FOLHA DE SP - 07/09
Difícil que manifestações do 7 de Setembro repitam a euforia vista em junho, mas nem por isso desejo de mudança terá esmorecido
Está convocado para hoje, em 149 cidades, o que ativistas de redes sociais denominam "o maior protesto da história do Brasil".
Chegará a tanto? É certo que novos fatores de indignação se somam àqueles que deram corpo às manifestações de junho. A decisão da Câmara de manter o mandato do deputado Natan Donadon (ex-PMDB-RO), condenado por desvio de recursos públicos, já seria motivo forte para voltar às ruas.
Para esses políticos, nada mudou e nada mudará no país. Continuam a comportar-se em completo alheamento do sentimento popular, para nada dizer das regras básicas de decência.
O mesmo, e mais ainda, pode ser dito dos que aproveitaram os protestos para estender suas atividades diárias de destruição e agressão. Lemas "contra o sistema", sem formulação concreta, surgem como espécie de máscara mental de autojustificação, acompanhando máscaras reais, capuzes e pseudônimos com que se protegem da justa responsabilização penal.
Como toda forma de extremismo, esse comportamento tende a afastar a maioria do palco das manifestações. O vandalismo pesa, assim, para o lado da desmobilização, e os "black blocs" indiretamente prestam serviço aos que nada querem mudar na sociedade.
Haveria pouco tempo, de todo modo, para que já surgissem medidas concretas para transportes, saúde e educação --áreas talvez mais importantes, para muitos, do que a reforma do sistema eleitoral.
Algo de paliativo se fez, é verdade. A implantação de mais uma série de corredores de ônibus em São Paulo reduziu o tempo de trajeto do transporte público. De forma atabalhoada, o programa Mais Médicos serviu ao menos para que o governo federal pudesse dizer que faz alguma coisa.
Paralelamente, cresce um movimento de abaixo-assinados no sentido de mudar as regras de financiamento das campanhas e a formação das bancadas partidárias.
A inflação dá mostras de ceder, enquanto o crescimento do PIB não enseja otimismo a médio prazo.
Lançaram-se 5 milhões de convites para as manifestações pela internet, contando com 400 mil cliques de adesão. Quanto deste segundo número se refletirá nas ruas é impossível prever.
Tudo era impossível de adivinhar, porém, em junho. Mais do que o erro ou acerto nas previsões, e seja qual for a dimensão dos atos de hoje, outra coisa importa: as esperanças de mudança dos brasileiros. Que estas não se desviem nem esmoreçam ao longo do caminho.
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