O Caso Rafinha
MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 26/10/11
Soube do caso Wanessa Camargo x Rafael Bastos pela imprensa escrita. Não havia assistido ao programa CQC em que ele disse “Comeria ela e o bebê”. Li essa frase numa matéria. Num primeiro momento, achei que o cara merecia mesmo o repúdio público.
Então intuí que poderia haver algo de injusto nesse julgamento sumário e entrei no YouTube para assistir à cena que deu origem ao estardalhaço. E, de repente, ficou muito claro: o comentário foi cretino, mas estava totalmente de acordo com o espírito do programa.
Se ele tivesse dito o que disse numa entrevista para o Jornal Nacional ou durante o sermão da missa, teria sido chocante, mas cumprindo seu papel de Rafinha Bastos no CQC, foi mais uma baboseira coerente com a pauta do programa.
O que nos traz ao assunto desta crônica: o contexto.
Fora do contexto, não temos como fazer uma avaliação isenta. As frases ditas por celebridades, destacadas entre aspas em seções de jornais e revistas, recebem quase sempre um grau de importância desproporcional ao contexto em que foram pronunciadas. O que parece uma ofensa era só uma ironia. O que parece definitivo era apenas uma especulação. O que parece uma confissão era uma brincadeira.
Não sei qual é a audiência do CQC, mas sou capaz de apostar que 95% das pessoas que palpitaram sobre a polêmica não assistiram ao programa: souberam através de blogs, sites, redes sociais e matérias de revista. E, como sempre, a frase impressa sobressaiu de forma mais contundente do que deveria.
Não tiro o direito da cantora de se ofender, ainda mais que sabemos que toda mulher grávida se sente sacralizada por sua condição, mas partir para um processo é um exagero evidente.
Como muitos, desprezo esse humor que humilha, que é deselegante, cafajeste, coisa de guri bobo e arrogante. Sinto saudade do humor inteligente de um TV Pirata, por exemplo, que fazia a gente rir sem precisar apelar.
Mas o que eu gosto ou desgosto não importa. O humor do CQC, do Pânico e de outros programas afins é uma tendência mundial que tem milhões de fãs. Rafinha Bastos é um expoente desse humor canalha e está fazendo o trabalho dele. Podemos torcer o nariz? Podemos.
Mas convém levar o contexto em consideração. O caso Wanessa me parece bem menos grave do que a alusão a um comercial de uma empresa de telefonia, em que o humorista comparou Fabio Assunção a um traficante. Porém, pouco se debateu a respeito, até porque o próprio ator não levou tão a sério, e acabou virando notícia de segundo escalão.
Seja a declaração que for, é sempre bom não perder o contexto de vista. Sem isso, corremos o risco de superdimensionar um comentário idiota e relevar os desaforos verdadeiramente sérios que perpetuam preconceitos.
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