O Estado de S.Paulo - 07/09
A inflação de agosto (evolução do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA) ficou dentro do esperado, em 0,24% em relação ao nível de preços de julho. Em 12 meses, a inflação caiu de 6,27% em julho para 6,09% (veja gráfico).
Desta vez, a presidente Dilma provavelmente não dirá que "a inflação é uma maravilha!", como há um mês, quando a inflação de julho foi de apenas 0,03%.
É que uma leitura atenta dos números ontem divulgados pelo IBGE mostra que as mesmas fontes de inflação que preocupavam o governo há três ou quatro meses ou estão de volta ou estão em formação.
O índice de difusão, por exemplo, que mostra o número de itens da cesta de consumo em alta, passou de 56,1% em julho para 58,6%. A inflação sobre serviços também saltou 0,6% em agosto, o que perfaz 8,58% em 12 meses (veja o Confira). É indicador de que a demanda continua forte demais.
Ainda assim, é provável que nos próximos dois meses a inflação em 12 meses caia dos 6,0% (veja o Confira), porque os números dos últimos quatro meses do ano passado foram altos, de 0,57% a 0,79%, e entrarão no cálculo com muito peso. Mas deverá fechar o ano próxima dos 6,0%, como o mercado já vem projetando, o que pode ser acompanhado pela Pesquisa Focus, do Banco Central.
Há razões técnicas para esperar por uma inflação mais alentada neste resto de ano. A mais profunda é a de que, ao contrário do que reza a última Ata do Copom, a política fiscal continua expansionista, ou seja, continua não ajudando a combater a alta de preços. Mas há outros ovos na incubadeira. Um deles é a esticada das cotações no câmbio. A leitura dos analistas é que apenas pequena parte da alta do dólar, de 8,26% nos últimos três meses, foi repassada para a inflação. Outro problema são os preços represados por decisão do governo, especialmente os dos combustíveis, o da energia elétrica e o dos transportes públicos. Mais cedo ou mais tarde, terão de ser descarregados, ao menos parcialmente, sobre a cesta de consumo.
A lupa dos técnicos também se concentra sobre o que chamam de núcleo de inflação, que é aquele conjunto de preços menos sujeito a volatilidades, como o dos alimentos. E os núcleos de inflação estão todos mostrando maior elevação do que a própria inflação.
A questão seguinte consiste em saber que decisões de política econômica poderão ser tomadas para combater a inflação. Os juros básicos (Selic), hoje nos 9,0% ao ano, certamente subirão ainda este ano, pelo menos até 9,75%. Mas deve ser tudo ou quase tudo. Ainda que continue corroendo o poder aquisitivo do trabalhador, a inflação deixou de figurar na pauta do governo como problema a ser atacado com urgência. O uso do arsenal anti-inflacionário pelo governo sempre traz custo político. Implica riscos eleitorais que o governo não parece disposto a correr.
Isso sugere que qualquer atitude mais drástica contra a inflação só será tomada se a disparada dos preços furar o teto admissível, que são os 6,5% ao ano (4,5% da meta mais os 2 pontos porcentuais da margem de tolerância).
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