Lado negativo
O Globo - 30/01/2010 |
A entrega do prêmio de Estadista Global do ano de 2009 ao presidente Lula pelo Fórum Econômico Mundial, que se reuniu esta semana em Davos, na Suíça, contribuiu para que a trajetória do Brasil se destacasse nas discussões nesse importante encontro de líderes empresariais, políticos, acadêmicos e renomados analistas financeiros. O desempenho da economia brasileira durante a crise, assim como os avanços sociais alcançados pelo país, motivaram elogios. Mas, como é característico do Fórum, também foram feitas críticas e algumas observações que servem de alerta para a correção de rumos. Conhecido por sua visão cáustica a respeito das perspectivas da economia mundial, a ponto de às vezes ser chamado de “dr. Apocalipse”, Nouriel Roubini, que leva no currículo a previsão da crise financeira mundial, falou sobre o Brasil na abertura do Fórum, declarando-se otimista quando ao futuro do país. Mas disse esperar que o próximo presidente promova reformas estruturais que Lula deixou de fazer. Roubini tem uma opinião ácida sobre o papel que os sistemas financeiros vêm exercendo no mundo. Portanto, sua crítica não pode ser rotulada como “neoliberal”. E exatamente o lado negativo que apontou sobre o Brasil foi o fato de o tamanho do governo e da burocracia ser muito grande. “Há excessiva distorção em taxação, e vocês (brasileiros) precisam de investimentos em infraestrutura, numa combinação de investimentos públicos e privados”, frisou. Está correto. Trata-se de uma questão tão evidente que o próprio governo já nem tenta mais esconder. Para se atingir os objetivos da política fiscal em 2009, o Ministério da Fazenda precisou recorrer a artifícios, contabilizando receitas ainda não totalmente asseguradas e retirando dos gastos certas despesas que talvez não deveriam ser enquadradas no PPI (Projeto Piloto de Investimentos). Como agora é necessário olhar para a frente, em 2010 o país não pode correr o risco de repetir, de forma alguma, o desempenho das contas públicas do ano passado. A redução da dívida estatal como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) é peça fundamental para que a economia consiga equacionar seus problemas. Como afirmou muito bem Roubini, o Brasil precisa ampliar seus investimentos em infraestrutura, e isso não será possível sem que o Estado contenha o ímpeto ao avançar sobre a poupança doméstica e torne o país mais dependente de financiamentos externos. Reduzir o déficit público em 2010 precisa ser uma das prioridades da política econômica. |
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