domingo, outubro 02, 2011

BARBARA GANCIA - Até mais, Darth Vader!



Até mais, Darth Vader!
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 02/10/11 

Adeus, estou de partida. Vou-me embora para o Marrocos fazer uma operação de mudança de sexo, nos encontramos na volta. Deseje-me sorte que eu vou precisar.

Está bem, carrego um pouco nas tintas, talvez a cirurgia a que serei submetida não seja tão dramática, quem sabe eu não possa estar exagerando?

Mas não deixa de ser verdade que me sinto como se estivesse a caminho de uma daquelas obscuras clínicas marroquinas famosas no mundo inteiro por efetuar "extreme makeover" no conjunto motor e funilaria.

A intervenção que farão em mim não será tão radical, admito, nenhum órgão relevante me será extirpado ou adicionado e a previsão é que eu vá entrar e sair andando do hospital no dia em que a cirurgia foi marcada.

O procedimento, disse-me o doutor, é simples e indolor, o médico apenas me aplica um sossega-leão, introduz um bisturi na minha laringe, punciona (hum, sexy!) os edemas que se formaram ao longo das minhas cordas vocais -resultado de anos de consumo de cigarro, de matraquice incessante e da frustrada tentativa de superar o volume das caixas de som dos ambientes (muito finos, diga-se) que frequentei.

Fui diagnosticada com um problema chamado edema tabágico, o que eu imagino que deva ser a antítese da condição vivida pelo lutador Anderson Silva. Nosso campeão do vale-tudo tem voz de Chapeuzinho Vermelho e eu, de Lobo Mau.

Outro dia fui brincar de Lego Star Wars com um amigo de seis anos. Ele logo impôs: "Eu sou o Luke Skywalker". Como assim? "E eu sou quem?", perguntei, pensando que a resposta seria "Princesa Léa". "Você é o Darth Vader." Bem, se é assim, o senhor que se vire aí com seu jogo, seu controle e seu "nunchuck" que eu vou pra casa fazer uma assadeira de brigadeiro para comer sozinha. Quem sabe não decida fatiar um bode com sabre de luz para acompanhar?

Diga a verdade, um comentário desses não era para dar uma emburrada generalizada? É muito traiçoeiro esse tal de edema tabágico. Ele não prega peças só em crianças de seis anos. Trabalhei uma legião de atendentes de telemarketing no ouvido vibrando. Na décima vez que eu interrompo para proclamar: "Veja bem, não é senhor, é senhora" e o sujeito do outro lado não consegue conceber que eu não esteja tirando uma da cara dele, meu humor vai pelo ralo junto com meu dia, minha semana e meu mês.

Resolvi dar um basta nessa novela, mesmo porque meu estilo de vida não tem mais nada a ver com a disputa palmo a palmo por decibéis com a guitarra lá em cima do palco. Incrível como a voz carrega uma identidade e uma história, e a minha (dois maços por dia abandonados ao longo da estrada) não comunga mais comigo. Nem meu cliente merece, não é mesmo?

Chega de submeter os ouvintes da Bandnews FM à possibilidade de partir o carro no poste por conta do susto que a Cuca vem pegar Gancia pode ocasionar. A partir da outra semana, serei uma nova eu. Bom dia luz do sol, bom dia arco-íris, adeus, trevas do bueiro! Farei minha reentrada cantando "You Make Me Feel Like Dancing", do Leo Sayer, em alguma mídia que você consiga acessar. Me aguarde.

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