sábado, março 10, 2012

Filho da mamãe - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 10/03/12


A José Olympio lança em maio o livro “Jack Kerouac, o rei dos beats”, de Barry Miles, biografia do autor rebelde de “On the road”, que faria 90 anos.
O livro diz que Kerouac, quem diria?, era... “infantilizado pela mãe e não agia como adulto”.

ENTRE GATOS e cotias, gansos e marrecos, nasceram cinco filhotinhos de pavão no Campo de Santana, flagrados aqui (veja a mamãe na foto ao lado) pelo coleguinha Carlos Henrique Damasceno. Mas só quatro resistiram. Com dois meses de vida, o macho e as três fêmeas se alimentam de ração e couve, e já são o xodó da turma da Fundação Parques e Jardins, que vai pedir ajuda aos frequentadores para escolher os nomes dos penosos. Não são uns fofos?

Deixa Ana trabalhar
Amigos da ministra Ana de Hollanda preparam o manifesto “Deixa a Ana trabalhar”.

Dilma e Dona Benta
Dilma respondeu à notificação do STF para se manifestar sobre o mandado de segurança contra o financiamento oficial do livro “As caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, por suposto “conteúdo racista”.
A presidente solicitou ao ministro Luiz Fux, relator do caso, o indeferimento da liminar que pede a proibição do financiamento. A ação é tocada pelo advogado Humberto Adami.

Madonna e Gaga
Os shows de Madonna e Lady Gaga no Rio serão no Parque dos Atletas, onde foi o Rock in Rio, em novembro e dezembro.

Ponte Betinho
Do presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, sobre o projeto que tramita na Câmara para mudar o nome da ponte Rio-Niterói de Costa e Silva para Betinho:
— Costa e Silva lembra ditadura. Lembra o período mais obscuro da História do Brasil. Betinho lembra liberdade e solidariedade, esperança para o Brasil. Mais que justo que seja Ponte Herbert de Souza.

No mais
O general Marco Antonio Felicio, autor do manifesto contra a Comissão da Verdade, defende a liberdade de expressão dos militares da reserva.
Mas não custa lembrar uma contradição: Felicio pede liberdade de expressão para defender uma ditadura que negava... liberdade de expressão. Democracia é melhor.

Bem-vindo
Com o clima azedo por causa de brasileiros barrados e humilhados ao chegar a Madri, a Espanha mandou um “hermoso” (“bonito”, no idioma de Dilma) para ser embaixador no Brasil.
Trata-se de Manuel de La Camara Hermoso. Que seja feliz.

Segue...
Esta semana, uma brasileira de 77 anos, Dionísia Rosa da Silva, ficou três dias retida pela imigração no aeroporto de Madri.

Por tudo isto...
Nas redes sociais, não faltam comentários de policiais federais ansiosos pela entrada em vigor, em abril, da norma que manda tratar os espanhóis que vierem para cá com o mesmo rigor dedicado aos brasileiros lá Aliás, não custa repetir: o que
fazem as empresas espanholas no Brasil, como Santander, para conseguir do governo de Madri um tratamento mais digno aos brasileiros que viajam para lá?
Diário de Justiça
O contraventor Rogério Andrade não é mais réu no processo da morte do bombeiro Antônio Carlos Macedo, seu ex-chefe de segurança, na Barra, no Rio.
A decisão da juíza Elizabeth Machado Louro, da 4ª Vara Criminal, acatou parecer do MP.

Ex-amigos
O pastor Marcos Pereira da Silva entrou com uma interpelação judicial contra José Júnior, do AfroReggae.
Como se sabe, Júnior o acusa de ser “a maior mente criminosa do Rio”. O pastor quer que ele se explique.

Dá a mão, loura
Xuxa, a Rainha dos Baixinhos, vai entrar em campo, no Fla x Flu de amanhã, no Engenhão, de mãos dadas com Vagner Love.

Novos empresários
Vanessa da Matta, a cantora, fechou contrato com a empresa Mega, de Preta Gil e Lulu Santos, para cuidar de sua carreira.

Calma, meninas
Ontem, em Ipanema, camelôs vendiam coroas e camisetas com o rosto do príncipe Harry e os dizeres: “Calma, você ainda pode casar com Harry.”

Calma, príncipe...
Aliás, lembra o Instituto Beleza Natural, rede carioca especializada em cabelos crespos?
Numa demonstração em Santa Teresa, a comitiva do príncipe Harry ficou tão impressionada com a força da classe C que convidou Leila Velez, dona da rede, para apresentar seu negócio em Londres ainda este ano.

Será o Benedito? - TUTTY VASQUES

O Estado de S.Paulo - 10/03/12


Por que diabos a CIA teria levado, segundo o WikiLeaks, o corpo de Bin Laden para os EUA em vez de jogá-lo no mar, conforme o divulgado? Será que os americanos estão só esperando a poeira baixar para leiloar o presunto na internet?

Direito a elogio

O jornalista Roberto Kovalick é, já há algum tempo, o melhor correspondente da televisão brasileira no exterior. Só se fala disso no Japão!

Cinderelas

No momento mais tocante da recepção ao príncipe Harry no Morro da Urca, o bondinho do Pão de Açúcar desceu à meia-noite de ontem lotado de moças, todas calçando um único pé de sapato.

É do jogo!

Ronaldinho Gaúcho não se importa nem um pouco com as vaias da torcida do Flamengo. Também, pudera! Ele ganha muito bem pra isso! Parece que dá uns R$ 50 mil por vaia que toma da galera.

Puro-sangue

José Serra vai aguardar até o meio da tarde convite para o aniversário de Aécio Neves, que completa 52 anos neste sábado. Adoraria dizer que já tem compromisso para hoje.

Pra trás

E o STF, hein?! Deu uma de Aloizio Mercadante!

Mãe é mãe

O ministro Aldo Rebelo revelou a assessores mais próximos o motivo que o levou a aceitar o pedido de desculpas do boquirroto Jérôme Valcke: "A Fifa que o pariu, né?"

A Velhinha de Taubaté não sabe mais no que acreditar! Chegou a duvidar que a PM de sua cidade tivesse mesmo convocado um militar aposentado cujo hobby é se vestir de Batman para ajudar no combate à violência na vizinhança.

Como diria o Robin, "Santa Maluquice"!

André Luiz Pinheiro, o homem-morcego do Vale do Paraíba, serviu por 30 anos à Marinha e mantém em casa mais de 200 fantasias de super-heróis. Estreia oficialmente na semana que vem no papel de Batman, ainda sem saber direito o script de seu personagem nas ruas.

Trabalho não falta a quem queira combater o malfeito em Taubaté! A dúzia de ovos por lá chegou a custar R$ 78,00 aos cofres públicos, enquanto o prefeito, a primeira-dama, os parlamentares, boa parte dos representantes do poder público, enfim, estavam ou estiveram envolvidos em sequestro, superfaturamento, improbidade administrativa e mordomias dignas de "vida de príncipe", como gabou-se recentemente em rede social o vereador Rodson Lima - lembra?

A velhinha mais famosa da região já não tem lá muita certeza de nada, mas acredita que o próprio Coringa - ou seria o Pinguim? - também seja seu vizinho. Cá pra nós, faz sentido!

Boa educação

Ricardo Teixeira pediu licença! Não fazia isso desde quando, ainda estudante, saía de sala para ir ao banheiro durante a aula de religião do Colégio Santo Inácio.

Investimentos estrangeiros - ROBERTO RODRIGUES


FOLHA DE SP - 10/03/12


Tem dinheiro sobrando no mundo à procura de investimentos produtivos; o Brasil tem de ir buscá-lo



De acordo com informações divulgadas na semana passada pelo Banco Central, o total de investimentos estrangeiros na economia brasileira em 2011 foi de US$ 66,6 bilhões, o que representou crescimento de 37,5% em relação ao ano anterior.

O setor de serviços foi o que recebeu mais investimentos, com aumento de 117,6% em relação a 2010.
Em seguida vem a indústria, cujos investimentos estrangeiros cresceram 26,2% de 2010 para 2011.
Aí o setor que mais cresceu foi o da indústria de alimentação, com salto de 78,5%.

A grande surpresa ficou com o setor primário, com queda de 36,7%. Em 2010, os investimentos estrangeiros nesse setor somaram pouco mais de US$ 16 bilhões, ante apenas US$ 10,29 bilhões em 2011.
Isso porque o subsetor extração de minerais metálicos caiu 50,3% e o de extração de petróleo e gás natural, outros 39,7%.

Mas o setor ligado à agricultura, à pecuária e aos serviços relacionados teve aumento de investimentos da ordem de 52,7%, sendo de longe o que mais cresceu, seguido pelo de produção florestal, com 3,3%.
No entanto, o valor absoluto das aplicações nesses dois setores foi inferior a US$ 1 bilhão, insignificante diante dos espetaculares valores alocados nos serviços e na indústria.

A análise desses dados permite constatar a interferência de duas variáveis.

A primeira tem a ver com a demanda por produtos de origem rural. Não é à toa que o setor industrial que mais cresceu foi o de alimentos. Mesmo com os diversos problemas de industrialização enfrentados pelo país, devido às dificuldades cambiais e de concorrência com a China, a área de alimentos avançou bastante. Deve-se à crescente demanda global por alimentos, sobretudo pela melhoria de renda dos países emergentes, como o espetacular salto do nosso mercado interno, por exemplo.

Ainda nessa primeira análise, avulta a enorme diferença dos investimentos na agricultura dentro do setor primário. Enquanto a expansão aí foi de 52,7%, os setores mais fortes (petróleo e mineração) caíram bastante.

E não é só alimento: roupas, calçados, produtos de papel e celulose, frutas e flores são outros setores cuja demanda vem crescendo.

É por isso que a segunda análise é preocupante.

Considerados os valores absolutos dos investimentos realizados em 2011, o dinheiro que veio para o Brasil foi assim dividido: para serviços, 46,3%, para indústria, 38,8%, e para o setor primário, 14,9%.
Por que será? Mesmo sendo o Brasil o país mais admirado pelo mundo em relação à sua agricultura altamente sustentável, mesmo com grandes fundos e investidores globais interessados em vir para cá, por que o setor recebeu tão pouco?

Um fato que contribuiu para isso foi que em agosto em 2010 a AGU proibiu a compra de terras por estrangeiros. Deveria ter impedido a compra de terras por fundos soberanos, além de ratificar as limitações já existentes, como o máximo de 20% da área de um município para empresa estrangeira.
Poderia ter estabelecido regras adicionais para evitar especulação imobiliária, mas, ao assumir tal posição, espantou investidores que viriam produzir aqui, comprando máquinas, sementes e fertilizantes produzidos aqui e, portanto, gerando empregos e renda aqui.

Mas não é somente isso: precisamos melhorar muito a segurança jurídica (nossa política comercial colocou todos os ovos na cesta da imóvel OMC); não resolvemos graves problemas de logística e de infraestrutura. Enfim, há uma série de gargalos que inibem investimentos estrangeiros, e que acabam fazendo com que eles se dirijam a outros países.

Segundo a Unctad, o Brasil foi o quarto país que mais recebeu investimentos estrangeiros em 2011, superando todos os países da zona do euro. E se a avaliação for apenas para novos projetos, sem incluir a aquisição de empresas por multinacionais, só ficamos atrás da China.

Há dinheiro sobrando no mundo atrás de investimentos produtivos: vamos buscá-lo.

Coração e sexo - DRAUZIO VARELA


FOLHA DE SP - 10/03/12

Eventos cardiovasculares durante o ato sexual correspondem a menos de 1% do total de infartos


Em essência, a ereção é um fenômeno vascular. Só acontece quando as artérias que irrigam o pênis se dilatam e as válvulas das veias se fecham, de modo que o sangue fique aprisionado sob pressão nos corpos cavernosos, dois tubos de tecido esponjoso que vão da raiz do pênis à glande.

Na fase de excitação, há elevação da pressão arterial -tanto da máxima como da mínima- e aumento da frequência cardíaca. Em mulheres e homens, o maior aumento ocorre nos dez a 15 segundos que precedem o orgasmo, depois do qual a pressão e os batimentos cardíacos voltam aos níveis anteriores.
Em pessoas normotensas, o coração dificilmente chega a bater mais de 130 vezes por minuto e a pressão máxima a ultrapassar a casa dos 17.

Estudos com homens mais jovens, casados, demonstraram que a atividade sexual com a companheira consome uma quantidade de energia equivalente à da atividade física para subir dois lances de escada.
Embora faltem dados, é possível que nos mais velhos, sedentários, hipertensos, portadores de problemas cardíacos e com mais dificuldade para atingir o orgasmo, o esforço realizado corresponda a um gasto energético bem maior.

Nesses casos, minutos ou horas depois do ato sexual, podem aparecer dores precordiais, conhecidas como "angina do amor", caracterizadas por dor em aperto do lado esquerdo do tórax, com ou sem irradiação para o pescoço e o braço. Essas crises, no entanto, correspondem a menos de 5% dos ataques de angina.

Uma metanálise de quatro estudos realizados com mulheres e homens de 50 a 70 anos mostrou que, durante o ato sexual, o risco de infarto do miocárdio aumenta 2,7 vezes. Os que já tiveram infarto ou outra doença cardiovascular não correm risco mais alto. Nos sedentários, a probabilidade é três vezes maior; naqueles fisicamente ativos, ela não aumenta.

Ainda assim, o número absoluto de eventos cardiovasculares durante o ato sexual é mínimo: correspondem a menos de 1% do total de infartos. Quanto mais sexo houver, mais baixo será esse risco. Em mulheres e homens que já sofreram infarto, a probabilidade de ocorrer outro é insignificante: de uma a duas chances para cada 100 mil horas de prática sexual.

Em 5.559 autópsias realizadas após morte súbita, apenas 34 (0,6%) haviam acontecido durante o ato sexual. Cerca de 85% eram homens; a maioria deles ao manter relações extramaritais com mulheres mais jovens em ambientes estranhos e/ou depois de consumo excessivo de alimentos ou álcool.

Alguns medicamentos usados no tratamento da hipertensão e das doenças cardiovasculares podem ter impacto negativo nos mecanismos de ereção e lubrificação vaginal.

Os homens podem beneficiar-se dos chamados inibidores da fosfodiesterase 5: sildenafila, tadalafila e vardenafila, drogas que aumentam a concentração local do óxido nítrico, responsável pela dilatação das artérias que nutrem o pênis.

A sildenafila e a vardenafila têm ação relativamente curta: em cerca de quatro horas, metade da dose é excretada (meia-vida). Já a tadalafila tem meia-vida de 17,5 horas (pílula do fim de semana). Não há indícios de que alguma dessas drogas seja mais eficaz ou segura do que a outra. Na literatura médica não há relato de mortes causadas por elas.

Com frequência encontro homens que se recusam a tomá-las com medo de que interfiram com os remédios para a hipertensão. Essa preocupação é infundada: não existe incompatibilidade.

A única contraindicação são os nitratos orgânicos, vasodilatadores coronarianos usados por via oral, sublingual ou na forma de adesivos. Nesses casos, a associação pode causar queda imprevisível da pressão arterial. Se você toma remédios para o coração, verifique se contém nitrato.

Se tiver tomado sildenafila ou vardenafila nas últimas 24 horas, ou tadalafila nas últimas 48 horas, e for parar num pronto-socorro por alguma emergência cardiológica, avise os médicos. Você não poderá receber nitratos no decorrer desses períodos.

E para as mulheres? Infelizmente, nenhuma dessas drogas aumenta o desejo sexual. A única providência recomendada é a aplicação ginecológica de cremes contendo estrógeno, capazes de reduzir a secura e a atrofia da mucosa vaginal associada à menopausa.

Lembre: não existe limite de idade para a vida sexual.

A contagem para o fim de um privilégio - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 10/03/12
A esperteza não tem limites. Na terça-feira passada, líderes partidários garantiram a este Correio que são contra o recebimento do 14º e do 15º salários no Senado. Da boca para fora, todo discurso vale. Mas ladainhas guardam sempre uma contradição: durante longos 13 meses, um projeto para acabar com os rendimentos extras dos parlamentares ficou perdido na burocracia do Congresso.

O destino do projeto esquecido pelos senadores, entretanto, começou a mudar na quarta-feira passada. O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), o petista Delcídio Amaral, garantiu que o texto — de autoria da senadora licenciada e hoje ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann — entrará na pauta no próximo dia 20, ou seja, daqui a 10 dias. É uma contagem regressiva para o cidadão.

Na iniciativa privada, salários extras são pagos a funcionários como bônus por conta dos resultados. Tal coisa, entretanto, não é regra. E, de mais a mais, o benefício não sai do bolso do contribuinte. Portanto, a questão é se o cidadão está disposto a pagar a conta para os parlamentares embolsarem o 14º e o 15º salários. Mas, como se sabe, quem vai decidir tal coisa são os atuais beneficiados.

A regalia dos parlamentares foi criada em 1995 com a “nobre” intenção de pagar o custo da mudança dos parlamentares, dos estados de origem para Brasília. O problema é que o 14º e o 15º são pagos todos os anos. Foi incorporada ao contracheque. Há alguma justificativa decente? Segundo a assessoria do Senado, a “ajuda de custo” não pode ser considerada salário por ter “caráter indenizatório”.

Para Gleisi Hoffmann, o benefício perde o sentido ao ser embolsado todos os anos. Segundo ela, os parlamentares só devem ter direito a dois salários, um no início e o outro no fim do mandato. Pronto. Aí, sim, o “caráter indenizatório” do benefício estaria confirmado. Se aprovado, o projeto de Gleisi será remetido à Câmara. E, é claro, valerá também para deputados federais, que embolsam os extras.

Jornalismo

Reportagens deste Correio ao longo do último mês de fevereiro mostraram o absurdo do 14º e do 15º salários na Câmara Legislativa. Depois de controvérsia, os distritais votaram um projeto até então esquecido, e que previa o fim do benefício. Sob fortes protestos de alguns, decidiram acabar com a farra. O foco das reportagens a partir daí mudou para a Câmara dos Deputados e o Senado.

E aqui mais um absurdo, como se não bastasse. Descobriu-se que, além de receberem os dois salários extras, deputados federais e senadores — além dos nossos distritais — não declararam o rendimento ao Fisco. O que era imoral, o recebimento dos salários, transformou-se em algo ilegal, a suposta sonegação. Uma investigação da Receita acabou aberta contra o Senado para multar parlamentares.

O prazo de explicações dos senadores ao Fisco acaba no próximo dia 27, uma semana depois da votação da validade dos salários na Comissão de Assuntos Econômicos. A sessão e os votos são abertos, mas podem acabar secretos caso um dos nossos parlamentares apresente um pedido para tal coisa e consiga convencer os colegas. Seria uma trapaça com o contribuinte brasileiro.

Afinal, alguém ainda duvida de que é preciso acabar com a imoralidade e a ilegalidade do 14º e do 15º?

Outra coisa

A sessão “beija-mão” marcada para o senador Demóstenes Torres se explicar sobre a relação com o empresário Carlinhos Cachoeira entrará para a história. Pela porta dos fundos, evidentemente.

Populismo com prazo de validade - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 10/03/12

Promessas funcionam para eleger, mas são desmascaradas pela realidade 


Líderes populistas frequentemente têm sucesso nas urnas com promessas demagógicas a eleitores empobrecidos e desencantados. Porém, mais dia menos dia, a realidade se impõe e eles se veem diante de cidadãos revoltados. É o que acontece em nações sul-americanas que escolheram líderes desse tipo, como a Venezuela de Hugo Chávez, a Bolívia de Evo Morales, o Equador de Rafael Correa e, em alguns aspectos, o Paraguai de Fernando Lugo e a Argentina dos Kirchner.
A questão se torna mais dramática quando se trata de países de menos recursos. Não é o caso da Venezuela, com sua imensa riqueza petrolífera. Ela permitiu a Chávez a construção do "socialismo do século XXI", um projeto baseado no hiperpresidencialismo, no gigantismo estatal, no assistencialismo. E a contrapartida é a dilapidação da riqueza do país, a desorganização da economia, o desabastecimento, inflação de 30% ao ano, desestímulo à iniciativa individual, a corrosão das liberdades democráticas. A reeleição de Chávez se tornou mais difícil com a doença, mas, mesmo são, ele enfrentaria em outubro o pleito mais difícil de seus 13 anos no poder, pois a oposição se uniu e lançou candidato único.
O equatoriano Rafael Correa, discípulo de Chávez, tem um mérito: acabou com o troca-troca de presidentes no país. Só que o modelo chavista adotado é sob medida para se eternizar no poder. Eleito, tomou posse em 2007 e convocou uma assembleia constituinte que promulgou nova constituição, sendo marcadas novas eleições em 2009, ganhas por ele. O mandato vai até 2013 com direito à reeleição até 2017. Mas Correa enfrenta problemas. Arrogante, processou "El Universo", principal jornal do país, seus donos e o editor de opinião por terem publicado um artigo chamando-o de ditador. A Justiça, manejada pelo presidente, acatou sua demanda de prisão para os acusados e multa de US$ 40 milhões. A reação contrária obrigou Correa a "perdoar" os acusados.
Sua aliança nacionalista com os indígenas entrou em crise em 2009, principalmente pela política do governo em relação à mineração e proteção dos recursos naturais, que contraria seu discurso inicial. A principal organização de indígenas realiza uma grande marcha de protesto de 700 quilômetros iniciada quinta-feira na região amazônica do país, devendo chegar a Quito dia 22.
O paraguaio Fernando Lugo prometeu reforma agrária para enfrentar a má distribuição das terras, o que inclui a situação dos brasiguaios - ruralistas brasileiros estabelecidos no país. É óbvio que os interesses envolvidos são mais poderosos que sua promessa, e hoje Lugo enfrenta a revolta dos sem terra paraguaios, que frequentemente invadem propriedades de brasiguaios.
Morales, da Bolívia, tornou-se o primeiro indígena a chefiar um governo no país. Foi eleito com a bênção de Chávez e do então presidente Lula, mas seu projeto populista logo lhe criou problemas. Para cortar gastos públicos, retirou subsídios aos combustíveis, gerando um protesto tão forte que teve de voltar atrás.
São experiências que mostram o caráter pernicioso da prática populista. Ela pode até se sustentar por algum tempo e enganar muitos, mas se torna impraticável a longo prazo.

Chapéu - SONIA RACY

O ESTADÃO - 10/03/12


Aécio passa a próxima semana em Washington. Além de palestra no Banco Mundial, acerta empréstimo de US$ 180 milhões para a segurança pública de Minas. “Já que o governo Dilma se omite, o jeito é buscar parcerias externas”.
Os repasses para o setor estão para lá de fracos.

Alternativa
Surge nova opção entre os candidatos a vice de José Serra. No embate de dois aliados, DEM e PSB, o cargo pode cair no colo dopresidente daOABSP, Luiz Flávio D’Urso – que se filiou ao PTB para também concorrer à Prefeitura.
PTB ePTC,juntos,teriamcerca de 2 minutos de TV.

No pé do PPS
Apressão para que o PPS apoie Serra aumenta. Inclusive por meio de Alckmin. O pré-candidato tem conversado muito com Roberto Freire.

De peso
JP Morgan e Gávea formarão nova empresa para abrigar executivos, liderados por José Berenguer – que deixa o Santander. Ainda sem nome, lidará com fundos de crédito privado.

Nham
Lula poderia ter tido alta ontem. Mas os médicos avaliaram que seria melhor ele ficar no Sírio-Libanês até domingo. O ex-presidente voltou a comer alimentos sólidos.

College
Luiza, que estava no Canadá, recebeu convite de William Popp, cônsul dos EUA em SP. Para estudar na terra do Tio Sam. A moça abre, hoje, e stande americano no Salão do Estudante – no Colégio São Luís.

Suspense
Faltam só alguns detalhes para que a nova/sb, de Bob Vieira da Costa e Silvana Tinelli, vire uma... multinacional.

Quero injeção!
Alexandre Padilha, da Saúde, saiu da visita a SP, ontem, com uma cobrança. Januário Montone, secretário, quer revisão do teto de pagamentos do SUS.

Está duro trabalhar com déficit de R$ 10 milhões por mês (média de 2011) e arcar com 200% de aumento dos atendimentos.

Haja tinta
Eduardo Kobra começou a pintar, anteontem em Santo Amaro, seu maior mural (de 2.000 m2). Dedicado à avenida São João, faz parte do projeto Muro das Memórias.

Arrecadação
Cada jogador da partida de polo contra Harry contribuiu com US$ 50 mil para entidade beneficente do príncipe. Além de Nacho (acima), abriram o bolso Carlos, Carlinhos e Kiko Mansur, José Eduardo Kalil e Calão Melo. E os “convidados” para o almoço de amanhã desembolsaram US$1 mil cada um.

Fora das páginas
Por conta do livro A Brincadeira Favorita, escrito em 1964 e publicado só agora, a Cosac Naifyorganizará show em homenagem ao autor, o músico Leonard Cohen. Leo Cavalcanti e Thiago Pethit foram os primeiros a confirmar e cantam quarta, no Estúdio SP.

Bate, coração
Grupo de mulheres anda colocando corações em estátuas e monumentos do centro da cidade. Na sequência, espalham fotos da iniciativa na internet, na hashtag #aquibateumcoracao.

Com Harry, pela filantropia
Nem só de príncipes como Harry se faz um belo jogo de polo. Nacho Figueras, jogador argentino, enfrenta sua alteza em partida beneficente Royal Salute, amanhã, no Haras Larissa. Escolhido como rosto da Ralph Lauren mundial, 35 anos, pai de três filhos e casado com Delfina Blaquier, de tradicional família argentina, o moço desbancou Brad Pitt no ranking dos homens mais bonitos da Vanity Fair, em 2009.

Confortavelmente ambientado na Hípica Paulista, o profissional de polo recebeu a coluna para uma conversa. E na sua 115ª posição na escala mundial do esporte, arriscou palpite fora de área: “Messi é melhor que Pelé” (risos).

•Você já venceu o príncipe? O mais importante neste encontro é incentivar a filantropia. Há três ou quatro anos que participo desse tipo de ação com ele. Isso é muito incentivador. Harry usa o polo como plataforma para realizar ações sociais.

•A Argentina já teve a melhor equipe de polo do mundo. Está perdendo espaço? Nosso polo é o melhor, tradicional. Há muitos jogadores, cavalos, campos e uma infraestrutura que é difícil de superar. Os únicos países que podem competir são Brasil, EUA e Reino Unido.

•Você tem tentado popularizar o polo, para que não seja conhecido só como esporte elitista. Por quê?
Este jogo de domingo não é o melhor exemplo: será luxuoso, tem príncipe etc. Mas é um esporte que abre portas. Pode atrair muita gente.

Eu, por exemplo, vim da classe média. E me profissionalizei.

•Mas é muito caro! Não queira que o polo seja o futebol. Não pelo elitismo e, sim, pela estrutura: além do campo grande, são 40 cavalos a cada jogo. O que tentamos fazer é convidar o público para conhecer o esporte. Mostrar que é um bom programa para se fazer com a família, ao ar livre...

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV


10h - Jogo das Estrelas, NBB, Globo e Sportv

11h30 - Bayern de Munique x Hoffenheim, Campeonato Alemão, ESPN Brasil

12h - Mundial indoor de atletismo, Sportv

12h - Sul-Americano de rúgbi, Sportv 2

14h - Irlanda x Escócia, Six Nations (rúgbi), ESPN

14h30 - Everton x Tottenham, Campeonato Inglês, ESPN Brasil

14h30 - Augsburg x B. Dortmund, Campeonato Alemão, Bandsports e Esporte Interativo

15h30 - Sesi x Cruzeiro, Superliga masc. de vôlei, Sportv 2

16h - Atlético-MG x Nacional, Campeonato Mineiro, Sportv

16h45 - Palermo x Roma, Campeonato Italiano, ESPN Brasil

17h - Porto x Acadêmica, Campeonato Português, Bandsports e Esporte Interativo

18h - PGA Tour, golfe, ESPN e ESPN HD

18h30 - Corinthians x Guarani, Campeonato Paulista, Sportv (menos SP Capital)

18h30 - Mogi Mirim x Santos, Campeonato Paulista, Sportv (para SP Capital)

20h - Masters 1.000 de Indian Wells, tênis, Sportv 2

No divã com Temer - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 10/03/12


O vice Michel Temer foi escalado pela presidente Dilma para resolver a crise com o PMDB. Os senadores Eduardo Braga (AM) e Eunício Oliveira (CE) se queixaram de falta de interlocução no governo e reclamaram da concentração de poder no partido. Eunício e Braga são candidatos a suceder ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Depois de ouvi-los, anteontem, Temer almoçou com o líder no Senado, Renan Calheiros (AL), e o presidente da sigla, Valdir Raupp (RO).

A prioridade do governo
O próximo teste do governo no Congresso será o depoimento do ministro Guido Mantega (Fazenda) na terça-feira, no Senado. O Palácio do Planalto vai acompanhar com atenção o comportamento dos senadores da base, principalmente quanto a perguntas sobre a briga no Banco do Brasil, denúncias de fraude no PanAmericano e o escândalo na Casa da Moeda. Quanto ao Código Florestal, na Câmara, o governo diz que não está preocupado. No Palácio, ninguém leva a sério a ameaça de obstrução dos trabalhos pelos ruralistas. O argumento que usam tem certa lógica: a Lei Geral da Copa também é de interesse dos estados.

"É a solução (jurídica) alemã para evitar o caos. Declara a inconstitucionalidade com efeitos ex nunc (desde agora)” — Nelson Jobim, ex-presidente do STF sobre a mudança de posição no caso das MPs não apreciadas por Comissão Mista do Congresso

A ESFINGE. No Palácio do Planalto há uma divisão quando se trata de analisar a derrota do governo na recondução de Bernardo Figueiredo para a ANTT. Uma parte dos ministros e auxiliares da presidente Dilma avalia que o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), articulou na surdina esse revés para o governo. Outra parte acredita que ele foi atropelado por integrantes da bancada, que questionam sua liderança.

Filho pródigo?
O prefeito Gilberto Kassab (São Paulo) vive dias de angústia à espera do relatório do ministro Marcelo Ribeiro (TSE), sobre o direito do PSD a tempo de televisão. Sua avaliação é a de que essa questão é de vida ou morte para seu partido.

Faniquito
Diante das críticas no caso do uso de R$ 3 bilhões do FGTS para fazer o superávit primário, o ministro Paulo dos Santos Pinto esbravejou para auxiliares: "Eu não estou em cima do muro. Isso é coisa da Fazenda. Eu sou só um interino".

A sucessão na Anvisa nua e crua
Indicado pelo ministro Alexandre Padilha (Saúde) e pelo PT do Rio, o secretário-executivo da Câmara de Regulação Econômica de Medicamentos, o economista Ivo Bucaresky, será nomeado para a Anvisa. Ocupará cargo que está vago há um ano e meio, desde a saída de Agnelo Queiroz, atual governador de Brasília. O Planalto rejeitou naquela época duas indicações anteriores: Norberto Rech, sugerido pelo PCdoB, e Pedro Ivo, apoiado pelo deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).

A próxima vaga
Representante do PMDB, Maria Cecília de Brito é a próxima a deixar a Anvisa. Para seu lugar, o PMDB acertou com o governo a nomeação de Alúdima Mendes, ex-chefe de gabinete da presidência da agência na gestão Dirceu Raposo.

Ele tem a força
A ida do ex-presidente da Petrobras José Gabrielli antecipou a disputa no PT para a sucessão na Bahia. Foram ontem à sua posse o ex-ministro José Dirceu, a presidente da Petrobras, Graça Foster, e o presidente da CEF, Jorge Hereda.

O GOVERNADOR Sérgio Cabral (Rio) vai conversar, na segunda-feira, com o relator da lei de redistribuição dos royalties, deputado Carlos Zarattini (PT-SP).

JOIO E TRIGO. Constatação do governo brasileiro: os representantes do Comitê Olímpico Internacional são mais discretos e compenetrados; os da FIFA são midiáticos e adoram promover uma polêmica.

COM A PALAVRA o senador Francisco Dornelles (PP-RJ): "A redução da contribuição patronal sobre a folha salarial, anunciada pelo governo, é o único benefício fiscal que favorece a empresa brasileira sem favorecer o produto importado".

Japão e Brasil - um ano após o sismo - AKIRA MIWA


O Estado de S.Paulo - 10/03/12


Um ano se passou desde o Grande Terremoto do Leste do Japão, ocorrido em 11 de março de 2011, quando um tremor de magnitude 9, seguido de gigantesco tsunami, causou enormes danos, ceifando a vida de cerca de 20 mil pessoas.

Por ocasião desta data, gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos pelo grande apoio da comunidade internacional e, em especial, pelas calorosas manifestações de solidariedade e pelas contribuições do governo e do povo do Brasil. Astros do futebol brasileiro que atuaram no Japão, como Zico e Alcindo, promoveram um jogo amistoso com a finalidade de angariar fundos em prol das vítimas do desastre. E o rei Pelé visitou as cidades afetadas para encorajar as crianças e os refugiados nos abrigos. Além da mensagem de solidariedade da presidenta Dilma Rousseff, o chanceler Antonio Patriota visitou o Japão em abril para apresentar as condolências oficiais do Brasil às vítimas. Em Pernambuco, crianças das favelas de Olinda recolheram moedinhas em latas para entregá-las ao Japão, explicando: "É porque o Japão, que é amigo do Brasil, está sofrendo". Esse episódio foi relatado pelo primeiro-ministro Yoshihiko Noda em seu discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em setembro.

Atualmente, a infraestrutura e a economia das regiões afetadas estão em franca recuperação. A maioria das empresas japonesas está se reerguendo rapidamente e a cadeia de fornecedores do sistema produtivo foi completamente restabelecida.

Com os reatores da usina nuclear de Fukushima em condição equivalente ao estado de desligamento frio, o acidente foi considerado controlado, conforme anunciado em dezembro. Ainda nos resta, contudo, o grande desafio da recuperação do meio ambiente e das condições de vida das áreas afetadas. Nesse sentido, o Japão não poupará esforços para prosseguir com a descontaminação das zonas afetadas, assegurando, assim, as condições sanitárias e restabelecendo a segurança alimentar, bem como para indenizar as vítimas. O Japão tem a responsabilidade de compartilhar com a comunidade internacional as experiências e as lições aprendidas com o acidente e seguir contribuindo para o aperfeiçoamento da segurança nuclear. Em dezembro deste ano o Japão organizará, com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), uma conferência internacional de alto nível sobre segurança nuclear.

As relações e os laços de amizade do Japão com o Brasil remontam a mais de cem anos de uma história baseada na confiança estabelecida pela imigração japonesa. As relações econômicas bilaterais também têm uma longa história de cooperação, passando pelos grandes projetos nacionais dos anos 60 e 70 do século passado, abrangendo as áreas da siderurgia, do alumínio, da celulose e da agricultura.

Em tempos recentes, a cooperação bilateral tem-se incrementado, envolvendo setores de alta tecnologia e conhecimento. O melhor exemplo disso é a adoção pelo Brasil do padrão nipo-brasileiro de TV digital e a consequente disseminação desse padrão por quase todos os países da América do Sul. É o Japão contribuindo para a integração econômica da região, o que é motivo de grande orgulho. Na área ambiental, merece destaque a cooperação bilateral com o emprego do satélite japonês Alos, que foi de suma relevância para a redução dos índices de desmatamento ilegal na Amazônia, já que era portador de um radar que permitia até "ver embaixo das nuvens". Além disso, não se pode olvidar que o Brasil, detentor de bem-sucedida experiência no desenvolvimento do Cerrado, também trabalha em colaboração com o Japão em projetos de cooperação trilateral para o desenvolvimento agrícola na África. Deve, ainda, salientar que o Japão e o Brasil já são parceiros na busca de soluções para os grandes desafios globais, como a questão das mudanças climáticas e a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, entre outros.

Há ainda, todavia, muito a ser feito. Com a pujança econômica do Brasil, que se elevou à condição de sexta economia do mundo, muitas oportunidades estão surgindo para o relacionamento bilateral. Para atender ao mercado brasileiro, em rápida ascensão, empresas japonesas, como a Toyota e a Nissan, estão se preparando para abrir novas fábricas no Brasil e muitos líderes empresariais japoneses estão visitando o País. Nota-se, também, um aumento do número de empresas japonesas que fabricam no Brasil e exportam para outros países. Na área de infraestrutura dos transportes, são promissoras as possibilidades em torno de projetos de trens, metrôs e monotrilhos. No campo energético, o Brasil descobriu recentemente significativas jazidas de petróleo e gás natural na camada pré-sal, além de ter enorme potencial em energia solar e eólica. Visando essas oportunidades, os governos do Japão e do Brasil já estão tomando medidas concretas com a finalidade de melhorar o ambiente de negócios e as condições dos trabalhadores de ambos os países, como a conclusão do Acordo de Previdência Social, que entrou em vigor em 1.º de março, e a decisão de facilitar a emissão de vistos com múltiplas entradas para homens de negócios, em vigor desde janeiro deste ano.

Acredito que para manter, fortalecer e buscar resultados nessas cooperações seja imprescindível a formação de recursos humanos na área de ciência e tecnologia. Assim sendo, o Japão está-se preparando para poder receber estudantes e pesquisadores brasileiros por meio de programas como o Ciência sem Fronteiras, promovido pelo governo brasileiro.

Em nome de todo o povo japonês, gostaria de reiterar o meu agradecimento pelo apoio do Brasil quando do Grande Terremoto, com a convicção de que o Japão saberá superar mais essa adversidade e vai fortalecer ainda mais a amizade com o Brasil.

Uma poética da disparidade - SILVIANO SANTIAGO

O Estado de S.Paulo - 10/03/12

Desde o livro de estreia, Alguma Poesia (1930), Carlos Drummond de Andrade já indicava a chave de sua obra - o caráter múltiplo -, expressa no primeiro texto do volume, o Poema de Sete Faces



O lado dos poemas combativos de A Rosa do Povo (1945), temos os reflexivos de Claro Enigma (1951). Ao lado da prosa ardilosa de Contos de Aprendiz (1953), temos as crônicas ligeiras da maturidade carioca que, como as folhas outonais cantadas por Yves Montand, caem do volume Fala, Amendoeira (1957). O reencontro com quatro livros de gêneros, temas, dicções e propostas tão díspares coloca uma questão complexa sobre a leitura da obra de Carlos Drummond de Andrade no seu conjunto. A disparidade. Como ponto fulcral da obra, a disparidade estava anunciada no poema de abertura de Alguma Poesia, livro com que estreia em 1930. Intitulou-o premonitoriamente de Poema de Sete Faces.

De um lado da disparidade, ressalte-se a disputa crítica sobre a inquietude do homem e do escritor, já lembrada por Antonio Candido, e do outro, a disputa crítica sobre a convivência fraterna na folha de papel das discrepâncias artísticas. Vistas da perspectiva do panorama modernista, ambas as disputas nos encaminham para a tônica da obra. Drummond quis que tanto o homem - corpo e alma - quanto a sua escrita - gêneros, temas, dicções e propostas - fossem, década após década, contingentes e atuais. Pela espinha dorsal do indivíduo e pela medula da arte seria lida a História do século que, desde 1902, tocou ao itabirano viver.

Em Carlos Drummond, a matéria de que é feito tanto o homem humano, para lembrar Guimarães Rosa, quanto a escrita de arte é a mesma - "a vida presente". E para o trato desta, o gesto por excelência do sujeito em travessia e das palavras em construção poética é o das "mãos dadas". Leiamos ao pé da letra versos de Sentimento do Mundo: "O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes / a vida presente". Outros versos, agora de Esquecer para Lembrar, apresentam o paradoxo de serem escritas no presente as recordações da infância na idade adulta: "- Você deve calar urgentemente / as lembranças bobocas de menino. / - Impossível. Eu conto o meu presente. / Com volúpia voltei a ser menino". No presente da criança escrevem-se os poemas do velho. Lembrança é também presente.

Mente aberta, disponibilidade para o novo e o diferente, autocrítica misturada com auto ironia, camaradagem e deleite com o instável e o incerto - eis algumas das características de quem, sem medo de renovar-se, pôde sempre apresentar-se ao antigo e ao novo leitor como atual.

A necessidade em compreender as mazelas do corpo no embate com os contemporâneos e o tempo é invocada de maneira brejeira e folgazã em poemas como Dentaduras Duplas: "Dentaduras duplas: / dai-me enfim a calma / que Bilac não teve / para envelhecer". Já a simbologia proposta pelos dentes podres arrancados a boticão será revista de modo luminar na crônica que abre Fala, Amendoeira. Perto dos 60 anos, o cronista chega à janela do apartamento e cumprimenta a estoica e feliz amendoeira outonal, em nada saudosa da brisa da primavera e do sol do verão. À semelhança do anjo no altar barroco, a amendoeira é a "árvore da guarda" na rua de Copacabana. Ela ensina lição de dignidade ao homem maduro. Tutela-o, sussurrando-lhe: "Quero apenas que te outonizes com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso..." Cada nova fase da vida contraria a última que, por sua vez, fora contrariada pela anterior. Cada novo livro contraria o último que, por sua vez, fora contrariado pelo anterior.

Nos heterônimos imaginados, Fernando Pessoa se apresenta como múltiplo e diverso. Quando se cansa de ser Alberto Caeiro e quer contrariá-lo, inventa ao lado Álvaro de Campos. Quando se cansa de ser este e quer contrariá-lo, inventa ao lado Ricardo Reis. Novo homem, outra dicção poética, outra paisagem mental - poesia variada e incomensurável. Eis aí uma forma notável e invejável de ser contingente e atual. Para não evoluir com a graça e o mistério do corpo único na máquina do tempo, Pessoa se fragmenta e se desloca pelo espaço da literatura como meteoritos. Nas Páginas de Doutrina Estética, ele anota com precisão: "Não evoluo, VIAJO". As peças da imaginação artística de Pessoa se desarticulam e se fragmentam como as peças do corpo feminino em mãos de Jack, o Estripador.

A obra de Drummond é também disparatada e múltipla, mas Carlos, o sujeito, está sempre a buscar a perspectiva evolutiva - ou histórica, no sentido preciso do termo - que dá sentido às desarticulações e fragmentações que a sustentam. Embora se escrevam pelo viés da "vida presente", tanto o passado quanto o futuro, tanto a infância e a juventude quanto a maturidade e a velhice existem contraditoriamente como segmentos autônomos. No poema Uma Hora e Mais Outra, alerta e pergunta: "Amigo, não sabes / que existe amanhã?" Mas em Cidade Prevista, poema de A Rosa do Povo em que se declaram os princípios da utopia, escreve: "um jeito só de viver, / mas nesse jeito a variedade, / a multiplicidade toda / que há dentro de cada um". Quando passa a limpo a si próprio e a vida, Drummond é fiel ao indivíduo e à poesia nas suas traições. Deseja também que o poeta e cada leitor do poema sejam semelhantes um ao outro, embora sejam também indivíduos diferentes e evolutiva e historicamente fragmentados. Como se descobrir diferente, sendo o mesmo? - eis o mistério singular da alteridade que é fundamento de toda e qualquer leitura de literatura. "Teu passo: outros passos / ao lado do teu" - lemos ainda em Uma Hora e Mais Outra.

Na construção da vida e na invenção da obra artística, Drummond aprendeu a dolorosa e sábia lição do finado Brás Cubas. A vida é uma "errata pensante". Escreveu Machado: "cada estação da vida é uma edição que corrige a anterior, e que será corrigida, também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes". Depois do delicioso diálogo do sessentão com a amendoeira, Carlos Drummond nos oferece - através das palavras de Machado de Assis - esta outra e definitiva constatação: "naquele tempo, estava eu na quarta edição, revista e emendada, ainda inçada de descuidos e de barbarismos...".

Descuidos e barbarismos - como liberar-se deles em nova edição? Idêntico processo de atualização e aprimoramento se encontra nas sucessivas versões de um mesmo poema. A primeira versão era enviada a colega ou correspondente ou publicada em revista ou jornal. Mais tarde, ao enfurnar o texto em livro, a versão anterior é corrigida, rasurada aqui e ali, até que sejam encontradas a palavra e a expressão mais justas. "Lutar com palavras / é a luta mais vã. / Entanto lutamos / mal rompe a manhã". A palavra certa no lugar certo. Não existe poeta em língua portuguesa que nos tenha legado marcas tão óbvias da diligência e pertinência com que estilo e verso devem ser revistos e aprimorados.

Tome-se como exemplo o poema Notícias de Espanha. Em março de 1946 é publicado solto na revista Leitura. Dois anos depois, ele reaparece na coleção intitulada Novos Poemas. Terminada a 2.ª Grande Guerra, a Espanha ainda se encontra sob a ditadura Franco. Impera a censura. No país europeu ilhado, nada entra, de lá nada sai. Em tal circunstância, que poder pode ambicionar a voz lírica do poeta? Na versão do poema publicada em Leitura, Drummond opta pelo pessimismo. Fala sobre a insuficiência política da poesia: "Mas tenho apenas meu canto, / e um canto é nada".

Ao organizar o novo livro, quando o poema solto vai-se encaixar ao lado de outros, Drummond está menos cético em relação ao poder político da palavra poética. Em Novos Poemas, Notícias de Espanha precede o elogio do poeta mártir Federico García Lorca, articulador da implosão do edifício franquista e assassinado pela Guarda Civil. Razão a mais para uma errata pensante. A constatação niilista é substituída por uma pergunta: "Mas tenho apenas meu canto, / e que vale um canto?" Vale muita coisa - responde o texto a seguir: "quisera fazer do poema / não uma flor: uma bomba / e com essa bomba romper / o muro que envolve Espanha". A História europeia deu razão à errata pensante.

Continuemos apenas com o poeta. Diante de autor múltiplo e sempre renovado, como buscar nossa atualidade na móvel atualidade dele? Tarefa complicada. Quem agrada a muitos e, para não se repetir, desagrada a si, se renova, é certo. No entanto, ao se renovar, pode desagradar a uns e agradar a novos. Faca de quatro gumes. Os primeiros poemas enfeixados em livro por Drummond eram anárquico-sentimentais e misturava brejeirice e nonsense com doses de gratuidade e de crítica social ao mundanismo da vida brasileira. Versos como "No meio do caminho tinha uma pedra" conquistaram um público cativo e despertaram caçoadas.

Os livros posteriores trazem poemas cosmopolitas, combativos e esperançosos. De Sentimento do Mundo até A Rosa do Povo, Drummond se engaja na luta contra a ditadura Vargas e o nazi-fascismo, não perdendo de vista o emergente imperialismo norte-americano. Versos como "Este é tempo de partido, / tempo de homens partidos" conquistaram outros e diferentes admiradores. Com o poeta comungavam o pulsar de "uma pátria sem fronteiras, / sem leis e regulamentos, / uma terra sem bandeiras, / sem igrejas nem quartéis, / sem dor, sem febre, sem ouro...".

Tais versos são contrariados, por sua vez, em Claro Enigma. O gosto pelo paradoxo já explode no título do novo livro: se é enigma, não é claro; se é claro, não é enigma. Como não contrariar os partidários da revolução socialista com versos como "E como ficou chato ser moderno. / Agora quero ser eterno"? Cansado, o poeta cruza os braços e se adentra pela noite e seus símbolos herméticos. Fabrica uma poesia moderna que, mal publicada, já se quer clássica na forma e na postura. Com belos versos elegíacos, toma de empréstimo a Camões e a Os Lusíadas o episódio da máquina do mundo. Natural que um dos livros seguintes se chame A Vida Passada a Limpo.

Anunciada aqui e ali em poemas como Viagem na Família, a história do clã dos Andrade ganha o palco e logo o centro da cena nos poemas memorialistas da idade madura. Recebem o título genérico de Boitempo. Os grandes temas universais são contrariados pela descrição da vida miúda e farta, condescendente e febril de Itabira do Mato Dentro. Personagens em busca da História são contrariados pelas peraltices do "menino antigo". Patriarcalismo, religiosidade, vida besta, ordem e emoções de familiares recobrem o terreno antes trilhado pelas ideologias libertárias do século 20.

O mexicano Octavio Paz nos legou uma observação certeira sobre o modo como buscar a nossa atualidade na atualidade móvel do autor do Poema de Sete Faces: "O poema é uma obra inacabada, sempre disposta a ser completada e vivida por um novo leitor". Os textos díspares de Drummond se prolongam hoje e se arredondam na capacidade que os novos leitores têm de atualizar em diferentes e exigentes experiências de vida seus versos e sua prosa "inacabados". Que você também se adentre pelos mecanismos caprichosos e sedutores da errata pensante machadiana!

NA FLIP

Carlos Drummond de Andrade será homenageado na 10ª Festa Literária Internacional de Paraty, que ocorrerá entre os dias 4 e 8 de julho, com palestras e outras atividades. A conferência de abertura ficou a cargo de Silviano Santiago. Ele adiantou que falará sobre a atualidade e o cosmopolitismo do poeta.

Tudo por causa do Ministério da Pesca! - JORGE BASTOS MORENO

O GLOBO - 10/03/12


A crise política do governo pode ser complexa, mas foi desencadeada por um motivo aparentemente banal: a nomeação de um importante senador da República, Marcelo Crivella, para um desimportante Ministério da Pesca. Tão desimportante que era o primeiro da lista das inutilezas que seriam extintas na reforma administrativa do Ministério que não houve.

O problema da nomeação foi o momento de insatisfação generalizada dos partidos com o governo.

O cenário da batalha também não ajudou: o Senado Federal, onde 2/3 dele terão mais tempo de mandato do que Dilma.

O governo ficou tão perdido que ainda mandou a ministra Ideli investigar as causas da rejeição à recondução de Bernardo Figueiredo na agência do trem-bala. Dessa investigação, resultou a suspeita de que até o Sarney poderia ter votado contra o governo. Trabalho inútil. Bastaria ouvir o alfaiate Severo dos Santos, que há 30 anos veste senadores e deputados.

Só que, depois dessa, o Senado, que há muito não faz papel de herói, está se achando. Tanto que Cássio Cunha Lima, de ficha tão limpa quanto a de Figueiredo e que está lá pelo desleixo da lei, gritou com o resultado da votação:

— Começou a faxina do Senado.

Como piada de plenário não podia ser melhor.

Aviso aos navegantes
Só ontem, quando de fato, voltei a trabalhar, mais de 10 pessoas vieram me contar a mesma história.

A do barraco entre a presidente Dilma e Cid Gomes, ocorrida no início de fevereiro, no interior do Ceará.

Pauta velha.

Depois desse incidente, a Dilma já voltou lá e até fez as pazes com o governador.

A oposição, assanhada, diz que a presidente foi indelicada com Cid, ao chamá-lo de “incompetente”.

Mas, neste país machista, ninguém critica o fato de o governador levantar-se bruscamente da reunião e ter batido a porta com tanta força, que ela quase cai na cabeça do Eduardo Campos, que correra atrás do colega, tentando segurá-lo. Como eu estava ausente nesse período, não vou fazer o jogo dos adversários, divulgando um triste episódio, graças a Deus, completamente superado.

Fofoqueiros, não contem comigo!

Fofoqueiro
Jogada de mestra a da presidente Dilma, ao mandar Gilberto Carvalho desembarcar no Rio numa sexta-feira para acalmar Eduardo Paes, que queria matar o Padilha, por causa dos dados sobre a saúde no município.

Paes, não só ficou calmo, como ainda saiu, depois, em defesa do ministro da Saúde, quando Cabral, mais irritado que o prefeito, tentou dar o troco:

— Governador, faça isso não! Soube por um amigo de Brasília que o cara está muito fraco, coitado!

Ausência
Enquanto isso, Padilha, ontem, em São Paulo, rolava literalmente pelo chão com alunos da escola pública onde estudou.

Até a ex-cozinheira voltou só para fazer o bolo da festa.

A mãe do ministro e suas exprofessoras também foram, além do Kassab.

De ex-colegas, só faltou mesmo o Eduardo Paes.

Dupla homenagem
Até as carpas do Alvorada sabem que a Dilma nunca gostou de Tarso nem Tarso nunca gostou da Dilma.

Mas, como integrante da comitiva presidencial à Alemanha, o governador foi muito paparicado pela presidente da República.

Pasmem!
Como a viagem coincidiu com o aniversário de Tarso, Dilma mandou fazer um enorme bolo de aniversário, servido no voo. Tarso apagou as velinhas ao som do “Parabéns Pra Você”, cantado por Dilma, Patriota, Pimentel, Paulo Bernardo, Jaques Wagner e Helena Chagas.

Demorei a entender motivo de tão exagerada, embora justa, homenagem.

Na verdade, Tarso não foi homenageado apenas pelo aniversário.

Foi por ter chamado de “papo furado” o argumento do ministro Aloizio Mercadante sobre o reajuste do piso do magistério. Gente, como o Mercadante é querido dentro do PT.

Nome feio
Antes, era só o Gabrielzinho Rousseff que chorava quando alguém falava no nome de Geddel Vieira Lima.

Agora também é a vovozona! Que, quando ouve o nome de Geddel, chora!

Chora e Xinga!

Xinga e chora!

Gentleman
Eduardo Paes, chiquérrimo, desembarcou em Brasília com um buquê de rosas. Que entregou a Dilma como presente do Dia Internacional da Mulher.

Conquista
As duas maiores empresas brasileiras que fabricam silicone com selo da Anvisa resolveram atender o apelo do governo.

Agora, passam a cobrar pela tabela do SUS.

Bela notícia.

Aos mestres, sem carinho - ZUENIR VENTURA


O GLOBO - 10/03/12
Por experiência própria, alguns dos países mais bem colocados no ranking de qualidade da educação — China, Coreia do Sul e Finlândia, principalmente — sabem que a isso se deve muito do seu desenvolvimento socioeconômico, sem falar no cultural. O Brasil, ou parte dele, parece não saber. Bastou o Ministério da Educação divulgar o novo piso salarial dos professores da rede pública, a fortuna de R$ 1.451,00, para que governadores e prefeitos protestassem e alegassem falta de recursos para adotar uma lei que já fora confirmada pelo STF. Onze deles se deslocaram até Brasília para pressionar pela mudança do parâmetro usado nos reajustes. Choraram miséria, falaram em nome da austeridade, mas acharam natural gastar na viagem, com passagens e diárias, o que dava para pagar um mês do novo salário de dezenas de profissionais de ensino.

O caso mais gritante é o do Rio Grande Sul, que ostenta o piso mais baixo, 791,00 (o de Roraima é R$ 2.142,00), e onde foi preciso que aJustiça obrigasse o governo a cumprir suas obrigações legais. Como observou o colunista Carlos Brickman, o governador petista Tarso Genro, “cuja função certamente não é tão útil quanto a de um professor, recebe quase R$ 30 mil mensais, fora casa, comida e muitas mordomias”. E parece não concordar com a opinião de seu colega de partido, o ministro Aluizio Mercadante, de que “a valorização do professor começa pelo piso”.

Por essas e outras é que quase ninguém mais quer ser docente aqui, enquanto em outros lugares acontece o contrário. Numa recente entrevista a Leonardo Cazes, o finlandês especialista em educação Pasi Sahlberg informou que “o magistério é a carreira mais popular entre os jovens do seu país”. Não por acaso, a Finlândia ocupa o terceiro lugar no ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) e o Brasil o 53, entre 65 países. Talvez não seja coincidência também que oDistrito Federal, com o piso mais elevado (R$ 2.315,00), apresente o melhor resultado, segundo os critérios do Pisa.

É bom saber que o Brasil acaba de ser declarado a sexta economia mundial. Mas é triste constatar que em qualidade de educação estamos lá embaixo, atrás de Trinidad e Tobago, Bulgária e México. E que uma das razões é que dedicamos aos nossos mestres pouco carinho e remuneração insuficiente.

É revoltante a inação do mundo diante do genocídio que vem sendo imposto ao povo sírio de Homs pelo ditador Bashar al-Assad. Em 1937, durante a Guerra Civil espanhola, quando Hitler fez o mesmo com uma cidade basca, arrasando-a, o martírio produziu pelo menos uma obraprima: o quadro Guernica, de Picasso. Agora, além da conivência da Rússia e da China, a barbárie conta com o silêncio, a omissão ou a indiferença dos outros países, inclusive do Brasil.

Isonomia impossível - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 10/03/12


SÃO PAULO - Não há dúvida de que o preconceito contra a mulher é forte no Brasil e que cabe ao poder público tomar medidas para reduzi-lo. Pergunto-me, porém, se faz sentido esperar uma situação de total isonomia entre os gêneros, como parecem querer os discursos de políticos.
Nos anos 60 e 70, acreditava-se que as diferenças de comportamento entre os sexos eram fruto de educação ou discriminação. Quando isso fosse resolvido, surgiria o equilíbrio. Não foi, porém, o que ocorreu, como mostra Susan Pinker, em "The Sexual Paradox". Para ela, não se pode mais negar que há diferenças biológicas entre machos e fêmeas. Elas se materializam estatisticamente (e não deterministicamente) em gostos e aptidões e, portanto, na opção por profissões e regimes de trabalho.
Embora não tenham sido detectadas, por exemplo, diferenças cognitivas que as tornem piores em ciências e matemática, mulheres, quando podem, preferem abraçar profissões que lidem com pessoas (em oposição a objetos e sistemas). Hoje, nos EUA, elas dominam a medicina e permanecem minoritárias na engenharia.
Em países hiperdesenvolvidos, como Suécia e Dinamarca, onde elas gozam de maior liberdade de escolha, a proporção de engenheiras é menor do que na Turquia ou na Bulgária, nações em que elas são às vezes obrigadas a exercer ofícios que não os de seus sonhos. Só quem chegou perto do 50-50 foi a URSS, e isso porque ali eram as profissões que escolhiam as pessoas, e não o contrário.
Mulheres também não se prendem tanto à carreira. Trocam um posto de comando para ficar mais tempo com a família. Assim, sacrificam trajetórias promissoras em favor de horários flexíveis. É esse desejo, mais que a discriminação, que explica a persistente diferença salarial entre os gêneros em nações desenvolvidas.
Para Pinker, as mulheres seriam mais felizes se reconhecessem as diferenças biológicas e não perseguissem tanto uma isonomia impossível.

Isto não é uma resenha - SÉRGIO AUGUSTO


O Estado de S.Paulo - 10/03/12


O Colunista se sente bastante tentado a desistir de escrever. O Colunista está por aqui de inventar pautas.

O Colunista sou eu mesmo. O c maiúsculo não é uma afetação megalômana. O escritor que estou, canhestramente, parodiando ou parafraseando só alude aos protagonistas de suas narrativas em caixa-alta: Escritor, Autor, Romancista, Leitor. Bem-vindos à excêntrica ficção de David Markson.

Falei dele en passant, quatro meses atrás, ao brincar neste espaço com a Quadrilha do Drummond, agora o trago de volta porque o 10.º número da revista Serrote, a ser lançado na terça, nos faz a fineza de traduzir as primeiras 15 páginas de This Is Not a Novel. Que começa assim:

"O Escritor se sente bastante tentado a desistir de escrever.

O Escritor está por aqui de inventar histórias".

Nas 175 páginas seguintes, o Escritor, também "cansado de inventar personagens", encadeia centenas de anedotas e curiosidades sobre figuras históricas e literárias, iniciando com as mortes de Lord Byron e Stephen Crane, e terminando com os melancólicos funerais de Leibniz (só uma pessoa compareceu) e Stendhal (assistido por apenas três), arrematados por um adeus - "Farewell and be kind" - do Escritor, prestes a morrer de câncer.

Um romance magrittiano? Pode ser. Outras classificações, coletadas aqui e ali: poema épico pós-moderno, almanaque polifônico, fuga verbal, bricabraque beckettiano. Também já o definiram como um sucedâneo em prosa de The Waste Land, de Eliot, e o compararam, inevitavelmente, a Borges e Calvino. Publicado em 2001 e, como o resto da obra de Markson, nunca traduzido no Brasil, não difere, na forma e na estrutura, das outras três colagens ou assemblages do autor: Reader's Block (Leitor Bloqueado, 1996), Vanishing Point (Ponto de Fuga, 2004) e The Last Novel (O Último Romance, 2007). Que Markson faz questão de rotular de "romances".

Os livros anteriores - Springer's Progress (A Evolução de Springer, 1977) e Wittgenstein's Mistress (A Amante de Wittgenstein, 1988), os únicos dessa fase que li - eram bem menos experimentais e minimalistas, mas já cheios de alusões, metáforas, jogos de palavras e pastiches.

Restringe-se ao título o parentesco de Springer's Progress com a alegoria cristã do seiscentista John Bunyan, Pilgrim's Progress (O Peregrino). Seu protagonista, um escritor amoral (e, portanto, nada cristão) chamado Lucien Springer, foi meio inspirado no beberrão Malcolm Lowry, a quem, aliás, Markson dedicou um ensaio biográfico. Um admirador de primeira hora, o crítico Jonathan Yardley, exaltou Springer's Progress como uma "exuberante celebração da concupiscência". Além do que bem-humorada e inteligente.

Wittgenstein's Mistress, recusado por 54 editoras até ser aceita pela Dalkey Archive Press, é um monólogo abstrato e erudito sobre a solidão de uma mulher que se crê o único ser humano sobre a face da Terra. Louca ou não, um personagem irresistível cujas meditações irreverentes sobre sexo, músicos, cinema, mitos gregos, escritores e filósofos prefiguram o Leitor de Reader's Block, o Escritor de This Is Not a Novel, o Autor de Vanishing Point e o Romancista de The Last Novel.

Markson pertence a uma linhagem que vem lá de Laurence Sterne (mestre confesso até do nosso Machado) e não chegou ao fim com ele, nem com William Gaddis, John Hawkes, Richard Brautigan (o Mark Twain hippie) e Gilbert Sorrentino, seus mais próximos parâmetros na ficção de vanguarda americana. Criou um estilo sui generis de ensaio ficcional, em que autor e narrador se fundem e confundem, e um elenco ecumênico de celebridades artísticas, literárias e políticas domina a narrativa, articulada por uma cadeia de analogias, contrastes, justaposições e coincidências. A "cultura inútil" redimida por um culto e sofisticado bricoleur.

Seus manuscritos, revelou na abertura de Vanishing Point, nutriam-se de anotações que obsessivamente fazia em pequenos cartões guardados em tampas de caixa de sapato. Com eles construiu uma enciclopédia cubista, um folclore particular.

Brahms tinha olhos azuis - como Abraham Lincoln e Hitler. Jack, o Estripador era canhoto - como Osama bin Laden. Lenin cismou que o poder embriagador da música o fazia dizer besteiras. Darwin rasgava livros grossos ao meio para os ler com mais facilidade. A franqueza de Tolstoi diante de Chekhov: "Você sabe que eu não suporto as peças de Shakespeare, mas as suas são ainda piores". A pindaíba e a imaginação de Balzac: desenhou um retângulo na parede e decretou que era um quadro de Rafael. O rigor de Flaubert: insuficiente para notar que os olhos de Emma mudam de cor a certa altura de Madame Bovary.

"Há seis andares no prédio do romancista." Com essa observação, bem ao gosto de Georges Perec, The Last Novel engrenava a primeira. E já na frase seguinte estávamos na Capela Sistina. Seria mesmo a derradeira obra do autor e sua última palavra sobre a velhice e o isolamento do artista, em cujo fecho brilham a clarividência de Novalis (sempre faça o que melhor puder) e a lucidez de Santayanna (só um velho tolo não ri). Markson morreu de câncer, como o Escritor de This Is Not a Novel, em 2010, aos 82 anos.

Num gesto de extrema generosidade, doou sua biblioteca à livraria Strand, em Manhattan, pois nela comprara boa parte de seus livros. A Strand foi fundada no mesmo ano (1927) em que Markson nasceu, em Albany, onde, no ano seguinte, nasceria William Kennedy, autor de Ironweed. Se abri a coluna parodiando os romances de Markson, por que terminá-la de outra maneira?

Sentimentos mistos - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 10/03/12
O dia na Europa foi de comemoração e apreensão. A Grécia atingiu o nível de adesão necessário para fechar o acordo com os credores privados e acionar a cláusula que força a minoria a concordar com os termos da troca da dívida velha por nova: 96% da dívida será trocada no maior calote da História. A Associação dos Swaps e Derivativos passou a tarde reunida e no final disse que as empresas de seguro terão que pagar certos papéis.

Por muito tempo se buscou o momento que a Grécia atingiu ontem: 75% dos bancos disseram que concordavam em receber metade, ou menos, do valor do que tinham emprestado para a Grécia. Ao chegar nesse nível, uma cláusula dos contratos dos empréstimos é automaticamente acionada, a collective action clause (cláusula de ação coletiva). Isso força o consenso, a minoria tem que concordar com a maioria. Quem ainda hesitava teve que aderir ao acordo que perdoará US$ 130 bilhões de dívida.

O acordo inteiro envolve dívida no valor total de 206 bilhões (US$ 270 bilhões), ou 87% do PIB grego. Isso é só a dívida privada. Tudo nesse caso é exorbitante. Ao todo o país deve uma Grécia e meia.

Os bancos foram empurrados para a mesa de negociação por duas forças: a Alemanha e a realidade. Quando elas se juntam é impossível resistir. A França tentou evitar, mas a presidente da Europa (sim, é isso mesmo que eu quis dizer), Angela Merkel, exigiu dos bancos uma cota de sacrifício. Por isso eles foram negociar com a Grécia. Pode-se ver daí que as expressões "adesão" ou "troca voluntária" usadas pelos negociadores, analistas, imprensa e autoridades não condizem com os fatos.

Na madrugada de ontem os gregos anunciaram que haviam atingido os 75% de adesão para a troca voluntária da velha dívida com valores reduzidos e novos prazos e termos contratuais. O nível de 75% é o ponto a partir do qual os outros têm que aceitar, e rapidamente se chegou aos 96% de adesão, ficando de fora títulos muito específicos.

Os ministros de finanças da Zona do Euro anunciaram um empréstimo de US$ 47 bilhões à Grécia. Com isso, os gregos fazem um pagamento à vista que foi negociado com os bancos. Nada ficará com a Grécia. É para entrar por uma ilha e sair por outra e ir direto para os cofres dos bancos.

Era isso que se buscava em todas essas idas e vindas dos últimos meses: que os bancos aceitassem dar um desconto à Grécia, para que a Europa emprestasse uma parte que retornasse aos bancos. Agora só falta a Grécia ser capaz de honrar o que resta da sua dívida, cumprir as metas fiscais impostas pela troica (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia). Para isso, ela precisa de crescimento econômico para aumentar suas receitas. E é exatamente isso que está cada vez mais distante. Ontem mesmo veio o anúncio de que no último trimestre do ano eles tiveram 7,5% de recessão. A Grécia está em recessão profunda. Na quinta-feira a taxa de desemprego de dezembro foi anunciada: 21%. País fraco assim não paga dívida alguma, isso sabemos nós aqui desde os anos 1980.

O momento de tensão começou quando se reuniu a Associação Internacional dos Swaps e Derivativos. Horas depois ela saiu com o veredito: como alguns bancos foram forçados a entrar no acordo, então eles podem exigir o pagamento do seguro que compraram para se proteger exatamente do risco de um calote grego. A dúvida era se a cláusula que força a entrada no acordo era um "evento de crédito". Se fosse classificado assim pela associação então o seguro teria que ser pago. Foi classificado assim. Quanto será pago e por quais instituições? Não se sabe ainda. Ontem, o número mais falado era US$ 3 bilhões, mas havia previsões de ser muito mais. O mercado na segunda-feira deve abrir com informações mais precisas, ou dúvidas mais agudas sobre o tamanho do custo que terá que ser pago por quem vendeu o chamado CDS (Credit Default Swap), ou mais popularmente o seguro contra o calote grego. A decisão de hoje também abre um precedente para outros acordos que possam vir a ser feitos no futuro. Os CDS terão que ser pagos. Há vários outros países com dificuldades com suas dívidas na Europa. A Grécia tem sido considerada um teste.

Além disso há o risco de que a Grécia não consiga, pelas dificuldades da sua própria economia, pagar os novos papéis que estão sendo emitidos agora para serem trocados pelos velhos títulos. São obrigações de até 32 anos. Se ela ficar no euro por esse tempo todo, se conseguir retomar o crescimento, se receber novos aportes, se cumprir as metas fiscais, a nova dívida será paga. Mas o risco de um novo calote na dívida nova não está descartado. Só que os juros que ela está sendo obrigada a se comprometer a pagar são tão altos que mesmo se ela não pagar tudo terá sido um grande negócio para os credores.

Há dúvidas sobre vários outros países. A Espanha não cumprirá a meta fiscal e precisa de mais dinheiro. Os juros exigidos de Portugal subiram fortemente nos últimos meses provando que o país é visto como o segundo da fila. A comemoração de ontem tem pouco fôlego. Há muitos outros riscos pela frente e muitos desafios para todos os europeus. A crise da Europa continua.

As encomendas da Petrobrás - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 10/03/12


Dos oito estaleiros que construirão e montarão no País as 33 sondas de perfuração em águas profundas encomendadas em 2011 pela Petrobrás para a exploração do petróleo do pré-sal, apenas três estão prontos e operam sem restrições. Os cinco restantes ainda não saíram do papel ou estão parcialmente construídos. Em alguns casos, o contrato com a Petrobrás prevê o avanço das obras do estaleiro simultaneamente à construção das primeiras embarcações encomendadas, num sistema qualificado como "estaleiros virtuais".

A experiência com esse tipo de estaleiro não tem sido muito positiva para a Petrobrás, que, além das sondas para exploração do petróleo do pré-sal, precisará de dezenas de navios petroleiros para suas operações nos próximos anos. Criado no primeiro governo Lula, o Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef) tem encomendas de 49 embarcações.

Destas, 22 foram encomendadas ao Estaleiro Atlântico Sul (EAS), instalado no Porto de Suape. As primeiras unidades estão sendo construídas e montadas ao mesmo tempo em que o estaleiro vai sendo concluído. O resultado prático dessa combinação é o atraso da primeira unidade, o petroleiro João Cândido, que, embora lançado com grande pompa em maio de 2010 pelo então presidente Lula e entregue à Transpetro em agosto daquele ano, ainda não chegou ao mar por causa de problemas com solda e nivelamento e agora passa por testes. O EAS não deu prazo para o petroleiro entrar em operação.

O sistema de "estaleiro virtual" foi adotado na contratação de seis sondas para o pré-sal a serem construídas pelo estaleiro Jurong Aracruz, a ser erguido em Barra do Sahy, na cidade capixaba de Aracruz. O estaleiro tem prazo de 48 meses após a assinatura do contrato para entregar a primeira sonda; as outras serão entregues em prazos determinados.

O governo de Santa Catarina e a prefeitura de Aracruz - que, além de cederem o terreno, ofereceram benefícios tributários, em troca da formação de mão de obra especializada e preferência na contratação de trabalhadores locais - têm grandes esperanças de que o estaleiro traga benefícios à região. Mas, para atender às expectativas dos governos locais e cumprir os contratos, o Jurong Aracruz terá de andar depressa, na construção e montagem das sondas e, sobretudo, nas obras civis. A reportagem do Estado percorreu o local onde será construído o estaleiro e constatou que, por enquanto, só há mato. Nem o trabalho de terraplenagem foi iniciado.

O projeto é ambicioso. As encomendas assegurarão a operação do novo estaleiro por cerca de 30 anos, com o emprego de até 6 mil trabalhadores diretos e indiretos. O fato de o Jurong Aracruz pertencer a um dos maiores grupos da indústria naval do mundo, com cinco estaleiros em Cingapura, sugere que, apesar dos prazos e das eventuais dificuldades operacionais, os contratos poderão ser cumpridos.

É necessário ressalvar, no entanto, que a presença de uma empresa com experiência internacional no grupo controlador de um estaleiro contratado para fornecer para a Petrobrás não é garantia de cumprimento pleno das condições contratuais.

Responsável pela parte tecnológica do projeto do estaleiro EAS, a coreana Samsung Heavy Industries detém apenas 6% do grupo que o controla - os principais sócios são os grupos Camargo Corrêa e Queiroz Galvão. Embora ainda não tenha entregue a primeira unidade encomendada pelo Promef, o EAS recebeu vários outros contratos na área de petróleo. Além das encomendas dos petroleiros, ganhou as de sete das 33 sondas para o pré-sal. Sobre o cronograma para a entrega dessas unidades, o EAS disse ao Estado que "reavalia os prazos no sentido de atender o mais rapidamente possível as encomendas".

Na semana passada, a presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster, se reuniu com os sócios do EAS para examinar o andamento dos contratos. Na segunda-feira (5/3), o jornal Valor informou que Foster está negociando a mudança do controle do EAS, para tornar a Samsung sua maior acionista.