sábado, março 10, 2012

Investimentos estrangeiros - ROBERTO RODRIGUES


FOLHA DE SP - 10/03/12


Tem dinheiro sobrando no mundo à procura de investimentos produtivos; o Brasil tem de ir buscá-lo



De acordo com informações divulgadas na semana passada pelo Banco Central, o total de investimentos estrangeiros na economia brasileira em 2011 foi de US$ 66,6 bilhões, o que representou crescimento de 37,5% em relação ao ano anterior.

O setor de serviços foi o que recebeu mais investimentos, com aumento de 117,6% em relação a 2010.
Em seguida vem a indústria, cujos investimentos estrangeiros cresceram 26,2% de 2010 para 2011.
Aí o setor que mais cresceu foi o da indústria de alimentação, com salto de 78,5%.

A grande surpresa ficou com o setor primário, com queda de 36,7%. Em 2010, os investimentos estrangeiros nesse setor somaram pouco mais de US$ 16 bilhões, ante apenas US$ 10,29 bilhões em 2011.
Isso porque o subsetor extração de minerais metálicos caiu 50,3% e o de extração de petróleo e gás natural, outros 39,7%.

Mas o setor ligado à agricultura, à pecuária e aos serviços relacionados teve aumento de investimentos da ordem de 52,7%, sendo de longe o que mais cresceu, seguido pelo de produção florestal, com 3,3%.
No entanto, o valor absoluto das aplicações nesses dois setores foi inferior a US$ 1 bilhão, insignificante diante dos espetaculares valores alocados nos serviços e na indústria.

A análise desses dados permite constatar a interferência de duas variáveis.

A primeira tem a ver com a demanda por produtos de origem rural. Não é à toa que o setor industrial que mais cresceu foi o de alimentos. Mesmo com os diversos problemas de industrialização enfrentados pelo país, devido às dificuldades cambiais e de concorrência com a China, a área de alimentos avançou bastante. Deve-se à crescente demanda global por alimentos, sobretudo pela melhoria de renda dos países emergentes, como o espetacular salto do nosso mercado interno, por exemplo.

Ainda nessa primeira análise, avulta a enorme diferença dos investimentos na agricultura dentro do setor primário. Enquanto a expansão aí foi de 52,7%, os setores mais fortes (petróleo e mineração) caíram bastante.

E não é só alimento: roupas, calçados, produtos de papel e celulose, frutas e flores são outros setores cuja demanda vem crescendo.

É por isso que a segunda análise é preocupante.

Considerados os valores absolutos dos investimentos realizados em 2011, o dinheiro que veio para o Brasil foi assim dividido: para serviços, 46,3%, para indústria, 38,8%, e para o setor primário, 14,9%.
Por que será? Mesmo sendo o Brasil o país mais admirado pelo mundo em relação à sua agricultura altamente sustentável, mesmo com grandes fundos e investidores globais interessados em vir para cá, por que o setor recebeu tão pouco?

Um fato que contribuiu para isso foi que em agosto em 2010 a AGU proibiu a compra de terras por estrangeiros. Deveria ter impedido a compra de terras por fundos soberanos, além de ratificar as limitações já existentes, como o máximo de 20% da área de um município para empresa estrangeira.
Poderia ter estabelecido regras adicionais para evitar especulação imobiliária, mas, ao assumir tal posição, espantou investidores que viriam produzir aqui, comprando máquinas, sementes e fertilizantes produzidos aqui e, portanto, gerando empregos e renda aqui.

Mas não é somente isso: precisamos melhorar muito a segurança jurídica (nossa política comercial colocou todos os ovos na cesta da imóvel OMC); não resolvemos graves problemas de logística e de infraestrutura. Enfim, há uma série de gargalos que inibem investimentos estrangeiros, e que acabam fazendo com que eles se dirijam a outros países.

Segundo a Unctad, o Brasil foi o quarto país que mais recebeu investimentos estrangeiros em 2011, superando todos os países da zona do euro. E se a avaliação for apenas para novos projetos, sem incluir a aquisição de empresas por multinacionais, só ficamos atrás da China.

Há dinheiro sobrando no mundo atrás de investimentos produtivos: vamos buscá-lo.

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