quinta-feira, julho 07, 2011

FERNANDO REINACH - A frágil relação entre o tamanho dos dedos e do pênis


A frágil relação entre o tamanho dos dedos e do pênis
FERNANDO REINACH
O Estado de S.Paulo - 07/07/11

A curiosidade venceu e anteontem baixei o artigo científico do site do Asian Journal of Andrology. Nesse artigo, cientistas coreanos tentam demonstrar que a razão entre o comprimento de dois dedos - o segundo e o quarto - da mão de um homem é uma medida indireta do comprimento de seu pênis.

Os autores convenceram 140 coreanos a permitir que médicos medissem o comprimento de seus dedos e de seus pênis enquanto estavam anestesiados para se submeterem a uma cirurgia.

Minha primeira curiosidade foi ler a seção em que os cientistas descreviam como haviam sido feitas as medidas. Medir dedos é fácil: existe um osso no seu interior e os dedos não são compostos de tecido elástico. Mas como medir o comprimento de um pênis flácido?

Os cientistas descrevem como usaram uma régua para medir o comprimento partindo do osso pubiano (a parte da frente da bacia) até a ponta do pênis. Honestamente, eles descrevem a dificuldade encontrada: a estrutura flácida se curvava, dificultando a medida. A solução foi esticar (stretch) o pênis e, então, fazer a medida.

Curioso, fui tentar investigar o quanto eles esticaram e como padronizaram a esticada. Nada é informado no trabalho, a não ser que o pênis, antes da medida, estava totalmente esticado (fully stretched).

Mas o que significa isso? O tecido do pênis é extremamente elástico e no seu interior se encontra o corpo cavernoso, um tecido esponjoso onde se acumula o sangue durante a ereção, capaz de aumentar de comprimento facilmente.

O problema é o mesmo que você encontraria se eu pedisse para você medir o comprimento de um elástico esticado. Você me diria: "Mas quanto devo esticar o elástico? Até quase ele se romper?" Logo imaginei que os erros nas medidas eram grandes.

Satisfeita a curiosidade sobre os métodos, fui verificar que resultados justificavam tão inusitada conclusão. Os resultados estão na figura reproduzida nesta página. É um gráfico em que, no eixo horizontal, está a medida da razão entre o segundo e o quarto dedo (digit ratio). Como os dedos são quase do mesmo tamanho, essa razão varia de 0,85 a 1,15. No eixo vertical, está a medida do pênis esticado (stretched penile length), em centímetros.

No gráfico, você vai ver 140 pontos, um para cada homem analisado. O maior pênis esticado tinha 17 cm, e os dedos desse homem tinham um digit ratio de 0,90. Chama a atenção no gráfico o fato de que os pontos parecem estar distribuídos aleatoriamente e não em uma reta, como seria esperado se a correlação entre as medidas fosse perfeita.

Esse tipo correlação nunca é perfeita, mas se você fizer um gráfico entre a altura de uma pessoa e sua idade, vai observar que os pontos, apesar de dispersos, agrupam-se em volta de uma linha média. No caso do gráfico coreano, os autores utilizaram um programa para tentar determinar qual a linha que melhor representa os pontos.

A linha selecionada pelo programa pode ser observada no gráfico. Ela é quase horizontal, mas, como cai da esquerda para a direita, indica que à medida que o digit ratio aumenta, o tamanho do pênis diminui. Basta olhar a linha e os pontos para concluir que a correlação é fraca e poderia ser facilmente alterada dependendo do grau de sadismo do investigador que esticou os pênis e de seu humor no dia de cada cirurgia.

Dados questionados. Minha conclusão é a seguinte: na melhor das hipóteses, esse estudo sugere que talvez possa existir alguma correlação remota entre essas duas variáveis. Para minha surpresa, a revista publicou, junto com o trabalho citado, um editorial no qual os dados são questionados e é recomendada cautela quanto à sua interpretação.

A beleza da ciência é que cada um de nós pode verificar ou mesmo repetir cada trabalho publicado. Podemos examinar os dados originais e decidir se acreditamos ou não nas conclusões. Do meu ponto de vista, rapazes apaixonados, em jantares à luz de velas, podem continuar a colocar sua mão sobre a mão da futura namorada sem medo de serem acusados de propaganda enganosa.

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