FOLHA DE SP - 10/02
Do ponto de vista do crescimento, 2012 não foi nada bom: só não fomos piores do que o Paraguai
Na última quinta-feira, o IBGE divulgou a inflação de janeiro de 2013. O índice de preço ao consumidor amplo (IPCA) elevou-se em janeiro contra dezembro de 2012 0,86%.
Em 12 meses, a elevação do índice foi de 6,15%. Em que pese o índice ter sido pressionado pela fortíssima elevação do item bebidas e alimentos, não há dúvida de que vivenciamos um lento e persistente processo de descolamento da inflação da meta de 4,5% ao ano e de deterioração dos fundamentos.
Como a inflação apresenta enorme variabilidade, os analistas acompanham a evolução dos núcleos da inflação, que é uma medida da inflação de fundo da economia.
Para calcular os núcleos da inflação utiliza-se metodologia que suaviza a inflação de seus componentes mais voláteis.
Há várias metodologias. No longo prazo, elas contam aproximadamente a mesma história.
A inflação de fundo (medida pelos núcleos) apresenta uma contínua queda desde a forte elevação da inflação que houve na virada de 2002 para 2003, em função do processo de transição política e do medo que os investidores tinham de um governo petista.
De um nível de 7% em meados de 2004, os núcleos reduzem-se continuamente até o nível de 4% observado em meados de 2007.
A partir desse momento, quando aparentemente começou um período de maior leniência com a inflação, os núcleos elevam-se de 4% em meados de 2007 para os atuais 6%. Há inquestionável deterioração da inflação nesse período.
Repercutindo a divulgação de quinta-feira passada, o blog Achados Econômicos documenta que, entre 19 economias latino-americanas, somos a sexta com maior índice de inflação. Na nossa frente estão: Venezuela, Argentina, Haiti, Uruguai e Nicarágua.
Dado que as demais economias latino-americanas compartilham diversas características com a nossa, além de terem passado por processo de formação histórica próximo ao nosso, é natural tomá-las como grupo de controle.
Por essa métrica, estamos bastante mal na foto no que se refere à inflação.
É sabido que, do ponto de vista do crescimento, 2012 não foi nada bom: somente não fomos piores do que o Paraguai. Assim, por ora, estamos no pior dos mundos: inflação em alta e crescimento em baixa.
Por aqui, a leniência com a inflação está associada à forte alteração da política econômica que houve em seguida à saída do ministro Antonio Palocci da Fazenda em 2006 e à proeminência assumida na formulação da política econômica por economistas chamados de desenvolvimentistas.
Houve outros períodos em nossa história econômica do pós-guerra em que a leniência com a inflação conviveu com governos ditos desenvolvimentistas.
Os dois exemplos mais marcantes foram a forte aceleração da inflação que houve no governo JK e a desistência dos governos militares em combater a inflação no período do presidente Geisel.
Em ambos os casos, os governos priorizaram grandes projetos de desenvolvimento, com forte dirigismo do setor público.
Sempre houve a ideia de que o crescimento econômico que seria promovido pelo desenvolvimentismo seria o antídoto que acabaria com a inflação.
Parece que a atual onda de desenvolvimentismo repete o diagnóstico do passado. Há, no entanto, diferenças. Havia à época dos outros surtos desenvolvimentistas o diagnóstico de que o motor do crescimento seria o crescimento do investimento. Atualmente, há uma ênfase em estimular o consumo.
Segundo, somos hoje democracia vibrante que impõe limites estreitos à capacidade dos governos em alavancar poupança forçada dos indivíduos por meio de aceleração da inflação.
Em que pese o pessimismo da coluna, a população não pensa da mesma forma.
A presidente é muito popular. O regime atual de política econômica tem conseguido, apesar da deterioração da inflação e do crescimento medíocre, manter renda em elevação e desemprego em baixa.
Se nada se alterar em um ano em meio, o atual governo estará em ótima situação por ocasião das próximas eleições.
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