FOLHA DE SP - 28/10
Num giro recente pela Ásia, participando de debates e conversas com investidores, aprofundei-me num dos temas econômicos mais quentes hoje: a desaceleração chinesa (e seus efeitos no Brasil).
A China teve um modelo de crescimento baseado num tripé de mão de obra abundante e barata, poupança e investimentos elevados e política de exportação agressiva.
A crise americana causou o primeiro abalo nesse tripé ao reduzir a demanda por exportações. A China compensou essa perda com investimento maciço em infraestrutura e um boom imobiliário estimulado por crédito. Mas, na crise europeia, as limitações desse modelo tornaram-se evidentes, com o surgimento de bolhas imobiliárias e de crédito.
O investimento em infraestrutura é sempre positivo ao criar empregos e consumir produtos, porém, no longo prazo, vale pelo que adiciona de produtividade com o uso efetivo da obra. E verificou-se grande desperdício.
Paralelamente, segue no país mudança gradual e de longo prazo do modelo exportador para o aumento do consumo doméstico.
Fatores demográficos estruturais, frutos da política de filho único, reduzem gradualmente a disponibilidade de mão de obra barata e a necessidade que havia de criação de 20 a 30 milhões de empregos/ano. Some-se a isso a alta da renda e do poder de compra, que elevou a demanda doméstica e os custos de produção, e temos um movimento estrutural que não será enfrentado com medidas contracíclicas. Assim, a China, que chegou a crescer 12% ao ano, via 9% como piso e 10% como média, começa a encarar crescimento de 7% com tranquilidade.
Projeções comparando a história recente de Cingapura, Coreia do Sul e outros países indicam que a expansão do PIB chinês deve cair em função do aumento da renda e da evolução demográfica.
Para o Brasil, os efeitos, apesar de grandes em alguns setores, devem ser moderados como um todo.
De um lado, há uma queda na forte demanda por commodities metálicas brasileiras, dada a diminuição das obras de infraestrutura e imobiliárias na China.
Por outro, o aumento da renda muda a dieta chinesa, elevando o consumo de alimentos, principalmente de proteína, com maior demanda por carne, frango, soja e outros grãos exportados pelo Brasil. Além disso, o grande motor de crescimento da economia brasileira é o mercado de consumo doméstico.
Portanto, como o Brasil tem uma pauta de exportações de commodities diversificada e um robusto mercado interno, o impacto aqui, no médio prazo, tende a ser menor do que em países com exportação concentrada em produtos minerais e com economias menos complexas que a nossa.
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