domingo, junho 23, 2013

As elétricas e as passeatas - SUELY CALDAS

O ESTADO DE S.PAULO - 23/06

Insatisfação, desencanto, decepção e descrédito são as palavras que melhor explicam o sentimento expresso pelos jovens nas ruas. Rejeitam partidos políticos, sindicatos e a tal sociedade civil organizada, que expulsam das passeatas, arrancam e queimam suas bandeiras. A União Nacional dos Estudantes (UNE) nem ousa aparecer. Seria hostilizada, escorraçada. Hoje ela representa o que mais condenam - o mau uso e desperdício de dinheiro público (no caso da UNE, em benefício próprio) e o apoio a velhos políticos, há décadas encastelados no poder e dele tirando proveito.

As quatro palavras acima têm endereço certo: a classe política dirigente - presidentes, governadores, prefeitos, deputados, senadores, vereadores, juízes. E por mais que ainda sejam difusas as motivações dos protestos, ao gritarem que o País precisa de "hospitais e escolas com padrão Fifa", sintetizam o que querem: aplicação do dinheiro público com justiça social e a abolição de práticas políticas corruptas e irresponsáveis que enriquecem uns poucos e mantêm a população confinada na condição de pagadora de impostos para sustentar os privilegiados políticos dirigentes, seus amigos e aliados.
São muitos os caminhos por onde transitam práticas políticas condenáveis. Aqui tratarei de uma pouco conhecida dos jovens, pois os políticos costumam escondê-la: a má gestão dos organismos de Estado, apoiada no endividamento irresponsável, que atrofia o progresso econômico e penaliza a população com mais impostos e privação de serviços públicos essenciais (saúde, educação, saneamento, segurança).
Na segunda-feira, o diretor de distribuição da Eletrobrás, Marcos Aurélio da Silva, revelou à Agência Estado que aplicará um choque de gestão nas distribuidoras de energia de Amazonas, Alagoas, Piauí, Rondônia, Rio Branco e Acre, empurradas à força para a Eletrobrás depois que os respectivos governadores as destruíram, delas fazendo farto uso político e endividando-as para cobrir gastos de campanha eleitoral. Seus indicadores de perda de energia e qualidade de serviço são, de longe, os piores do País - só ficam à frente da CEA, do Amapá, transformada em caos financeiro pelos políticos locais, entre eles o senador José Sarney. Juntas, as seis somaram prejuízos de R$ 1,33 bilhão em 2012 (33% maior que em 2011) à Eletrobrás, causando perdas gigantes para a estatal na Bovespa e na Bolsa de Nova York. Para modernizar sua operação técnica, a Eletrobrás vai nelas injetar R$ 2 bilhões/ano e o Banco Mundial, mais R$ 1,4 bilhão. Para tentar vendê-las ao capital privado, o governo federal deve antecipar a renovação das concessões, que vencem em 2015 (em 2009 o ex-governador de São Paulo José Serra tentou e não conseguiu o mesmo com a Cesp).
Conclusão: os sucessivos governadores desses Estados passaram décadas retirando dinheiro (chamavam de empréstimos) das distribuidoras para suas campanhas eleitorais, fornecendo energia gratuita a prefeitos em troca de apoio político, não pagavam à Eletronorte pela energia recebida, não investiam nas empresas e tornaram-nas ingovernáveis. Com a intervenção da Eletrobrás, livraram-se das dívidas, mas não perderam a influência política. Seguem nomeando parentes, amigos e aliados para cargos estratégicos nas empresas. Nunca foram punidos. Punida foi a população, com energia ruim, falta de investimento privado, desemprego e péssimos serviços públicos.
Pior do que elas só a CEA, do Amapá, que há dez anos fatura dos consumidores, mas não paga à Eletronorte pela energia que recebe e distribui. A dívida acumulada já soma R$ 1,8 bilhão e a qualidade do serviço consegue ser pior do que das seis distribuidoras da Eletrobrás. Em 2007 a Aneel pediu ao governo federal a cassação da concessão da CEA, mas a influência do senador José Sarney foi mais forte e o ex-presidente Lula ignorou o pedido. Agora o governo do Amapá acaba de receber R$ 2,8 bilhões do BNDES para começar a pagar a dívida. São fatos como esses que jovens indignados nas ruas querem varrer da vida do País.

Juros, eleições instituições - MAILSON DE NOBREGA

REVISTA VEJA 
Em maio passado, o Banco Central (BC) surpreendeu ao elevar a taxa básica de juros (a Selic) em meio ponto porcentual, para 8%. Esperava-se que fosse mantido o ritmo anterior, de 0,25 ponto porcentual. O presidente do BC já emitira sinais de maior rigor para lidar com a alta da inflação, mas não foi levado muito a sério. Culpa da baixa credibilidade da instituição.
A maioria dos especialistas considerou a medida correta, e várias foram as interpretações do fato. Para uns, o BC teria recuperado a autonomia; para outros, teria havido uma reação de sua burocracia ao mandonismo do governo. Ou, ainda, a presidente Dilma teria concordado com o aumento por temer os efeitos eleitorais da aceleração inflacionária.

Tenho argumentos para aliar-me à última interpretação. Falou mais alto a próxima eleição presidencial. O papel do BC, meritório, foi mostrar o risco de piora da inflação e de seus efeitos na renda das famílias e no consumo. O correspondente desgaste da popularidade ameaçaria o projeto de reeleição. A inflação teve a ver com o medíocre resultado do PIB do primeiro trimestre, pois afetou o consumo e mais tarde pode aumentar o desemprego. Viriam novas ameaças à reeleição.

Era hora, pois, de agir. Dilma, que antes se vangloriava de ter baixado os juros, calou-se e autorizou o BC a acelerar a alta da Selic. Provavelmente já sabia que sua popularidade estava em queda, o que depois o Datafolha e o Ibope confirmariam. Isso não quer dizer, porém, que a presidente tenha renunciado à tese da esquerda nos anos 1970 e 1980 segundo a qual é possível vencer a inflação sem custos. Ela chegou a afirmar que o remédio seria aumentar o consumo.

Temos, então, duas boas notícias. Primeira, o país dispõe, caso necessário, de um instrumento eficaz - a taxa de juros - para evitar o descontrole inflacionário. O ideal seria conjugá-lo com cortes no gasto público, mas isso é outra história. Segunda, nossas instituições já permitem detectar e corrigir erros do governo. Utilizo aqui a definição de Douglass North, para quem as instituições são as regras do jogo, formais ou informais. Elas alinham incentivos para a ação do setor privado - assumir riscos, investir e inovar - e impõem restrições à continuidade da má gestão pública.

Nas democracias, as instituições incluem os três poderes, os partidos políticos, as normas, as organizações, as crenças dos cidadãos e, destacadamente, a imprensa livre e independente. Como se diz na ciência política, as instituições podem funcionar como um "alarme de incêndio". Evidenciam riscos para a sociedade - caso da inflação- e induzem a adoção de medidas pertinentes. Se os governantes não reagirem, o voto os punirá.

A inflação voltou a incomodar. Tem destaque nos jornais, nas revistas, na TV, no rádio. O consumidor a sente no bolso. Analistas e a imprensa criticam o uso de artifícios para influenciar os índices de preços, mostrando que as pressões inflacionárias decorrem do excesso de demanda sobre a oferta de bens e serviços. Houve um choque de preços de alimentos, mas a causa maior do problema foram o afrouxamento monetário e a expansão fiscal.

Os oposicionistas viram na inflação a oportunidade de fustigar o governo e rapidamente acharam um mote para a eleição de 2014. O provável candidato do PSDB. Aécio Neves, usou um lema do governo ("País rico é país sem pobreza") para criar outro que enfatiza a inconveniência da alta dos preços ("País rico é país sem inflação"). Outro partido de oposição, o DEM, seguiu o mesmo caminho. Dilma percebeu os riscos e, pragmaticamente, curvou-se ao diagnóstico do BC.

O BC recuperou, ao menos em parte, sua credibilidade e adquiriu força para prosseguir a alta da Selic, mas sua autonomia dificilmente terá sido restabelecida. Se a ameaça ao projeto de reeleição sumir, por certo Dilma voltará à carga. Ela parece entender que tem a prerrogativa de decidir sobre a Selic, ainda que a experiência mundial prove que essa deve ser uma tarefa exclusiva do Banco Central.

As instituições não forjam bons governos nem impedem erros de gestão, mas podem inibir a continuidade de certas práticas e seus maus efeitos. Apesar de tudo, há o que comemorar.

GOSTOSA


As chatonildas - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 23/06

Sou gamada pelos filmes Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol. Ambos, na época, me inspiraram crônicas, e não seria diferente agora com a obra que, acho eu, encerra a trilogia, Antes da Meia-Noite, a maior DR cinematográfica recente. Não tão bom quanto os filmes anteriores, mas bom também, agora o casal protagonista, Jesse e Celine, enfrenta uma crise conjugal clássica.

Qualquer pessoa que tenha vivido uma relação de mais de um ano - vá lá, dois anos - já protagonizou cenas quase idênticas. Somos todos iguais, o que me estarrece, visto que a charmosa Celine, que conquistou aquele guapo no primeiro filme da série e o fez perder o rumo de casa no segundo, se transformou na Maior Chata da História, assim mesmo, com maiúsculas. E o que é pior: essa Maior Chata da História, ai, é meio parecidinha conosco.

Celine pira. Faz perguntas inibidoras para o marido, numa tentativa de encurralá-lo nas próprias palavras. Busca sempre alguma entrelinha por trás do que o coitado do marido ousou falar. Tira conclusões estapafúrdias pela própria cabeça, faz drama por qualquer bobagem, não sabe se vai ou se fica. É o capeta travestido de mulher. Se você já assistiu ao filme, duvido que não tenha se identificado com pelo menos 10 minutos da histrionice da personagem, e estou sendo generosa, poderia tranquilamente falar aqui em identificação de meia-hora - ainda sendo generosa.

Não que os homens sejam santos. Eles azucrinam. São os garotos de 12 anos que não crescem, como admitiu semana passada o David Coimbra, que sabe tudo. Ainda assim, nada justifica nossa aporrinhação. Mulher é bicho tremendamente chato. Umas mais, outras menos. Rogo a Deus que eu esteja entre as menos. Por via das dúvidas, não perguntem aos meus ex.

O que nos absolve (um pouco) é que a intenção é das melhores: só queremos limpar a área, clarear os problemas. Falamos, falamos, falamos, mas no fundo sonhamos com a paz do entendimento. Por isso, não nos cobrem, não nos façam de tolas, não nos sobrecarreguem: entendam que a paciência esgotou, não somos as mães universais, as eternas boazinhas e compreensivas, isso já deu. Mas precisamos transmitir esse nosso “deu” com menos verborragia, concordo.

Pra não terminar essa crônica ressaltando apenas a chatice feminina, destaco uma frase do filme que aponta uma saída. Diz um personagem secundário: “o amor que sentimos por alguém não é o mais importante, o que interessa é o amor que sentimos pela vida”. Sábias palavras. Se o casal concorda que a vida é breve e merece ser apreciada com alegria e generosidade, sem valorização das encrencas, sem perpetuar traumas de infância, sem pensamentos estreitos, sem nenhuma espécie de rigidez, a relação poderá vir a ser um passeio no campo. Ame a vida, e meio caminho andado para um romance leve.

Mas, claro, ajudará muito se nós, gurias, controlarmos a nossa doidice nata.

Hitchcockianos - LUIS VERNANDO VERÍSSIMO

O ESTADÃO - 23/06

Adoravam Hitchcock e passaram a se ver todas as noites

Conheceram-se numa festa e não demorou para descobrirem uma afinidade: os dois adoravam os filmes do Alfred Hitchcock. Divergiam em algumas coisas - ele, por exemplo, achava inverossímil a cena em que a Grace Kelly mata um homem com uma tesourada nas costas, em Disque M Para Matar, ela achava perfeitamente possível. O Hitchcock favorito dela era Um Corpo Que Cai, embora já tivesse visto Janela Indiscreta umas quinhentas vezes. E o Hitchcock favorito dele?

– Os Pássaros. Ela fez uma cara feia.

O encontro seguinte foi numa loja de vídeos. Ele mostrou:

– Olha o que eu achei... Era Notorius. Aquele em que a Ingrid Bergman e o Cary Grant se encontram na Cinelândia e concordam que o Rio é muito chato. Ela mostrou o filme que tinha alugado: Os Pássaros. Iria rever para ver se desta vez gostava.

– Você não é obrigada a gostar porque eu gosto. – Quero lhe dar outra chance - explicou ela, rindo.

No encontro seguinte, ele disse que Notorius tinha envelhecido um pouco. E perguntou o que ela tinha achado dos pássaros.

– Sei não... - disse ela

– Acho que vamos ter que ver juntos - disse ele.

– No seu apartamento ou no meu?

Foi na noite seguinte. Apartamento dela. Ela tinha uma amiga loira chamada Rute, muito parecida com a Kim Novak, que diplomaticamente ficou no seu quarto enquanto eles viam Os Pássaros na sala. Os Pássaros, argumentou ele, é o filme metafísico de Hitchcock.

O único filme de terror na história do cinema que não tem vilões. O vilão é o mundo, é a natureza vingando-se do homem, é uma ordem pré-humana desarrumada que reage ao... Antes de terminar a exegese eles estavam se beijando.

Passaram a se ver quase todas as noites. No apartamento dela, porque a tevê dela era maior. Só viam Hitchcock. Às vezes discutiam.

– Disque M Para Matar é um Hitchcock menor. – O quê?! O quê?!

Passavam alguns dias sem se ver. Aí ele batia na porta dela com uma raridade que encontrara (Sabotagem, por exemplo) e faziam as pazes.

Ela se apaixonou por ele. Que de tanto frequentar o apartamento dela, também se apaixonou. Não por ela, mas pela Rute, sua amiga irresistivelmente hitchcockiana. Foi o que ele tentou explicar (“Eu sou coerente!

Eu sou coerente!)” antes de levar uma tesourada nas costas que não o matou, provando a sua tese, mas acabando com a relação.

Bonito - CAETANO VELOSO

O GLOBO - 23/06

Os recuos — primeiro na repressão e, depois, no preço das tarifas dos ônibus — reafirmam, em vez de desmentir, a falta de inspiração dos governantes


Acabo de chegar a Natal e, ao abrir o Yahoo para ler e-mails, fico sabendo que Dilma não vai ao Japão agora porque as movimentações das ruas brasileiras demandam sua presença. Um amigo me escreve que ela vai reunir-se com os ministros. Outro me reenvia um longo texto em que uma moça de São Paulo mostra-se paranoica com os usos a que o movimento está se prestando: para ela, palavras de ordem “vazias”, tipo “abaixo a corrupção”, revelam um conservadorismo velho conhecido. Pelo que ela diz, a agenda do MPL foi esquecida, afogada no estilo anódino que as manifestações ganharam desde que a mídia decidiu incentivá-las em vez de rechaçá-las, como tinham feito a princípio. Ela descreve aspectos nada anódinos do fenômeno: nota que ninguém agredia o governador Alckmin, enquanto muitos insultavam os nomes de Dilma e Haddad. Diz-se de esquerda e teme um golpe, alertando para o fato de que a embaixadora dos Estados Unidos no Brasil é a mesma que servia no Paraguai quando do “golpe contra Lugo”. Lendo rápido, observo, de cara, que ela nada diz sobre os cartazes de protesto contra a PEC 37. Para não falar de frases como “Meu cu é laico”.

É interessante ler o que ela narra de suas andanças pelas ruas, pontes e estações de metrô de Sampa. E a desconfiança de que as manifestações podem estar sendo roubadas por forças da direita não soa absurda. Mil posturas podem aparecer em meio a essas multidões. E uma saída às ruas de tão grande número de pessoas (e a simpatia da maioria da população por elas) pode produzir efeitos importantes. E isso mais no Brasil (e nos países árabes) do que nos EUA ou na Inglaterra. É o monstro de Gaspari/Juscelino. Até aqui, os governantes imediatamente atingidos reagiram mal. Alckmin e Haddad, num primeiro momento, mostraram fazer a mais errada das avaliações. Os recuos — primeiro na repressão e, depois, no preço das tarifas dos ônibus — reafirmam, em vez de desmentir, a falta de inspiração deles e dos outros que os seguiram. Vimos ruas demagogicamente despoliciadas e rebaixamento dos preços oferecidos como ameaça aos serviços de saúde.

Três outros textos que li (e, tal como o da paulistana, nem sequer pude digerir direito) falam igualmente da domesticação do grande acontecimento pela apenas um pouco tardia conversão da mídia (sobretudo a Rede Globo) a seu favor. Mas esses são textos mais intelectualizados. Neles encontrei, não um esboço de defesa do PT e dos governos “de esquerda” da América Latina, mas um depoimento do transe que foi ser arrastado pela imprevisível mobilidade flexível dos corpos na ruas do Rio. Um dos autores se vê sendo levado até a Alerj, sem que tenha tido tempo de pensar. Toda a sua linguagem exala um apaixonado foucaultianismo, a veraz narração de sua experiência (realmente forte como texto) vem eivada de palavras-chave do pós-estruturalismo francês: o “corpo” nietzscheano retomado por Deleuze e pela “política do corpo”, que ecoa nos livros de Toni Negri. A impressão que dá é de que o autor carioca deslumbra-se por estar vivenciando tudo aquilo que ele amava na literatura desses filósofos. Mas não que isso destrua a força da reavaliação dos atos ditos vândalos, praticados por aqueles encapuzados que vimos na TV, que seu texto sugere. Não. A gente percebe que a violência da destruição direta das ferramentas concretas do poder instituído tem papel propriamente político importante — e não apenas o de ser pretexto arranjado para justificar golpes.

Estamos no meio dessa complexidade fascinante, exaltante e aterradora. Vi os atos violentos em Salvador, direcionados sobretudo ao estádio de futebol. A polícia afastou os manifestantes das imediações da Arena Fonte Nova (que, com meia casa, torcia acaloradamente pelo time da Nigéria), mas no centro da cidade o tema dos gastos com os eventos esportivos dava a tônica. Na véspera, eu tinha assistido àquele passe de Neymar que resultou no segundo gol do Brasil contra o México. Neymar saiu do armário. O drible que ele deu nos adversários antes de passar, com precisão absoluta, a bola para Jô golear, foi tudo o que desejamos que qualquer coisa produzida por brasileiros seja. Com os ânimos divididos, dentro da gente, com relação à preparação do país para a Copa, entre simplesmente apoiar o gesto que esboça demolir os estádios (pelos modos suspeitos como foram erguidos, pela omissão de possível contaminação de áreas a eles adjacentes, pelo, enfim, mero fato de que outras prioridades gritam) e torcer pelo renascimento da grandeza de nosso futebol, o jogo de Neymar ensina que o movimento emaranhado das ruas tem de achar o jeito inspirado de acertar no melhor. Que saibamos chegar ao mais bonito.

É abuso demais - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 23/06

Se no inferno houver metrô, deve ser administrado pela mesma empresa que administra o do Rio


Não sou a favor de vandalismo, mas entendo que as pessoas tenham ido para as ruas protestar contra o aumento das tarifas de transporte coletivo. Não têm que quebrar casas comerciais, agências bancárias, nem muito menos vidraças de igrejas e instituições culturais.

É burrice e põe a opinião pública contra os manifestantes. É baderna, coisa de quem não sabe o que está fazendo. Mas não há dúvida de que o interesse público há muito foi posto de lado.

De São Paulo não posso falar, pois não conheço bem a situação real de lá. Ouço dizer que é péssima; que, nos ônibus, nas horas críticas, não cabem as pessoas, e que levam horas para chegar ao destino, seja para o local de trabalho, seja na volta para casa.

No Rio não é muito diferente. Se na hora de ir para o trabalho é aquele sufoco, já altas horas da noite, quando o número de passageiros é mínimo, os ônibus desaparecem.

As empresas de transporte coletivo não estão nem aí para a população, para servir aos cidadãos. Seu único interesse é ganhar dinheiro, e o povo que se dane. Todo mundo sabe que, se no ponto só estiverem idosos --que não pagam passagem--, os ônibus não param, passam direto. E fazem isso porque o patrão manda e, se não fizerem, sofrem represálias.

E o metrô aqui do Rio? Nunca vi igual. Sei que é caríssimo --dizem que é o mais caro do planeta-- e serve pessimamente aos cidadãos. No mundo, não há nenhum que se lhe compare.

Tenho carro, gosto de dirigir, mas raramente saio com ele, mesmo porque, se vou ao centro da cidade, não há onde estacionar e, quando há, é por um preço que mais vale tomar um táxi e pagar a corrida; sai mais em conta.

Sucede, porém, que uma vez ou outra, se vou para certos lugares, pego o metrô. Idoso não paga, não entra na fila para comprar passagem. Como sou idoso e há uma estação de metrô bem perto de minha casa, me valho dele, melhor dizendo, me valia. Sim, porque não o faço mais. Nunca vi metrô igual. E olhe que viajei nos metrôs de Nova York, Paris, Roma, Berlim, Buenos Aires e Moscou. Ruim como o nosso, ao que eu saiba, não existe outro. Mas isso não é de hoje.

O trem do metrô para no meio do caminho a cada viagem. Nas poucas vezes em que andei nele aconteceu isso. E veja que, como disse, raramente o faço. Mas Maria, minha empregada, que mora perto da Pavuna, anda nele todos os dias e já muitas vezes teve que completar a viagem a pé, caminhando pelos trilhos.

Em que metrô do mundo acontece isso?

E não fica só nisso. Outro dia, como necessitava ir a Ipanema, num local próximo à praça General Osório, decidi tomar o metrô. Como não sou habituado a usá-lo, não sabia que a estação daquela praça estava desativada. Só soube quando, já em viagem, uma voz deu essa informação, e mais: deveríamos todos descer na estação seguinte, para fazer um transbordo.

Como assim, me perguntei, por que não vamos até a estação Corte do Cantagalo, uma antes da General Osório? Seria o lógico, mas não é: descemos na estação Siqueira Campos, passamos para a outra plataforma --por onde trafegam os trens em direção contrária-- e lá ficamos esperando não se sabia o quê.

Bem, depois de muito, veio uma composição vazia, parou, ficou um tempo fechada, abriram-se as portas e nós entramos para irmos até a estação Corte do Cantagalo.

Lá, descemos todos, e aqueles que iam para a General Osório pegariam um ônibus que os levaria até lá. Começou a chover e o ônibus não chegava nunca, tomei um táxi e me safei daquele inferno. Aliás, se no inferno houver metrô, deve ser administrado pela mesma empresa que administra o do Rio de Janeiro.

Ultimamente, ando desapontado com a passividade do povo brasileiro diante desse e de tantos outros abusos, mas as manifestações destas últimas semanas parecem indicar que ele acordou. É o que espero.

Prostitutas felizes - DIANA LICHTENSTEIN CORSO

ZERO HORA - 23/06

Que fantasias estariam realizando as prostitutas que dizem estar satisfeitas com seu trabalho?



Você acredita que prostituir-se pode fazer alguém feliz? Em uma campanha governamental visando combater a discriminação às profissionais do sexo, aparecia a foto de uma mulher com o texto "eu sou feliz sendo prostituta". Frente à reação negativa, principalmente por parte da bancada religiosa, a campanha foi suspensa e o diretor do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis exonerado. De fato, a profissão mais antiga do mundo sempre foi um enigma e um judas a ser malhado.
Recomendo a leitura de um livro: Pagando por Sexo (Ed. Martins Fontes, 2012), que está longe de ser um tratado erudito sobre o assunto. É uma novela gráfica, escrita e desenhada pelo quadrinista canadense Chester Brown. Explicitamente autobiográfica, a obra conta como, após levar um fora da namorada, o autor tornou-se avesso ao romantismo e decidido a não mais sofrer por amor. Para viabilizar isso, sua vida sexual resumiu-se a profissionais do sexo. Em defesa de sua escolha, duramente criticada pelos amigos, argumentava que "as pessoas que precisam de relacionamentos românticos são inseguras, elas precisam que alguém lhes diga que são dignas de amor". Chester teria se libertado dessa necessidade. Ao longo do livro, expõe sua posição de viver alheio ao amor, embora visivelmente dedique-se carinhosamente às prostitutas. Curioso, quis saber sobre cada uma delas, mas em sua peregrinação descobriu muito mais verdades sobre a própria sexualidade. Foi seu jeito.
Nos prostíbulos, a clientela é diferente da horda de safados que se imagina. Entre o público das profissionais há muita gente como Chester, em busca de paz ou de respostas, todo tipo de confusos, fóbicos, tímidos, inseguros, enfim, neuróticos em geral. Para estes e para todos nós, o interesse pela profissão transcende os detalhes pornográficos, disponíveis em qualquer filme barato. O enigma está no sexo sem amor. Mais do que posições e orgasmos, esperamos que o desejo sexual contenha a essência do amor. Ali haveria uma espécie de verdade da carne, das palavras desconfiamos, sabemos que podem mentir. Porém, quando sexo e amor se dissociam, o que ocorre com surpreendente facilidade, já não sabemos em que acreditar. Todas as formas de sexualidade que abalem os clichês românticos nos deixam desamparados.
Na verdade, cada um transa com a própria fantasia. Em vez da idealizada fusão dos corpos, na melhor das hipóteses ocorre o balé das fantasias. Sem elas, não há sexo, ao mesmo tempo em que dá certo medo a ideia de tornar-se objeto da imaginação alheia. Na prostituição, se supõe que estaria em jogo apenas a fantasia do pagante, o outro seria um corpo vazio de conteúdo. Mas quando é dito que alguém pode ser feliz nessa profissão, isso deixa de ser assim: que fantasias estariam realizando as prostitutas que dizem estar satisfeitas com seu trabalho? Então, a clientela, que contrata uma marionete para encenar suas pequenas taras (quem não as tem?), estaria à mercê de profissionais que podem também estar satisfazendo as delas? Isso é inadmissível! Queimem-se os cartazes.


UM BAÚ DE BUGIGANGAS - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 23/06

Em entrevista exclusiva, Silvio Santos diz que a TV Record joga "dinheiro fora", declara que candidatura a presidente em 89 foi "uma desmunhecada" e afirma que não vende horário religioso porque o SBT "é uma casa judaica"

Silvio Santos não dá entrevistas. Diz que tem uma profissão "como outra qualquer", que define como "vendedor de bugiganga". E, portanto, não merece "regalias".

-Por três semanas, Joelmir Tavares tentou furar a barreira. Esperou Silvio na porta do cabeleireiro Jassa, nos Jardins, onde ele arruma os cabelos antes de gravar seu programa dominical. Puxou papo sobre muitos assuntos.

-O dono do SBT acabou respondendo a diversas questões. "Você está gravando?", perguntou, no primeiro dos três encontros. "Pode publicar. Eu não ligo para isso." A primeira conversa foi às 9h da manhã de 4 de junho.


Folha - Nós queremos fazer uma reportagem sobre os 50 anos do programa do sr.
Silvio Santos - Ah, mas eu não faço isso. Não faço matéria, não me preocupo com isso, não. É uma filosofia minha. Não vejo nada de extraordinário na minha profissão. É como outra qualquer, não tem essas fidalguias.

Mas o sr. é mais do que um apresentador.
Não importa.

Segundo pesquisa do Datafolha, o sr. é "a cara de SP".
Eu não vou dizer a você que não. Mas o tratamento que eu gosto que me deem é o mesmo dado a um médico, a um advogado, à pessoa que tem uma profissão comum.

O sr. é um artista.
Não, eu sempre me vi como produto, um produto meu. Sou um bom vendedor. Agora, eu não mereço... Tenho de ter um tratamento como outro vendedor que vende geladeira ou aparelho de TV. Sou um vendedor que usa a eletrônica para vender seus produtos, artistas, programas. Artista é quem dança, canta, sapateia, conta piada.

O sr. faz um pouco disso tudo.
Não, não, não... Isso aí é impressão sua.

O sr. está feliz?
Claro que eu estou feliz. Você acha que eu sendo um vendedor dos meus produtos... Quando você anuncia o artista, está anunciando um produto. Quando anuncia um comercial, é um produto. Tudo é produto. Certo? Se você apresenta bem, tem condições de vendê-lo bem. Para você ter uma ideia, eu acho que eu devo ter batido o recorde de vendagem: 3 milhões de perfumes [da Jequiti] eu revendi agora.

É verdade que a Avon quer comprar a empresa?
Não. Que eu saiba, não.

A Jequiti virou o novo Baú da Felicidade?
Não, virou um negócio. O Baú foram 50 anos, só terminou porque o crediário está muito barato. E, em vez de se pagar, como se pagava, R$ 25 por mês para receber depois, você hoje vai numa Casas Bahia, paga R$ 18, R$ 15 e leva [produtos] para casa. Agora, a Jequiti, se continuar progredindo, ela vai chegar a ser uma boa empresa.

O sr. vai deixar o diretor Guga de Oliveira fazer o filme sobre a sua vida que ele vem preparando?
Não. Eu não vou deixar.

Por quê?
Por que eu não dou entrevista, não concordo com livro sobre mim, com filme? Se nenhum advogado, nenhum médico ou professor é cercado de todas essas... é... regalias, eu também não devo ser.

Pensa em aposentadoria?
Eu, não. Vou ter que me aposentar. Não sei quando.

Se depender do sr., o programa faz 60, 70 anos?
Não, não tem nem condições físicas.

Mas o sr. está bem.
Muito bem. Muito bem. [Sorrindo] Quando você chega aos 82 anos e te falam "muito bem", cuidado, porque com 83 você pode estar no buraco já. Rá-rá-rá.

O sr. sente falta do banco PanAmericano?
Não. Infelizmente, não deu certo.

Dizem que o sr. fez uma jogada de mestre, usou o talento de vendedor para sair do negócio sem prejuízo.
Não, não. Eu ia esperar para poder ver se pagava, mas apareceu uma oferta e eu... [pausa] Vamo' embora! Deixa eu ir embora! Tem 200 pessoas me esperando.


Um novo encontro ocorreu no domingo, 16 de junho, no mesmo local. O repórter se aproximou e mostrou a ele uma foto da filha Patricia Abravanel, apresentadora do SBT, publicada na coluna.

Silvio Santos - A Patricia tá toda hora saindo agora [em fotos de jornais].

Ela diz que é a que mais trabalha no SBT. É verdade?
É, trabalha bem, sim.

A Patricia está sendo preparada para sucedê-lo?
[risos] Ela está indo. Tá melhor do que eu esperava.

Como está a situação financeira do SBT? Está bem?
Claro, muito bem. Dentro daquilo que a gente quer. Nós vamos acompanhando: se o mercado evolui 5%, a gente tenta conseguir 5%. Se dez, é dez. [bate palma] Agora, a Record faz milagre, né? A Record está faturando os tubos.

O SBT retomou o segundo lugar em audiência?
Não. Mas estamos lutando. Tá bom, tá bom. O lugar [no ranking de audiência] é importante, mas a administração [correta da empresa] é melhor. A Record, você vê, está perdendo um dinheirão. Por quê? Porque está administrando mal. Está jogando dinheiro fora [risos]. Jogou fora, não pode ganhar, né? Mas a gente nunca sabe exatamente a situação da Record. Porque lá não tem necessidade de dinheiro.

Mas agora ela está demitindo, cortando programas.
Não sei por que estão demitindo. Isso aí deve ter sido alguma decisão na Igreja [Universal]. Deve estar havendo algum bate-boca na igreja.

O sr. controla tudo no SBT?
Eu não. Eu pago gente para controlar, né?

Por que o sr. não vende horários para igrejas no SBT?
Eu não vendo horário religioso. É contra o meu princípio. Judeu não deve alugar a televisão para os outros. Você não sabe que os judeus perderam tudo quando deixaram outras religiões entrarem em Israel? A história é essa. No dia em que os judeus começaram a deixar que outros deuses fossem homenageados em Israel, os babilônios foram lá e tiraram o templo e jogaram os judeus para fora. O judeu não pode deixar que na casa dele tenha outra religião. É por isso que não deixo nenhuma religião entrar no SBT.

A sua mulher, Íris, e suas filhas são evangélicas.
Mas onde eu mando eu não deixo nenhuma religião entrar. Nós não temos nenhum programa judaico, né? Nem católico nem evangélico nem budista. Nada disso.

Mas então o SBT...
É uma casa judaica.

O sr. está negociando com Gugu Liberato?
Não. Por enquanto, o Gugu não veio nos procurar não.

E a porta está aberta para ele?
Está. Somos uma casa de negócios. Nós não temos esse negócio de saiu, não pode voltar. Todo mundo pode entrar e todo mundo pode sair, dependendo da negociação.

Se ele voltar, será como sócio do programa?
Depende. Se ele topar, ele pode ser sócio. A gente pode fazer um outro acordo qualquer. Contanto que ele ganhe dinheiro e nós ganhemos dinheiro, não tem problema.

O sr. assiste à TV?
Ah, é muito difícil. Eu vejo muito filme. Geralmente vejo documentário, biografia.

O sr. foi candidato a presidente em 1989. Pensa em voltar para a política?
Rá-rá-rá. Aquilo foi um, foi um... Valeu a pena! Rá-rá. Foi um, uma, como é que é, foi uma... Como é que é aquilo? Uma desmunhecada, né? [faz gesto com a mão esquerda] Uma tentativa de fazer alguma coisa. Mas é dificílimo.

Em quem o sr. vai votar para presidente em 2014?
Não sei. Eu acho que a Zil... A Dilma faz um bom governo.
Ela foi vaiada na abertura da Copa das Confederações.
A inflação está aumentando. E está começando uma política para ver se ela baixa um pouco a bola, né?

A popularidade dela caiu.
Mas será que o Lula vai voltar? [entra no carro] Tchau! Eu tenho que trabalhar! Está todo mundo me esperando lá [no estúdio do SBT].

O terceiro e último encontro ocorreu na manhã de terça-feira, 18 de junho. O repórter mostrou reportagem da Folha sobre os protestos em SP.

O sr. viu as manifestações?
Eu vi na televisão. A Folha está lá em casa.

Se fosse jovem, participaria dos protestos?
Não. Eles não têm objetivo, né? Deviam ter um objetivo, deviam pedir alguma coisa. Dizer: "Olha, nós estamos fazendo esse protesto para poder ter uma lei contra os menores de idade [que cometem crimes]". Ou: "Estamos fazendo esse protesto para pelo menos ver se os responsáveis pelo mensalão são punidos". Ah, mas o protesto é sobre tudo. Então não é sobre nada.

É a favor de mudanças na punição de menores?
Eu acho que esse negócio de deixarem os menores fazerem os crimes porque eles são penalizados pelo tempo... Os profissionais contratam eles. Quem matou foi sempre o menor, não foi o bandido.

O sr. percebe uma tentativa da Globo de se popularizar?
Não percebi ainda não. Aconteceu alguma coisa?

Ela estaria buscado uma programação para a classe C.
Eu não percebi ainda. Agora, a Globo sempre foi popular. É a que tem mais audiência. A que tem mais audiência é a mais popular. A Globo é a principal emissora do Brasil. Ganha muito dinheiro. As outras vivem. Rá-rá-rá.

O sr. virou bisavô, de Miguel, que nasceu em maio.
É, é verdade. Com 82 anos!

Mas já estava na hora, não?
Rá-rá. Se não morrer... Rá. Se não morre, vai ser tetravô.

Como ele é?
É... Um naniquinho.

Obrigado pela entrevista.
Eu não sou muito fã desse negócio de sair em jornal, em revista. Mas... [dá de ombros e faz expressão de modéstia] Eu acho que quem deveria ter essas homenagens são médicos, são cientistas. Eles fazem alguma coisa pela humanidade. E alguns artistas que dançam, cantam. Mas apresentador de televisão? Nós não fazemos nada. Nós vendemos bugiganga! Ri-ri.

Anonymous quem? - JULIANA SAYURI

O Estado de S. Paulo - 23/06

Rosto branco, fino e ovalado, bochechas rosadas, cavanhaque estilo cafajeste e bigode debochado, olhos puxadinhos, sobrancelhas arqueadas e um sorriso de Monalisa um tanto cruel e sarcástico. Esse personagem poderia ser eu, poderia ser você, poderia ser a torcida do Corinthians acampada no Zuccotti Park em euforia semelhante à primeira conquista da Libertadores. Você já viu esse rosto. Seria um personagem esquecido, fosse tão identificável quanto um discreto Wally perdido nas coloridas multidões. Ao contrário, porém, tem uma face muitíssimo pop: Guy Fawkes (1570-1606).

E Fawkes marcou presença no Brasil nesses dias, em duas vertentes. Por um lado, a máscara do soldado inglês catapultada pelo hollywoodiano V de Vingança (2006) estrelou um punhado de fotografias no Facebook, no Instagram e na imprensa, durante as diversas agitações sociais efervescentes no País. Estava diluído entre os manifestantes na rua. Na segunda-feira, uma manifestação histórica. Na quinta, uma festa estranha com gente esquisita. Uns com balaclavas coloridas, outros com lenços palestinos forjados na Bolívia, muitos com o rosto à mostra (e às vezes a tapa). Também estavam presentes uns que se querem os novos caras-pintadas, com guache verde e amarelo feito blush nas maçãs, e outros que, fanfarrões, brandiam cartazes com os dizeres V de Vinagre, uma referência ao "subversivo" ácido acético proibido na manifestação paulistana do Movimento Passe Livre na semana passada. Mas, cara-pálida, uma figurinha realmente carimbada nas últimas manifestações foi "V". No Rio, a máscara de feições sinistras custava R$ 20 na semana passada - agora, o hit tem preço promocional de R$ 10. Há até uma versão tupiniquim, com o rosto pincelado na cor amarelo ovo. Na terça-feira, ambulantes paulistanos venderam 500 máscaras a R$ 10, valor tabelado, dizem, em questão de minutos. Item versátil, encaixou-se nas diversas e difusas causas mostradas pelos cartazes de jovens e não tão jovens brasileiros que desfilaram em várias capitais. Tão eclético o acessório que até gente fina, elegante e sincera - alô, chics - aderiu ao disfarce fashion feito de plástico. Fawkes é o novo Che?

Por outro lado, "V" tem outra faceta fora do "mundo real". Vestindo o mesmo disfarce pop, pipocou na terça-feira uma inusitada mensagem do Anonymous Brasil. São os hackativistas - sonoro neologismo para "hacker + ativista", não consta no Houaiss mas pode confiar que a expressão existe - que invadiram o Instagram da presidente e o Twitter de uma poderosa revista dias atrás. Diz o início da mensagem de 1 minuto e 45 segundos postado no YouTube: "Seremos simples e diretos. As mídias de rádio e TV dizem que não temos uma causa específica. Isso pode enfraquecer o movimento. Só a diminuição do valor das passagens de transportes públicos não nos satisfazem, mas realmente temos que saber por onde começar um novo Brasil", com música de suspense ao fundo, tom azulado nas imagens trepidantes e voz grossa digitalmente alterada, tal qual os discursos do movimento propagados em outros idiomas. Desta vez, os mascarados brasileiros pretendem pautar cinco metas específicas para as novas manifestações:

"1º. Não à PEC 37; 2º. Saída imediata de Renan Calheiros da presidência do Congresso Nacional; 3º. Imediata investigação e punição de irregularidades nas obras da Copa do Mundo, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal; 4º. Queremos uma lei que torne corrupção no Congresso crime hediondo; 5º. Fim do foro privilegiado, pois ele é um ultraje ao Artigo 5º da nossa Constituição".

Wish list política à parte, o mesmo semblante do Anonymous no Brasil e no mundo, Guy Fawkes, já é um símbolo - para não dizer um clichê - de diversos movimentos. Do outono americano no Occupy Wall Street aos levantes da Primavera Árabe, o herói folk do século 17 se tornou um ícone para esses movimentos "horizontais" e sem líderes. Em Londres, em 2011, Julian Assange também vestiu a máscara por uns minutos - mas a polícia mui gentilmente pediu para que o fundador do WikiLeaks a retirasse, pois a lei britânica não permite "anonimato público". Em Istambul e Paris, em 2013, batata: lá estavam as benditas vendettas mais uma vez.

Muitas máscaras foram feitas desde que a HQ inglesa V for Vendetta, assinada pelo escritor Alan Moore e pelo ilustrador David Lloyd na década de 1980, ganhou uma versão cinematográfica em 2006 pela Warner Brothers (aliás, The New York Times alertou aos rebeldes que, durante as convulsões sociais nos idos de 2011, as máscaras pretensamente anarquistas, made in China e no México, contribuíram parcialmente para o lucro de US$ 28 bilhões da gigante americana Time Warner, que detém os direitos da ilustração), mas foram os hackers do Anonymous que lhe deram destaque internacional, com protestos por volta de 2008. De lá para cá, o símbolo fez sucesso nas diversas manifestações sociais mundo afora e também noutras arenas menos politizadas em diferentes hemisférios, como Halloween e Rock in Rio. E, no último baile dos mascarados brasileiros, todo mundo quis tirar sua casquinha com as manifestações.


Mas Guy Fawkes, o rosto por atrás da misteriosa máscara, você deve se lembrar, tem uma história controversa. Foi o soldado católico que tentou explodir o Parlamento britânico no dia 5 de novembro de 1605, na tal Conspiração da Pólvora. A ideia era derrubar o rei protestante, os parlamentares e a nobreza do chá das 5. Expert em explosivos, o soldado de 35 anos era o responsável pelos 36 barris de pólvora. Mas o complô católico vazou, o golpe fracassou e Fawkes, acusado de traição, preso e torturado, se suicidou para escapar da "forca" - na verdade, condenados à morte, Fawkes e os outros conspiradores seriam estripados, esquartejados e depois decapitados, quer dizer, uma baita tranquilidade na hora de descansar em paz.

Da pólvora ao vinagre, o símbolo de Guy Fawkes continua zanzando por aí, na rua e na internet. Uns gostam do pop appeal. Outros preferem mostrar a cara limpa, que máscara o quê, quem precisa se esconder, etc. Atualmente, diferentes ideias e imagens se incorporam a essa moderna personalidade anônima: anarquistas, anti-heróis, baderneiros, justiceiros, rebeldes, revolucionários, terroristas, Deus e o diabo. Não é possível definir quem são e onde estão, mas dá para dizer que andam incomodando muito gente.

Nos próximos dias, o Anonymous Brasil pretende liderar manifestações em prol das tais cinco causas. Na noite de quinta-feira, a página do movimento foi derrubada no Facebook, desaparecendo sem deixar rastros. Em resposta ao sumiço misterioso, um dos anônimos criticou a possível censura. E esclareceu para confundir: "Não somos uma organização. Sou você. Sou fake. Sou real. Somos todos. Não somos ninguém. Somos uma ideia".

Neymar! O Gigante Acordou! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 23/06

A Casa da Moeda devia fazer uma moeda comemorativa de 20 centavos! E no verso uma garrafinha de vinagre!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Primavera do Vinagre! Os R$ 0,20 mais caros da história do Brasil!

E o novo comercial da Caixa: "Gente, o Dudu tá lendo". Rarará.

E em terra de gás lacrimogêneo quem tem vinagre é rei!

Olha esse cartaz: "Liberté! Égalité! Fraternité! Vinagrê!". E esse: "Não gosto de bala de borracha. Joga um Halls". Viva o Humor! Não se muda o Brasil com rancor!

E um leitor mandou perguntar pra Dilma: "A Copa é a herança maldita do Lula?".

E o chargista Duke: "Os governos estão confundindo Padrão Fifa' com Patrão Fifa'". E fazem tudo que ela manda! O perímetro da Fifa nos estádios é mais protegido que o Congresso!

E o Neymar? O Neymar passou 24 horas em Barcelona e voltou assim? O Gigante Acordou! O Neymar agora é assim: entra em campo, dois minutos e Goooool! Sofre de ejaculação precoce! Rarará.

E como diz uma amiga minha: "Não é pelos R$ 0,20. É pela bunda do Hulk!". E como disse um outro: "Não é pelos R$ 0,20! É pelos R$ 500 mil que o Valdivia ganha e não joga".

E eu já fui a três manifestações! E todos os partidos políticos dançaram! TODOS! E todos os candidatos pra 2014 já eram. Todos! E pra que político se a gente tem Twitter e Facebook? Rarará!

E a Casa da Moeda devia fabricar uma moeda comemorativa de vinte centavos! E no verso uma garrafinha de vinagre!

E adorei a mancada da Globo News cobrindo uma manifestação e na tela os caracteres: "Tesão em São Gonçalo". Oba! É protesto ou suruba? Rarará!

E o Infeliciano? O Infeliciano vai lançar bombas de efeito moral que curam gays!

E esse cartaz, recado do armário pro Feliciano: "Feliciano, meu fiofó é laico". E tem cura pra evangélico insano?

E uma amiga minha teóloga quer ensinar o Feliciano a ler a Bíblia! Rarará! É mole? É mole mas sobe!

E pro jogo Brasil x Itália, no Mineirão, o governador Anastasia pediu reforço da Força Nacional. E a Dilma mandou. Ouviu a voz das ruas e mandou a Força Nacional pra ouvir mais de perto! Rarará! Rarará.

Nóis sofre mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A chave é pressionar - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 23/06

O Brasil mostrou, novamente, sua melhor qualidade coletiva, a marcação por pressão, que cria mais chances de gol, por tomar a bola no campo do rival, quando a defesa está desprotegida, e que dificulta o outro time a se organizar, trocar passes e chegar ao gol.

Se a Copa fosse fora do país, o Brasil, mesmo se quisesse, não conseguiria fazer tão bem essa marcação. Felipão sabe disso e tem aproveitado muito essa situação. Se outras equipes, até as medianas, como México e Uruguai, inferiores ao Brasil, atuassem em casa, fariam o mesmo e teriam mais chances.

A deficiência coletiva continua a mesma. Os dois volantes não se misturam com os três meias. Como a equipe toma muito a bola no campo do adversário, os meias e atacantes não precisam da passagem da bola, desde o campo de defesa.

Quando o Brasil faz um gol e deixa de pressionar --não dá também para fazer isso durante toda a partida--, permite a pressão do adversário, como fez a Itália, em vários momentos, não sabe cadenciar o jogo e ficar com a bola.

A Itália, que estava sem os dois grandes jogadores de meio-campo, Pirlo e De Rossi, ficou, logo no início, sem seu terceiro bom armador, Montolivo. Isso prejudicou muito o time italiano.

A arbitragem errou em vários gols. No primeiro, de Dante, havia impedimento. No segundo, não houve falta em Neymar. No gol da Itália, o árbitro marcou pênalti e o jogador italiano fez o gol.

Se o árbitro tivesse marcado o pênalti, o que seria o correto, Luiz Gustavo, que já tinha cartão amarelo, teria de ser expulso, o que provavelmente seria muito pior para o Brasil.

Sofreria um gol e ficaria com um jogador a menos.

O Brasil jogou melhor do que a Itália, mas os erros do árbitro foram decisivos para a vitória. Fred, além dos gols, se movimentou muito mais que nos jogos anteriores.

O time continua bem, definido na maneira de jogar, organizado, mesmo com algumas deficiências, e com uma enorme vontade de ganhar a Copa das Confederações.

FORÇA DO INCONSCIENTE

Se não houver uma grandíssima surpresa, o Brasil vai enfrentar o Uruguai, e a Itália, a Espanha.

Poucas seleções têm três bons jogadores na frente, como Suárez, Cavani e Forlán. Em compensação, o Uruguai tem graves deficiências. Após as vitórias sobre Venezuela, nas eliminatórias, e Nigéria, na Copa das Confederações, o Uruguai pode crescer. Há um temor e um respeito pela raça uruguaia. A imagem de Obdulio Varela, símbolo da raça, campeão do mundo em 1950, no Maracanazo, ainda brilha no inconsciente de todo os jogadores uruguaios.

Mau senso - PEDRO ROCHA DE OLIVEIRA

O Estado de S. Paulo - 23/06

Depois de quase duas décadas de marasmo, em meio à crise econômica, à onda internacional de protestos e às truculências simbólicas e concretas necessárias para adequar o País aos jogos internacionais, a juventude brasileira começou a se mexer. Nesse contexto, o descontentamento usual está produzindo forças não usuais, e essas forças estão se exprimindo. O tamanho delas surpreende, dá gosto de ver. A apreensão do sentido desse movimento enquanto ele está começando é, obviamente, muito difícil. Não obstante, vale a pena dialogar com alguns dos temas recorrentes que vêm povoando aquela apreensão - em especial, o tema da violência.

Ao refletir sobre os protestos no Brasil e no mundo, a "opinião pública" internacionalmente homogeneizada trabalha muito com a oposição "protesto pacífico x protesto violento". Fala-se em excessos por parte tanto da polícia quanto dos manifestantes. Joga-se com um dos mais primitivos e arraigados princípios da moralidade, a ideia de troca justa: manifestantes violentos merecem repressão violenta da polícia, e a polícia às vezes ganha um puxão de orelha se bate na cara em vez de bater nas costas. Trata-se de abalos na comensurabilidade entre quantidades de violência, mas o bom senso moral emprega a equivalência para resolver qualquer problema ético ou político. Fala-se de quantidades de violência como se diz que os lucros das empresas de ônibus talvez sejam grandes demais, ou que a corrupção alcançou níveis intoleráveis (a bizarra disputa discursiva que vem sendo empreendida para atribuir sentido aos protestos passa muito por aí).

Implicitamente, esse bom senso moral projeta a imagem clássica, batida e facilmente reconhecível de uma sociedade definida pelos atributos do equilíbrio e da ordem. Tais elementos teimam em marcar a consciência social na sociedade burguesa mesmo no período tardio em que já não a descrevem (se é que já o fizeram). Hoje, a violência é uma realidade presente, inconteste, inevitável, da qual ninguém pode realmente se manter higienicamente afastado, que ao mesmo tempo foi cientificamente desenvolvida pelo Estado e pelas corporações até chegar a níveis incomensuráveis com as capacidades dos meros mortais. Os lucros são todos indevidos, porque dependem de exclusão socioeconômica brutal, submissão da vida a procedimentos empresariais e relativização da viabilidade ecológica. A reivindicação política não pode mais apelar à consciência moral dos governantes porque as pressões do processo econômico transformaram o governo na aplicação de uma técnica administrativa independente de valores. O direito só pode ser encarado pelos governados com o mesmo cinismo arbitrário e instrumental com que é institucionalmente mantido. E todos esses elementos, que às vezes são associados à precariedade brasileira (turca, egípcia, etc.), não podem ser realmente vistos como exceção subcivilizada, mas ou bem como exemplo - uma "vanguarda do atraso" global - ou bem como herança da sinistra ciência da dominação que o Ocidente vem desenvolvendo ciosamente desde o advento da Gestapo e rende frutos, nos países centrais, sob a forma das execuções a distância pelos drones da CIA, ou dos policiais antiprotesto britânicos especializados em quebrar dedões.

No entanto, na hora de pensar os eventos em que a tessitura social fica amassada, se não rasgada, a consciência social não só rejeita os amassos do real como mau gosto, mas torna-se insensível a eles. Consequentemente, parte significativa da classe média que agora se sente empurrada para as ruas, ou que assiste a tudo com interesse, apreende com repugnância o horror das incomuns violências perpetradas contras os brancos nas manifestações - violências hediondas, e inéditas entre nós desde a ditadura -, mas não está preparada para reconhecer a violência sistemática que marca a experiência social dos pobres de outras cores e sustenta o que ela chama de vida normal.

É assim que, no Rio, o corte étnico-social dos 100 mil manifestantes do dia 17 de junho não destoou muito daquele que resulta da segregação usual que mantém os pobres longe do centro da cidade depois do horário do expediente. Nessa cidade, o controle territorial armado é ferramenta de gestão pública. Recentemente, o Jacarezinho - favela da Zona Norte do Rio e um dos menores IDHs da cidade - se levantou contra a UPP local. O significado desse evento não é pequeno, mas a "opinião pública" lhe deu pouca atenção. Nas cenas registradas do ocorrido por Patrick Granja e Guilherme Chalita do blog Nova Democracia, não há nenhum lugar para o juízo moralizante que domina a apreensão dos eventos de violência policial recentes. Ali, como tem ocorrido em tantas favelas submetidas ao regime de ocupação policial-militar, moradores reagiram à violência da abordagem e revista incessante, os agentes da segurança pública revidaram e acabaram encurralados em um beco, atirando contra uma multidão enraivecida e matando um garoto que comia num bar e ficou estendido no chão no meio de uma poça de sangue com o cachorro-quente do lado da mão. Consultado sobre o ocorrido, o diagnóstico do comandante da UPP, conforme matéria do jornal O Dia de abril, foi que a população tem que se acostumar com as abordagens constantes da polícia, que está ali para aquilo mesmo. Ou seja: no Jacarezinho, a violência policial é onipresente e normal.

Trata-se de lançar luz sobre algo óbvio: quando o Poder Executivo bate, tortura, mata durante o processo de "pacificação" ou "combate ao crime organizado" nas favelas e periferias - e ele faz isso sistematicamente -, a maior parte da grande mídia, a opinião pública e o bom senso moral passam batido, descontando a pimenta nos olhos dos outros como efeito colateral necessário para manter a ordem que tanto preza. É assim que, falando da atuação policial, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, recentemente aplaudido pela população de bem ao passear em público, disse à imprensa que "mesmo morrendo crianças, não há outra alternativa. Esse é o caminho". Os teimosos de sempre postaram algo na internet, mas ninguém foi para as ruas, embora os princípios formais que regem a democracia ocidental estivessem em jogo nessa fala.

Ao contrário do que acontece com a violência policial exercida no centro, e contra gente branca, a opinião pública está preparada para encarar a repressão, acossamento, segregação, criminalização e brutalização sistemática dos pobres no morro e na periferia como coisa tão natural quanto a pobreza, o que já é uma violência danada. Esse bom senso moral saudou as invasões policiais como o "restabelecimento do Estado de Direito". Mas, se na favela ocupada a violência não é exceção, mas regra, tal violência não pode ser separada de um funcionamento social normal, de modo que o Estado de Direito foi para as cucuias. Se a normalidade é violenta, não há sustentação para a oposição entre violência devida e indevida. Sob ocupação policial constante, não há instituições justas e injustas, só a opressão explícita.

Isso significa que os princípios da equivalência e do bom senso moral não regem a experiência social dos pobres. O processo histórico do capitalismo fez com que o clamor pela justiça tradicional coincida com as fronteiras da segregação socioeconômica e espacial das cidades contemporâneas. O que não se deixa segregar é a violência: a polícia, dando tiro na cara dos brancos, promove um tipo de "igualdade e fraternidade", bem adequado à forma social contemporânea. Ela "democraticamente" aplica no centro a mesma truculência que foi treinada para usar há décadas na periferia e no morro, com consequências que vão desde os sigilosos altos índices de suicídio entre policiais até a costumeira invulnerabilidade legal que os protege de responderem pelos "excessos" calculados que lhes são exigidos pelos capos do Executivo.

Assim, a violência policial nos eventos de manifestação popular da classe média pode ironicamente devolver à experiência social o sentido de totalidade que o Estado policialesco trabalha para dissolver mantendo os pobres em seu devido lugar. Mas isso só vai acontecer se a apreensão desses eventos romper com os limites do campo de visão da classe média. Imaginemos o que aconteceria se, num belo (belíssimo) dia, milhares de pretos descessem dos morros cariocas para, também, tomar conta da Av. Rio Branco. Nenhuma medida de truculência policial seria, então, capaz de comover a já seletiva opinião pública, que hoje não hesita em acusar de colaboração com o "tráfico de drogas" os pobres que se levantam contra as UPPs.

Aliás, vale notar que, dada a existência das UPPs, dificilmente a marcha da massa favelada morro abaixo poderia ser empreendida por manifestantes "pacíficos"...

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 23/06

Salários crescem, mas indústria segue estagnada

A produtividade da indústria de transformação cresceu apenas 1,1% entre 2001 e 2012, segundo uma pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Já o salário médio dos trabalhadores subiu 169%, em dólares, no mesmo período.

"É uma grande preocupação para o setor, pois o aumento dos pagamentos significa mais custos", diz Flávio Castelo Branco, gerente-executivo da CNI.

"Se não há aumento correspondente de produtividade, há perda de competitividade e prejuízo."

Em 2010, a indústria chegou a ter um aumento de produtividade de 6,1% em relação a 2001. Mas, em 2011, os números começaram a cair.

Na opinião de Castelo Branco, o baixo volume de investimentos no país e as oscilações da economia causaram essa estagnação.

"As contratações mais recentes são de trabalhadores com menos qualificação. Isso também reflete na produção da indústria."

A meta da entidade é que a taxa de crescimento médio anual da produtividade passe dos atuais 2,3% ao ano para 4,5% até 2022.

Para atingir o objetivo, as empresas precisam pensar em novas estratégias de produção e gestão, avalia o gerente-executivo. Também é necessário inovar nos produtos, segundo ele.

Castelo Branco diz, porém, que há baixo estímulo para investidores no atual cenário do mercado brasileiro.

"É preciso eliminar alguns entraves, como o sistema tributário anacrônico. Há burocracia em excesso, o que dificulta os grandes investimentos."

efeito colateral

A Marcopolo, fabricante de carrocerias de ônibus, viu diminuir nos últimos anos o volume de transações internacionais. O resultado foi consequência da diferença de crescimento da produtividade e dos salários no país.

"Não conseguimos repassar aos mercados estrangeiros o diferencial de custo que tivemos com o aumento dos salários dos funcionários", afirma José Rubens de La Rosa, diretor-geral da empresa.

Ele diz que o setor industrial sentiu duramente os efeitos dos pagamentos mais elevados. "Imagine uma empresa que está no mercado de exportação ter seu custo aumentado em 169%."

A alta valorização cambial nos últimos dez anos também afetou negativamente as indústrias, afirma.

De La Rosa reforça o coro de empresários brasileiros que pedem diminuição no custo da mão de obra.

"O governo tem tentado diminuir esse ônus através das desonerações da folha de pagamento, mas ainda há um dificuldade implícita por causa do aumento dos salários", diz o diretor-geral.

Nos últimos dez anos, a Marcopolo apostou em novas técnicas de gestão e manufatura com o objetivo de aumentar a produtividade.

"Conseguimos fabricar mais veículos na mesma quantidade de horas aplicadas, pois investimos na automação do trabalho."

Sem escalas 
A companhia Azul terá voos diários do aeroporto de Confins (MG) a Altamira (PA), onde é construída a usina de Belo Monte.

Porco japonês 
O governo de Santa Catarina assinará amanhã um acordo em Tóquio para exportações de carne suína catarinense.

Futebol de ouro
Entre as 40 transferências mais caras de jogadores de futebol, 8 são de brasileiros, segundo levantamento da Pluri Consultoria.

É, porém, o português Cristiano Ronaldo quem lidera a lista. Ele foi comprado do Manchester United pelo Real Madrid por € 94 milhões.

O primeiro brasileiro a aparecer é Kaká, que ocupa a quarta posição, com transação de € 65 milhões.

Neymar, transferido para o Barcelona neste ano por € 57 milhões, está em 8º lugar no ranking.

"Na virada dos anos 90 para 2000, havia concentração das transferências para os clubes italianos. Hoje, notamos que são os espanhóis, como o Real Madrid", diz Fernando Ferreira, diretor da consultoria.

Muitas das transações chegam a até 30% acima do valor de mercado do atleta, como forma de atrair o jogador para times que não estão com prestígio em campo, afirma.

"Quando as equipes conseguem crescer no futebol, diminui a quantidade de transações tão elevadas."

PROIBIDO FUMAR NO SOFÁ
Uma grande companhia do setor imobiliário americano decidiu impedir os inquilinos de fumar nas suas mais de 40 mil unidades residenciais a partir deste mês.

A medida da Related Companies, que será implantada progressivamente, não é única no setor, mas é vista como a primeira iniciativa privada com dimensão tão ampla, pois abrange 17 Estados.

Quem assinar novos contratos pode até ser expulso do imóvel em caso de descumprimento. Antigos moradores só entrarão no novo regulamento quando tiverem de renovar os contratos.

Sob críticas de condôminos e observações de especialistas a respeito da dificuldade em efetuar despejos por tal motivo, a empresa justifica que quer promover "saúde e qualidade de vida".

Em Nova York, na esteira antitabagista do prefeito Michael Bloomberg, é vetado o fumo em ambientes públicos, tanto fechados como em praças, parques e praias. Ele apresentou agora proposta para elevar a idade mínima para a compra de cigarro.

PROTESTOS NOS CARTÓRIOS
O mês de maio registrou uma queda de 21,6% no número de títulos protestados na capital paulista ante o mesmo mês de 2012, segundo o Instituto de Estudos de Protesto de Títulos.

DEBATE ATÔMICO
A geração de energia nuclear volta a entrar na pauta de discussão do setor com dois eventos programados para os próximos dias.

Na terça-feira, a comissão de meio ambiente da Câmara dos Deputados promove audiência pública para debater a criação de uma agência reguladora do setor nuclear.

Devem participar representantes do governo federal e de grupos pró e contra essa forma de geração.

A partir de quinta-feira, executivos e autoridades de 83 países, inclusive do Brasil, vão se reunir em uma conferência sobre o tema em São Petersburgo, na Rússia.

O evento será promovido até o dia 29 pela Agência Internacional de Energia Atômica e organizado pela estatal russa Rosatom. A empresa já demonstrou interesse no mercado brasileiro.

Alimentos pressionam inflação e crescimento - JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS

O ESTADÃO - 23/06

O baixo crescimento do início deste ano resultou, essencialmente, da aceleração da inflação de alimentos. Tomando abril como referência, esses preços subiram numa base anual entre 14% e 19% nas principais capitais brasileiras e em todas as regiões.

Esta elevação decorreu da quebra da safra global de grãos do ano passado, da explosão dos custos de transporte, de custos de materiais, mão de obra e, finalmente, do resultado de uma grande seca que até hoje afeta a região Nordeste do Brasil. A redução dos impostos da cesta básica implicou numa queda muito modesta, e única, da alimentação.

O efeito deste fenômeno nos orçamentos familiares foi devastador. Simplesmente, o consumo de outros bens foi comprimido,levando ao fraco crescimento do comércio e a uma expansão próxima de zero do consumo, como se viu no cálculo do PIB do primeiro trimestre. Tenho convicção de que parte da explosão de críticas que atualmente vai para as ruas decorre da compressão do consumo, mesmo com o desemprego em nível baixo.

Como as exportações estão muito fracas e as importações fortes, o comércio exterior também derrubou parte do crescimento. Finalmente, os investimentos seguem fracos. Tirando o efeito da grande safra agrícola, que elevou a demanda por tratores, colhedeiras e caminhões, o resto está fraco, como atestam os dados e declarações da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

Com isto, consolidou-se, antes da decisão do Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) e do início das passeatas, a percepção de que o crescimento do PIB deste ano será modesto (2,5%) e que a inflação seguirá próxima ao topo da meta. Naturalmente, após essas duas semanas de volatilidade e incerteza, o crescimento sairá ainda mais prejudicado.

Pressão. Entretanto, antes de tratar desta questão, gostaria de chamar a atenção para o fato de que os alimentos seguirão pressionando a inflação, mesmo com uma boa safra aqui no Brasil e, talvez, nos Estados Unidos.

Comecemos pelos grãos, onde a recuperação da produção é a mais expressiva. Ainda assim, os preços internos estão se sustentando (milho) ou subindo (soja), tendo em vista a escassez do produto no curto prazo nos EUA e a recente desvalorização do real. Para os produtos no varejo, temos ainda a pressão dos fretes, a elevação dos custos de mão de obra e materiais.

Além disso, as exportações de soja estão crescendo muito rapidamente, o que abrirá espaço nos portos para o milho, a partir de setembro, dando suporte maior aos seus preços.

Outros produtos importantes também estão pressionados: o leite vem subindo, devido a uma forte pressão dos preços internacionais, resultado da demanda da China e outras localidades. O arroz sobe como resultado de uma safra relativamente modesta. O trigo tem também uma pressão internacional e no atacado já subiu 50% neste ano.

A desvalorização do real também melhora os produtos derivados da cana. Apenas o café sofreu uma forte queda nas cotações internacionais que e refletem no mercado doméstico.

Em resumo, vai ser muito difícil que a inflação neste ano saia da faixa de 6,0% a 6,5%, até porque a desvalorização do real também elevará os preços de outros produtos que compõem o custo de vida.

Entretanto, o quadro inflacionário para 2014 poderá estar um pouco mais folgado, tendo em vista a redução que certamente teremos na taxa do crescimento econômico. De fato, tivemos nos últimos 45 dias uma forte deterioração na conjuntura econômica, decorrente dos seguintes fatores: - Acelerada piora na balança comercial e na conta corrente.

Neste caso, nossa projeção,e de outras instituições, é de um número da ordem de US$ 78 bilhões, colocando pressão para desvalorização do real.

- A decisão do Banco Central americano de sinalizar uma mudança na política monetária americana, antes do final do ano, acentuou a perspectiva de valorização do dólar em relação a todas as moedas. Embora isso seja bom para o Japão ou para a Europa, produz um enfraquecimento da maioria das moedas emergentes. No caso do Brasil, esse fator externo soma-se à piora nas nossas contas externas e é por isso que o real foi a moeda que mais caiu nestes dias recentes. Acho, hoje, quase impossível projetar o valor do real frente ao dólar nos próximos meses. O que se pode dizer é que o câmbio mudou de patamar e que dificilmente voltará para a faixa de R$ 2,10/R$ 2,15 por dólar - A política fiscal continuou impavidamente expansionista, como atesta o lançamento do programa de compras de eletrodomésticos e móveis, em complemento ao Minha Casa Minha Vida, bem como, a emissão de aproximadamente R$ 15 bilhões em títulos do Tesouro para a Valec, o BNDES e o sistema elétrico.

- Como consequência, os juros de mercado explodiram, como há muito tempo não se via.

Acredito que a nova percepção de incerteza política, decorrente das grandes manifestações de rua, tenha tido alguma influência neste movimento.

Juros.É, pois, inevitável que a política monetária seja mais robusta e que o juro suba de forma acentuada nas próximas reuniões do Banco Central.

Não é fora de propósito que a Selic atinja 9,50%/9,75% no final do ano, piorando as condições de crédito. Ao mesmo tempo, as empresas com qualquer tipo de passivo externo, comercial ou financeiro, verão seus balanços piorarem muito. O mercado de crédito irá na mesma direção, ou seja, os empréstimos serão mais contidos e caros e as insolvências aumentarão.

Tudo isto leva a um crescimento menor. É provável que o PIB de 2013 seja inferior a 2%, resultado que se repetirá em 2014. Aí a inflação poderá vir abaixo de 6%.

O mais importante resultado destes acontecimentos é consolidar a proposição que estamos mesmo presos a uma armadilha de baixo crescimento, da qual não temos perspectiva de sair no curto prazo.

P.S.: Os eventos recentes pulverizaram duas ideias favoritas no governo: a de que a popularidade não cairia enquanto a taxa de desemprego não se elevasse e que haveria uma nova "matriz macroeconômica", onde o juro real muito baixo seria peça fundamental. No primeiro balanço do barco, a tal matriz afundou. Talvez seja necessário um pouco mais de humildade antes de apregoar que se desenvolveram novos modelos de crescimento. Continuo achando que "Crescer não é fácil", título do livro que englobou os dois primeiros anos desta coluna.

Entender o Brasil - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 06/06

A explosão das ruas apareceu para mim pela primeira vez no quarto dia. Estava há uma semana numa área da Amazônia, sem qualquer comunicação, iniciando uma reportagem que está longe de acabar. Aquele havia sido um dia doloroso, de ver o crime sem castigo no Brasil profundo. Entrei num restaurante de estrada e na TV vi a violência da Polícia de São Paulo. Fiquei atônita.

Na última sexta-feira, passei pela cozinha da minha casa, e Érica, a nova arrumadeira, me pediu para fazer uma pergunta. Pensei ser dúvida sobre a organização da casa, e a pergunta foi:

- O que é a PEC 37?

Surpresas há em todo canto do Brasil. A gravidade da conjuntura me fez voltar mais cedo para a coluna antes de processar tudo o que vi no mergulho amazônico. O Brasil é um país intenso e, quando você pensa que começou a entender, surpresas maiores aparecem.

Uma coisa é certa: erramos todos. Cada comentarista ou analista da cena brasileira, seja em que área atue, pode dizer que alertou para erros na política ou na economia, mas ninguém previu a eclosão de um movimento desta magnitude. Quando estourou a rebelião contra governos árabes, um especialista conhecido nos Estados Unidos, F. Gregory Gause III, que há 20 anos é professor das melhores universidades americanas sobre Oriente Médio, teve a coragem de dizer que estava "totalmente errado". Num artigo na "Foreign Affairs", ele disse que não tinha olhado para o lado certo. Havia dedicado seu tempo a explicar porque as ditaduras da Líbia, do Egito, da Tunísia eram tão longevas e não viu o movimento se formando contra elas.

No caso do Brasil, é mais complexo porque é uma democracia forte em que a presidente foi eleita e exerce legitimamente seu mandato. O movimento é um difuso sentimento de insatisfação diante da incapacidade de o Estado atender às aspirações das pessoas. Há, claro, um cansaço transbordante com os casos de corrupção. É preciso separar o que é a fúria de quem praticou atos de violência e o que é a maioria da população, que vestiu branco e foi às ruas com a intenção de manifestar seus sonhos de um país melhor.

Sabe-se pouco da dinâmica dos movimentos na era digital. Sabe-se que eles não têm líderes claros e surpreendem pela rapidez do crescimento. É o velho contágio, que a sociologia estudou, mas em escala muito maior. O mestre Manuel Castells, que esteve aqui rapidamente, tem traçado algumas linhas do que é este mundo novo das redes de indignação e esperança, mas nem quem o lê com atenção imaginaria o que aconteceu no Brasil. Temos que ter a humildade de admitir que é preciso estudar mais o país, sua juventude, suas mudanças. E as pesquisas de opinião? O que é mesmo que perguntaram para captar tanta popularidade do governo? Como isso se encaixa com o que vimos agora?

O Brasil viveu um sufocante período de gritos e sussurros depois de reprimidas as passeatas de 1968. O movimento espontâneo da Praça da Sé na morte de Herzog, em 1975, foi surpreendente e decisivo para mostrar a exaustão com tão longo autoritarismo. A manifestação dos trabalhadores da Vila Euclides revelou a força dos novos líderes. As passeatas gigantes das Diretas surpreenderam até os organizadores pela sua força e dimensão, mas elas tinham lideranças sólidas em coalizão. Os caras-pintadas foram um efeito bumerangue. O ex-presidente Collor, que havia aprisionado o dinheiro das famílias, sem debelar a inflação, estava envolvido em denúncias de corrupção. Acuado, pediu que o povo fosse para a rua apoiá-lo. Colheu o oposto do que pediu.

O passado é completamente diferente do presente. Não se pode recorrer a ele. A rejeição a todos os políticos, que aparece nas manifestações, é compreensível, mas não é a solução. O atual sistema de representação está gasto, mas não se sabe o que pôr no lugar. Estamos numa transição para um mundo diferente. Minha esperança é que ao fim dos protestos o país tenha cidadãos mais bem informados.

Expliquei para a Érica o que era a PEC 37. Avisei que ela tem defensores, mas que eu sou contra tirar poderes de investigação do Ministério Público. Disse que a Polícia deve investigar, mas também o MP. Detalhes da organização da casa ficaram para ser explicados no dia em que ambas tivermos menos mobilizadas pela tarefa maior de entender o Brasil.

A lição das ruas - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 23/06
Dirigentes partidários e cientistas políticos estão prevendo uma grande renovação nas eleições de 2014. O sentimento que embalou os protestos afetará a todos. Mas os partidos sem identidade definida, marca reconhecida e militância sofrerão mais. A despeito da perplexidade geral, ficou claro que a rejeição aos governos, ao Legislativo e aos partidos é maior, e mais relevante, do que se imaginava.

Nasce um novo Brasil
A maioria dos políticos está empenhada, nestas horas, em enquadrar os fatos às suas vontades. Mas os analistas políticos estão procurando ir além do superficial perde-ganha. O cientista político Jairo Nicolau chama a atenção para um fato novo: "Pela primeira vez, nos últimos 20 anos, a população sai às ruas sem o predomínio do PT." Sua leitura é que os protestos refletem a existência de "uma nova classe média, novas formas de comunicação e um novo Brasil que olha políticos e partidos e não se vê neles". Pelo fato de o movimento ser heterogêneo e se voltar contra o establishment, ele ainda não vê uma força política capitalizando tal descontentamento.

"No mundo político, não tem ganhador. Mas, se tiver, é quem está mais fora do contexto. E a única pessoa nessa posição se chama Marina Silva"
Saulo Queiroz Secretário-geral do PSD 

Ctrl+C, Ctrl+V
Um ministro do STF está sendo processado por uma das maiores editoras de livros jurídicos do país. O digníssimo teria plagiado um texto relacionado ao processo civil. A ação corre no Tribunal de Justiça do Distrito Federal.

Ação orquestrada?
O partido de Marina Silva, a Rede, está sofrendo com o rigor dos cartórios eleitorais na checagem das fichas de filiação. Centenas estão sendo rejeitadas porque no nome do partido está escrito apenas "Rede".
Os funcionários argumentam que deveria ser usado o nome completo do partido: "Rede Sustentabilidade". Com essa Marina não contava.

Rui Falcão e a crise
Diante da conjuntura atual, o presidente do PT, Rui Falcão, adiou o lançamento de sua candidatura na quinta-feira. "Prefiro continuar concentrando minha atenção e a da militância do meu partido no acompanhamento do momento político nacional".

Cartão amarelo
A desordem e a falta de segurança provocadas pelos protestos dos últimos dias deixaram a Fifa apreensiva. Seu secretário-geral, Jérôme Valcke, reclamou ao governo da falta de competência das forças policiais. Relatou que as empresas patrocinadoras estão chocadas, pois, se há dificuldades de segurança para a Copa das Confederações, o que dirá na Copa do Mundo.

Destrinchando o protesto
No Rio, 67% das pessoas que andam de ônibus usam vale-transporte, 10% têm gratuidade, e só 23% pagam o preço cheio da passagem. O custo do VT para o empregado é de 6% do valor de seu salário. O que passar disso é pago pelo patrão.

Correndo atrás do prejuízo
Depois de ser pego de surpresa com a votação da bolsa-estupro na Comissão de Finanças da Câmara, o governo Dilma agora trabalha para impedir que vá para a Comissão de Direitos Humanos e que seja aprovada no plenário.

FIM DA PEC 37. O governo quer que o Congresso enterre a PEC 37 e que o debate entre Ministério Público e polícia recomece do zero.