Os olhos hoje estão voltados para São Paulo, onde, se confirmada, a vitória do PT selará a troca de bastão entre os tucanos e colocará a presidente Dilma na posição de favorita para o futuro próximo
A partir de hoje, 2014 está logo ali no calendário dos políticos. E o recado básico das urnas é o de que PSDB e PT ainda vivem uma polarização na política nacional. Portanto, se o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ou quem mais chegar, quiser alguma clareira para posar uma candidatura presidencial daqui a dois anos, terá que cavar esse espaço e o caminho não será fácil. Afinal, o mesmo PT que perdeu terreno em Recife, concorre voto a voto com os socialistas em Fortaleza, e ainda lidera a corrida em João Pessoa contra os tucanos. Ou seja, o fato de o PT ter perdido Recife pode ser compensado em outras praças da região.
Se o jogo praticamente empatado no Nordeste tira de Eduardo parte do fôlego rumo a uma carreira-solo, em São Paulo as previsões de vitória de Fernando Haddad fazem acender o pisca-alerta no ninho tucano. Isso porque mantém o PT numa boa posição para a próxima corrida eleitoral daqui a 16 meses. Afinal, nada indica hoje que o barco Brasil vá afundar economicamente nos próximos dois anos. As perspectivas são de recuperação. Para completar, se Haddad vencer e seu governo for do agrado dos paulistanos na primeira fase, a lógica indica que os tucanos podem ter dificuldades de garantir a reeleição de Geraldo Alckmin para o governo estadual — e, por tabela, menos votos numa corrida presidencial.
Diante desse quadro, a depender do resultado de hoje em São Paulo, o PSDB irá para o divã refazer suas avaliações e buscar um discurso mais moderno, que lhe permita se apresentar ao eleitor como uma “novidade” daqui a dois anos — algo, entretanto, que só tem alguma chance de sucesso se houver no eleitor brasileiro de maneira geral o desejo de mudança.
Até aqui, o PSDB manteve sinais trocados com o eleitor do ponto de vista nacional. Quando José Serra se apresentou com jingle “a mudança é azul”, em 2002, ele representava a continuidade e o brasileiro, de uma maneira geral, queria mudar. Depois, em 2006, quando Lula embalava o país com seu talento para dialogar diretamente com a população, o PSDB veio com o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Desconhecido fora de São Paulo, Alckmin não emplacou e ainda caiu na armadilha do discurso contrário às privatizações. Quatro anos depois, lá estava Serra novamente como candidato, numa campanha contra a “novidade” Dilma Rousseff e o governo bem avaliado de Lula. Ali, o PSDB tentou, inicialmente, uma campanha da continuidade dos projetos governamentais quando a população enxergava nele o candidato da mudança. Ou seja, o discurso não colou e a campanha migrou para o terreno religioso ao fim do primeiro turno e no segundo. Não deu certo.
Nesta campanha paulistana, mais uma vez, ao que tudo indica, o partido de Fernando Henrique Cardoso caiu no mesmo problema. Os altos índices de Celso Russomano, o “moço da tevê” como ouvi de muitos taxistas na cidade, indicaram o desejo de mudança, embora os tucanos mantivessem seus 30%. Mas, entre um Russsomano desapadrinhado e um outro candidato defendido por Lula e pela presidente Dilma, o paulistano escolheu levar Haddad e Serra ao segundo turno para conhecer melhor Haddad e confrontar as propostas dos dois.
O problema é que, neste segundo turno, as propostas para a cidade ficaram em segundo plano. As discussões foram mais no sentido de desconstruir o outro do que propriamente mostrar a que veio. E, sendo assim, a lógica hoje é a de que o desejo de mudança fale mais alto e os votos de Russomano migrem para Haddad. Serra, por sua vez, bate forte na tecla do mensalão, um julgamento que, da parte política, parece ter ficado resolvido em 2005.
Enquanto isso, no futuro…
Toda essa reflexão tem sido feita a portas fechadas e voltará com toda a carga no ninho tucano a partir desta segunda-feira. O partido pretende aproveitar esta reta final de 2012 para passar o bastão da candidatura presidencial definitivamente ao senador Aécio Neves, de forma a deixar os paulistas dedicados à tarefa de proteger o terreno comandado por Alckmin. Afinal, 16 meses voam e a ordem é construir um discurso mais sólido contra uma candidata que, pelo andar da carruagem, chegará à largada oficial com ares de favorita.
O eleitor, esse senhor absoluto da democracia, ainda não está muito aí para essa montagem de 2014. Ele não caminha tão rápido no calendário como os políticos. Na mente desse sábio cidadão comum, vem aí o Natal, as festas de fim de ano, as contas a pagar. Talvez alguns já vislumbrem o planejamento para a Copa do Mundo no Brasil, daqui a dois anos, mas é só. Quanto aos políticos, os próximos capítulos prometem. Vamos acompanhar.
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