CORREIO BRAZILIENSE - 10/02
A “Acadêmicos de Dilma” abriu o desfile com a redução da tarifa de energia, mas o preço da gasolina abaixou a nota. Nas arquibancadas, o povo está apático. Nos camarotes, políticos não escondem o ar de desânimo
Uma escola de samba, para ter sucesso, precisa agradar no conjunto e em vários aspectos e detalhes. O mesmo ocorre com um governo. Na semana passada, um integrante da base governista proclamava numa roda que a presidente Dilma Rousseff só chegará inteira ao fim deste desfile, leia-se 2014, se sua popularidade não ficar abaixo daquela desfrutada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se descer, avisam alguns, será sinal de que ela poderá ter problemas, com risco de queda. Dentro do PT, alguns levantam o leque de fatores capazes de levar a esse “cruzamento declinante” nas “arquibancadas”, onde está o povo; ou nos “camarotes”, onde se instalam os políticos.
O desencanto da turma dos camarotes com a “Acadêmicos de Dilma” é visível a olho nu. Nos últimos dois anos, Dilma segurou os cargos de segundo escalão, afastou indicados do PMDB, do PR, e até do PT. Para completar, o rol de pessoas que ela costuma consultar nos mais diversos setores (em linguagem carnavalesca, seria dar lugar de destaque) não inclui um só nome dos partidos aliados. Nem os petistas têm muito espaço nos carros alegóricos. Dilma é ela, rainha da bateria, porta-bandeira. E Lula é ele, vai de puxador do samba e mestre-sala. E não é de dar muita “ousadia” aos políticos, salvo as exceções em que percebe alguma profundidade de ordem técnica.
Esse estilo mais fechado — somado à sensação dos políticos de que isso não vai mudar — agrega outro fator que liga o pisca-alerta palaciano: a mudança de eixo do Congresso Nacional. Vamos começar pela presidência da Câmara. Por mais que o gaúcho Marco Maia fosse visto no Palácio como alguém capaz de travar alguns carros alegóricos da “Acadêmicos de Dilma”, ele pertence ao PT, que compõe a bateria e a velha guarda da escola. Portanto, até os arroubos eram meio que contidos, para não afetar o partido.
Durante a gestão de Marco Maia, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, tinha planos de virar presidente da Câmara, uma espécie de ritmista. Nessa posição, não brigava com a direção da escola para, assim, garantir o apoio do PT.
Eduardo Cunha, o novo líder do PMDB, e o próprio Henrique Eduardo hoje têm outro “eixo”. Cunha pretende se firmar dentro da bancada como um nome capaz de conviver na luz dos holofotes sem se queimar e ainda ser elogiado por seu partido. Para obter o apoio da família peemedebista, sambará de acordo com o que o partido deseja, quer agrade ou não ao Planalto. Henrique Eduardo Alves, por sua vez, pretende se firmar no cargo de presidente ressaltando o parlamento, ou seja, analisando os vetos e o que mais chegar.
Certamente, num ano sem eleições, a Câmara tende a ficar bem acima das 44 votações nominais abertas realizadas em 2012, metade do que foi votado em 2011 (obviamente, a razão principal da queda no ano passado, mais do que infidelidade dos partidos, residiu nas eleições, como bem demonstrou o levantamento da Consultoria Arko Advice). O problema, entretanto, não é o número, e sim a qualidade dos projetos que estão por vir, a maioria considerada indigesta pelo governo. Lá vêm os royalties, a regulamentação da Emenda 29 e a onda de temas que o Planalto passou dois anos tentando evitar, seja com vetos ou, simplesmente, manobrando para tirar do plenário.
No Senado, não será diferente. O novo presidente, Renan Calheiros, começa a desfilar focado em se estabilizar no cargo. Se essa estabilidde estiver associada a ser cordial com o Poder Executivo, ele o fará. Caso contrário, o lema de Renan, segundo alguns, será o da “farinha pouca, meu pirão primeiro”. E Dilma que se cuide para não ser atropelada como Lula foi em 2007 na votação da CPMF, a grande derrota do governo entre os senadores. Naquela época, há quem diga que o Senado estava tão entretido com Renan que não percebeu a falta de votos. Agora, todo o cuidado é pouco para evitar que situações como aquela se repitam.
Enquanto isso, na arquibancada…
Tudo o que foi dito acima tende a se resolver, entretanto, se a arquibancada aplaudir efusivamente a “Acadêmicos de Dilma” no fim de 2013, quando as escolas começam os ensaios para o ano seguinte, no caso, as eleições presidenciais. E, para isso, avaliam alguns, basta que ela consiga manter a sensação de que a crise, apesar dos pesares, não levou embora aquele sentimento de sobreviventes e vencedores que muitos brasileiros têm hoje quando conseguem adquirir algo com que sonharam a vida inteira, ou, simplesmente, ver o filho numa posição melhor do que a sua própria. A queda da conta de luz foi apenas o início do desfile, que quase não começa por conta do aumento da gasolina e seus reflexos. Mas essa é outra história. Ainda tem muito carnaval para a “Acadêmicos de Dilma”. Esse, na quarta-feira, estará apenas começando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário