quinta-feira, maio 07, 2009

CLÓVIS ROSSI

A casta fecha o círculo

FOLHA DE SÃO PAULO - 07/05/09

SÃO PAULO - Peço antecipadamente perdão ao ombudsman destaFolha, Carlos Eduardo Lins da Silva, por ser obrigado a reproduzir duas frases de sua crítica interna.
As frases: "Depois de Gabeira, Suplicy. (...) Depois desses dois, vai ser difícil convencer um cidadão comum de que no Congresso haja qualquer pessoa digna da confiança pública".
Se cito o Carlos Eduardo é não apenas pelo respeito a um notável profissional mas também por ser bem menos sanguíneo do que sou.
Quando faz uma afirmação tão contundente, pode-se comprá-la pelo valor de face, sem nenhum desconto, ao contrário do que poderia ocorrer no meu caso, com mais tempo de estrada, mais convivência (forçada) com congressistas e um teor de frustrações, por isso mesmo, bem mais elevado.
O ponto é exatamente o que Carlos Eduardo toca: como é possível ao público confiar em qualquer parlamentar se escorregam mesmo congressistas que eram tidos até ontem como paradigmas da ética e da moralidade públicas, casos de Eduardo Matarazzo (PT-SP) e Fernando Gabeira (PV-RJ)?
Não adianta Suplicy alegar que devolveu o dinheiro das passagens indevidamente usadas. Também não adianta Gabeira afirmar que foi um "erro". O que fica é o fato de que a viciada cultura política do Congresso (e dos políticos em geral) vai contaminando tudo e todos como um vírus sem vacina.
Aliás, os privilégios solicitados por ministros do STJ mostram que esse tipo de cultura alcança esferas que vão além do Congresso e além da política, se entendida esta apenas como política partidária.
Repito o que já escrevi aqui: criou-se no Brasil uma casta que toma como direito adquirido o que não passa de privilégio obsceno.
Esperar mudanças em um sistema de casta por iniciativa dos seus beneficiários é acreditar em Papai Noel ou no saci-pererê.

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