% ao ano, desestímulo à iniciativa individual, a corrosão das liberdades democráticas. A reeleição de Chávez se tornou mais difícil com a doença, mas, mesmo são, ele enfrentaria em outubro o pleito mais difícil de seus 13 anos no poder, pois a oposição se uniu e lançou candidato único.
O equatoriano Rafael Correa, discípulo de Chávez, tem um mérito: acabou com o troca-troca de presidentes no país. Só que o modelo chavista adotado é sob medida para se eternizar no poder. Eleito, tomou posse em 2007 e convocou uma assembleia constituinte que promulgou nova constituição, sendo marcadas novas eleições em 2009, ganhas por ele. O mandato vai até 2013 com direito à reeleição até 2017. Mas Correa enfrenta problemas. Arrogante, processou "El Universo", principal jornal do país, seus donos e o editor de opinião por terem publicado um artigo chamando-o de ditador. A Justiça, manejada pelo presidente, acatou sua demanda de prisão para os acusados e multa de US$ 40 milhões. A reação contrária obrigou Correa a "perdoar" os acusados.
Sua aliança nacionalista com os indígenas entrou em crise em 2009, principalmente pela política do governo em relação à mineração e proteção dos recursos naturais, que contraria seu discurso inicial. A principal organização de indígenas realiza uma grande marcha de protesto de 700 quilômetros iniciada quinta-feira na região amazônica do país, devendo chegar a Quito dia 22.
O paraguaio Fernando Lugo prometeu reforma agrária para enfrentar a má distribuição das terras, o que inclui a situação dos brasiguaios - ruralistas brasileiros estabelecidos no país. É óbvio que os interesses envolvidos são mais poderosos que sua promessa, e hoje Lugo enfrenta a revolta dos sem terra paraguaios, que frequentemente invadem propriedades de brasiguaios.
Morales, da Bolívia, tornou-se o primeiro indígena a chefiar um governo no país. Foi eleito com a bênção de Chávez e do então presidente Lula, mas seu projeto populista logo lhe criou problemas. Para cortar gastos públicos, retirou subsídios aos combustíveis, gerando um protesto tão forte que teve de voltar atrás.
São experiências que mostram o caráter pernicioso da prática populista. Ela pode até se sustentar por algum tempo e enganar muitos, mas se torna impraticável a longo prazo.
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