FOLHA DE SP - 14/03/12
Presidente não percebeu os sinais de insatisfação dos partidos aliados
A crise do Planalto com o Congresso dá a dimensão da falta que faz Lula, que se trata de um câncer. Nos oito anos dele houve muitos problemas políticos, mas a condução era bem diferente.
Sem traquejo e sem gosto pela política, a presidente Dilma foi pega de surpresa pela maior derrota de seu governo no Senado e está sendo impetuosa na solução da crise.
Todos os sinais tinham sido dados, com o PMDB expondo seu descontentamento, o PT passivo na defesa da presidente, e os demais aliados (PP, PR, PDT, PSB, PTB e até o PC do B) ora ameaçando o Planalto, ora se aproximando do tucano José Serra em São Paulo. Dilma não viu.
Aliás, nem ela nem sua coordenação política: as ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann, os líderes no Congresso, os líderes dos partidos. Será que estes viram e não falaram ou até ajudaram?
O fato é que Dilma teve dupla derrota quando o Senado vetou a recondução de Bernardo Figueiredo à ANTT. Foi indicação pessoal dela.
A presidente reagiu menos como política, mais como Dilma: irritada, decidiu medir forças com aliados. Após uma dúzia de demissões de ministros, derrubou os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), e na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT). Uma no PMDB, outra no PT.
Há problemas, porém. Um é o "timing", já que um caiu anteontem e outro ontem, véspera e dia da ida tanto de Dilma como do ministro Guido Mantega ao Congresso. No fim os revoltosos enfiaram a viola no saco. E se mantivessem o clima belicoso? Ela correu um risco desnecessário.
Outro problema é que, com Lula ainda fora de combate, Dilma está seguindo sua própria (in)experiência e seus amigos gaúchos, esquecendo-se do equilíbrio regional.
A Bahia perdeu Sergio Gabrielli (Petrobras), Mário Negromonte (Cidades) e Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário), e os gaúchos (e naturalizados) caminham para o 8º ministério se Brizola Neto assumir o Trabalho. Só trocar líderes parece pouco para melhorar o ambiente. E excesso de gauchismo pode ser o gatilho da próxima crise.
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