sábado, junho 23, 2012

Mão de vaca - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 23/06

Hillary Clinton, francamente, viajou dos EUA até o Rio para ficar umas poucas horas e só anunciar US$ 20 milhões para ajudar projetos de energia renovável na África.
A intenção é boa, mas o dinheiro, ridículo.

Veja só.
Segunda, por exemplo, a África do Sul, país rico para padrões africanos, mas muito pobre se comparado aos EUA, anunciou um empréstimo de US$ 2 bi ao FMI para socorrer a Europa.

Fator Patriota
Dilma tem dito em público que a Rio+20 foi positiva. Mas há gente no governo desapontada com Antônio Patriota, que, como representante do país-anfitrião, deveria ter sido mais firme na defesa de avanços.
É. Pode ser.

Democracia é melhor
A área de segurança da Petro-bras recomendou ontem aos funcionários que cancelem as viagens ao Paraguai estes dias.
A estatal tem uma rede de postos, uma distribuidora de gás e é a única fornecedora de combustível para aviões naquele país.

No mais
O impeachment relâmpago de Fernando Lugo parece que foi feito dentro da lei paraguaia.
Mas nenhum democrata, mesmo com a pior das impressões de Lugo, pode achar normal este rito sumário num tema tão relevante. Não, não é democrático.

Crimes em Londres
A editora Arqueiro vai lançar no Brasil “Missão Jogos Olímpicos”, continuação de “Private”, de James Patterson, o autor americano de suspense que já vendeu 260 milhões de exemplares.
Sai em julho, na carona dos Jogos de Londres, tema da trama.

ESTE SAÍRA
-pintor (Tangara fastuosa), ou pintor-verdadeiro, parece até posar, em seu almoço, para a lente do nosso correspondente no Jardim Botânico, Laizer Fishenfeld. O penoso faz aqui uma aparição rara, pois é nativo do Nordeste. Que Deus o proteja, conserve o querido Laizer e a nós não desampare jamais

Eu bebo sim
Na tarde de quinta, no Parque dos Atletas, a ministra Izabella Teixeira sugeriu aos presentes, entre eles o ator americano Edward Norton, que tomassem muitas... caipirinhas. Para reforçar, disse se tratar de “produto da biodiversidade brasileira”, e, fora do microfone, entregou-se:
— Só ontem, tomei quatro.

Ila-ilarie, o, o, o!
A primeira-dama de El Salvador, a brasileira Vanda Pigna-to, teve dois encontros fora da agenda oficial da Rio+20.
Um com... Angélica, outro com... Xuxa.

Naouri é local
Jean-Charles Naouri, o chefão do francês Casino que ontem desbancou Abílio Diniz do controle do grupo Pão de Açúcar, volta ao Brasil dia 28 agora para uma reunião de rotina do conselho da rede supermercadista.

Cena carioca
Nestes dias de Rio+20, dois mineiros papeavam num vagão do metrô, quarta, sobre a programação noturna que fariam.
Até que um sugeriu: “Vamos para a Lapa?” E o outro: “Isso é o maior programa de índio.” Só que, no mesmo vagão, viajavam três índios. Houve troca de olhares e mal estar. Há testemunhas.

Índio querchope...
Aliás, o Jobi virou ponto de encontro de índios nesta Rio+20. Vários bebiam chope ali quinta.

Alta médica
João Carlos Martins, o maestro que outro dia operou o cérebro com o neurocirurgião Paulo Nie-meyer, já rege, hoje à noite, no Municipal do Rio, totalmente recuperado, a sua Filarmônica Ba-chiana Sesi-SP, num concerto pelos 30 anos da Dell’Arte no Brasil.

Sobrou para cá
De um parrudo na porta do Gero, o restaurante de bacanas em Ipanema, ontem, para um morador que reclamava do amontoado de carros de seguranças mal parados, dificultando a passagem, enquanto o rei e a rainha da Suécia almoçavam lá dentro:
— Liga pro GLOBO!

Rio+saliência

Ontem, para celebrar o fim da Rio+20, rolou uma festa no restaurante Espírito Santa, em Santa Teresa, chamada... “Cópula dos Povos”, com DJs estrangeiros que vieram para a conferência.
Uma espécie, digamos, de saliência sustentável.

JAPA GOSTOSA


O PT avança - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 23/06

Com a saída de Eduardo Braga (PMDB-AM) da liderança do governo no Senado, o PMDB vai perder o cargo. Braga será candidato à prefeitura de Manaus. Os líderes do partido já foram informados da intenção da presidente Dilma de nomear um senador petista para a função e decidiram que não vão comprar nenhuma briga por isso. “O cargo é de livre nomeação da presidente”, resumiu o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).

Dilma e a presidência do Senado
O desejo da presidente Dil-ma de fazer o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) o próximo presidente do Senado é conhecido desde março. Na semana de 12 a 16, Dilma tratou do tema com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o líder do partido, Renan Calheiros (AL). Para Sarney, Dilma disse que queria garantir que “alguém seu (do Sarney)” continuasse na presidência da Casa. Para o líder do PMDB, Renan Ca-lheiros, ela argumentou que o noticiário negativo voltaria se ele insistisse em comandar de novo o Senado e o aconselhou: “Você deve ser candidato ao governo de Alagoas, e eu vou te apoiar”

Nem ódio nem vingança, mas nem tampouco perdão. Trata-se de virar a página, por isso, criamos a Comissão da Verdade" — Presidente Dilma, na Rio+20

AS APOSTAS. 
O líder nas pesquisas em São Paulo, José Serra, não é a única esperança de vitória do PSDB. O presidente do partido, Sérgio Guerra (PE), à esquerda do ex-presidente Fernando Henrique, chama a atenção para as candidaturas de Zenaldo Coutinho (Belém), João Castelo (São Luiz, reeleição), Firmino Filho (Teresina), Rui Palmeira (Maceió), Luiz Paulo Vellozo Lucas (Vitória) e Reinaldo Azambuja (Campo Grande).

Garantir a Justiça
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) e o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, reuniram-se no fim da tarde de ontem. Trataram da adoção de medidas para ampliar a segurança pessoal e das famílias dos juízes brasileiros.

A retaliação
O governo brasileiro não fará anúncio oficial, mas em decorrência do golpe ocorrido no Paraguai, que provocou a queda do presidente Fernando Lugo, vai segurar os repasses de pagamentos da Itaipu Binacio-nal ao país vizinho.

O segundo resgate de Maluf
O deputado Paulo Maluf (PP-SP), candidato dos militares à Presidência (1985), sempre foi tratado como um pária desde a redemocrati-zação. Mas foi festejado pelos tucanos no primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique. Maluf apoiava FH e o Real. A lua de mel demorou até descobrirem seu envolvimento com o falso Dossiê Cayman (1998). Agora, é o ex-presidente Lula quem resgata Maluf. É só uma questão de tempo para que Maluf apronte para quem lhe estendeu a mão.

PrevisívelNa cúpula do PMDB o que se afirma é que a presidente Dilma sempre soube que o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) poderia disputar a prefeitura de Manaus ou o governo do Amazonas. Épor isso que a mulher Sandra é suplente.

História
O Partido Liberal Autêntico, do lendário Domingo Laino, adversário da ditadura do Partido Colorado no Paraguai, associou-se aos seus antigos adversários para derrubar o presidente Fernando Lugo, eleito pelo voto popular.

O SECRETÁRIO -Geral da ONU, Ban Ki-Moon, é tratado, do mais graduado ao mais humilde integrante da delegação brasileira, pelo apelido de Pokemón.

NO SHOW
 da Rio+20 para as autoridades estrangeiras, ao ver as ministras saltitando, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, também caiu no samba.

O DELEGADO do governo brasileiro Sérgio Paixão Pardo foi eleito presidente da Comissão de Normas da Conferência Internacional do Trabalho, da OIT. O Brasil foi eleito para a presidência pela oitava vez nas últimas dez conferências.

Radiografia da ineficiência - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 23/06



Incapaz de planejar e de tocar projetos, o governo federal só conseguiu um bom nível de execução em pouco mais de metade - 54% - das 92 ações prioritárias incluídas no orçamento do ano passado, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU). O novo relatório sobre as contas governamentais, entregue ao presidente do Senado na terça-feira, vale como um atestado de incompetência gerencial. A execução de um quinto das ações foi considerada fraca ou muito fraca. A de outros 26%, apenas razoável. Apontada muitas vezes como administradora severa e eficiente - uma fama inexplicável, quando se considera seu desempenho no governo central -, a presidente Dilma Rousseff completou seu primeiro ano de mandato com resultados muito pobres.

O quadro continua ruim, quando se deixa de lado o número de ações e se examinam os valores aplicados nos vários programas e projetos. No orçamento de 2011 foram autorizados R$ 17,3 bilhões para o conjunto de prioridades. Foram empenhados R$ 14,5 bilhões, 84% do total. Mas só foram efetivamente liquidados R$ 10,3 bilhões, 59,5% do valor previsto para o ano. Sobraram dos empenhos R$ 4,3 bilhões de restos a pagar transferidos para os anos seguintes.

O relatório chama a atenção para o atraso na execução de grande parte das obras de infraestrutura e para o consequente aumento de custos. Os problemas decorrem não só de falhas na preparação e na condução dos projetos, mas também da lentidão nas decisões. O autor do parecer, ministro José Múcio Monteiro, alerta para os riscos da indefinição quanto às concessões do setor de eletricidade com vencimento previsto para 2015. Esses contratos representam 18% de toda a geração de energia elétrica e 84% da rede básica de transmissão e envolvem 37 das 63 distribuidoras de energia.

Há problemas de atrasos em todos os setores, mas o quadro é especialmente preocupante quando se trata de energia e de transportes. Neste setor, falta a conclusão dos planos aeroviário, portuário e hidroviário. Sem avanço nesse trabalho, não haverá como consolidar o planejamento das várias modalidades.

Várias das grandes obras foram incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em 2007 e com execução muito atrasada, embora já tenha sido inaugurada oficialmente sua segunda fase. Previa-se inicialmente para 2014 a conclusão das obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e da ferrovia de alta velocidade, mas o prazo dos dois projetos foi ampliado até 2019. "Esses atrasos não são isolados nem restritos aos grandes empreendimentos. No eixo Transportes, a diferença média entre os prazos repactuados no PAC 2 e os prazos estimados ao final do PAC 1 é de 437 dias por ação", comenta o autor do parecer. A falta de capacidade de administrar grandes obras e projetos complexos caracteriza, segundo ele, tanto o governo federal quanto as administrações estaduais e municipais e até as empresas privadas, "responsáveis pela execução de grande parte das obras do PAC". A baixa qualidade dos projetos básicos também prejudica o rendimento dos investimentos, forçando revisões durante as obras, e, portanto, o cronograma e os custos.

O relator acentua a necessidade de melhoras no acompanhamento dos projetos e na avaliação dos resultados. Isso vale não só para as obras financiadas pelo setor público, mas também para o uso dos benefícios fiscais concedidos ao setor privado. A renúncia fiscal aumentou 30% em 2011 e chegou a R$ 187,3 bilhões, mas faltam, segundo o relatório, prestações de contas satisfatórias e indicadores para avaliação do uso desses recursos. Diante disso, o relator sugeriu à Casa Civil dois cuidados na elaboração dos projetos de lei e de medidas provisórias para concessão ou ampliação de benefícios tributários: identificação do órgão gestor da política e especificação de objetivos, indicadores e critérios de avaliação de resultados.

A presidente Dilma Rousseff assumiu o governo prometendo elevar a qualidade do gasto público e a eficiência da administração federal. Pouco fez para cumprir essa promessa, até agora. Refletir sobre a análise e o parecer do TCU sobre o exercício de 2011 talvez a estimule a cuidar mais seriamente do assunto.

PT O CLUBE DE BANDIDOS


Ganhos, perdas e danos do pragmatismo político - MARCO AURÉLIO NOGUEIRA


O Estado de S.Paulo - 23/06


Houve uma época em que os gestos políticos orientavam a opinião pública e os cidadãos. Adversários eram adversários. Podiam conviver educadamente, mas se posicionavam como entidades distintas, donos de posições singulares, que não permitiam movimentos de convergência, a não ser quando estivessem em jogo o futuro da Pátria ou os interesses nacionais. Acordos e alianças se faziam, mas ideias e princípios não se negociavam.

Tudo isso parece hoje pertencer a uma época pretérita que não volta mais. O mundo mudou, a política virou de ponta-cabeça, deixou-se invadir de tal forma pelos negócios e pelo pragmatismo que terminou por perder sua força magnética, de organização de esperanças e utopias.

Houve avanços nesse processo. Algumas ilusões tiveram de ser abandonadas e os protagonistas da política foram convidados a ultrapassar a barreira da pureza, da "ética da convicção" extremada, em benefício da realpolitik, da conquista de eleitores e da conservação do poder - coisas que se diluíram numa sempre mais proclamada "ética da responsabilidade".

O Partido dos Trabalhadores (PT) foi, na época pretérita que não volta mais, o partido que mais longe levou a ética extremada da convicção. Revestiu-a de ideologia, de promessas reformadoras, de compromissos com a população pobre e abandonada. Fez disso uma plataforma que o projetou para o primeiríssimo plano da política nacional e o converteu no principal partido do País.

Vieram, porém, os governos Lula (2002-2010) e tudo se transformou. O pragmatismo cortou o partido de cima a baixo, ao mesmo tempo que o personalismo de Lula o cortou da esquerda à direita. O foco passou a ser muito mais o Estado do que a sociedade civil ou a opinião pública, e o partido se entregou ao controle de posições políticas fortes, convencido de que assim a mudança social aconteceria. Perdeu alguns anéis nessa operação, assistiu à debandada de parte de seus setores mais à esquerda e aceitou o protagonismo inconteste de sua liderança máxima, que se tornou o condutor único de todas as operações, da nomeação de ministros à escolha de candidatos às eleições.

Entretanto, houve uma pedra no caminho. Lula e o PT não conseguiram entrar em São Paulo, que se manteve - Estado e capital - sob controle do PSDB. O desafio paulista cresceu com a vitória de Dilma Rousseff. Afinal, como projetar a preponderância petista em Brasília sem a conquista do principal Estado do País, epicentro da vida econômica e social brasileira?

O pragmatismo foi, então, radicalizado. Para as eleições municipais de 2012, decidiu-se fixar uma candidatura que tivesse cheiro de tinta fresca, com a qual se pudesse contestar o predomínio tucano. E optou-se, mais uma vez, por dar uma guinada para o centro, de modo a neutralizar a força que o PSDB acumulou nesse segmento crucial.

Ainda que de modo meio torto, o PT que se subsumiu a Lula passou a mostrar maturidade, arquivou seus arroubos ideológicos, trocou a pureza pela "responsabilidade". Converteu-se em ator principal e fez com que todos passassem a considerá-lo com seriedade.

O problema é que o ingresso do PT na arena da grande política está se fazendo pela porta da pequena política, onde são feitos pactos com o diabo, ou com jurados inimigos de ontem, pragmaticamente.

Política sem acordos e coligações, sem barganhas e concessões, é como noite sem lua. Não avança nem produz resultados positivos. Mas há modos e modos de se fazer isso.

Ao aceitar os afagos de Paulo Maluf, na cerimônia em que o deputado aderiu à campanha de Fernando Haddad, o PT de Lula reiterou sua conversão ao jogo frio da política. Trocou a paixão pelo cálculo, pela contagem de apoios, minutos de propaganda e votos potenciais. Foi, porém, com sede total ao pote. Permitiu que o líder do PP explorasse ao máximo a aproximação. O gesto simbólico nos jardins de sua mansão foi a cereja no bolo.

Houve ganhos para ambos os lados. O PT incorporou 1'30'' à sua propaganda e passou a dispor, em tese, de acesso mais privilegiado aos redutos eleitorais malufistas, ainda que sem garantias. De quebra, desafinou o coro dos contentes, mostrando que agora são outros tempos, outras amizades, que não somente os tucanos podem comer na seara do centro e da direita.

Maluf, por sua vez, recebeu oxigênio adicional para seguir fazendo política, quem sabe agora com o benefício de não ser mais visto como o bicho-papão do autoritarismo e da corrupção. Também não teve garantia de nada, mas soube como extrair dividendos evidentes da operação. Ganhou uma exposição que, em outros tempos, seria inimaginável. Emplacou, ainda por cima, um aliado na Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades.

As perdas e os danos do acordo, porém, parecem a essa altura maiores do que os ganhos. O PT perdeu Luiza Erundina, ainda que ela, ao desistir da candidatura a vice, mas não da campanha, tenha oferecido ao partido uma aura de "dignidade política" que ajuda a contrabalançar as coisas. Perdeu também excelente oportunidade para traduzir em fatos o proclamado desejo de fazer uma campanha com o selo da renovação. Como convencer o eleitor de que algo "novo" desponta, quando o "velho" aparece com ele abraçado quase ao ponto de sufocar?

A democracia também perdeu, pois o pragmatismo político usurpou o lugar que nela devem ter o realismo, a coerência, os valores e os ideais, aumentando ainda mais o fosso que distancia as pessoas da política institucionalizada. Consolidou-se um modo de fazer campanha eleitoral. Nele, os políticos se abraçam, fazem festa, tramam e decidem. Num segundo momento, os eleitores votam. Ou nem isso.

O que resultará disso, no curto, no médio e no longo prazos, é questão inteiramente em aberto.

Quem veio - SONIA RACY


O ESTADÃO - 23/06

Jean-Charles Naouri, do Casino, fez pit stop, ontem, em São Paulo. Foi até o Pão de Açúcar falar com Enéas Pestana, mas não se encontrou com Abilio Diniz.

Na semana que entra, Naouri e Diniz vão negociar pessoalmente. Não gostaram do resultado produzido por Pércio de Souza e Ricardo Lacerda neste ano que passou.

Ontem, as reuniões meramente protocolares foram conduzidas por seus respectivos procuradores, Marcelo Ferro e Marcelo Trindade.

Recuperação
Algo novo no ar. Os bonds do banco BMG deram uma súbita recuperada.

Fezinha
Coordenador da campanha de Serra, Edson Aparecido chegou com um santinho de Santo Expedito à reunião do PSDB – quinta à noite – que discutiu a formação de uma chapa única de vereadores entre o partido e as siglas aliadas.

“Pelas causas impossíveis”, resumiu Aparecido, antes de entrar na sala.

Pé na tábua
O longa Na Estrada, de Walter Salles, está literalmente na estrada. Depois de Cannes, foi convidado para ser exibido em quatro outros festivais: Toronto, Sydney, Munique e Guanajuato.

Enquanto percorre o mundo, o filme estreia por aqui somente no dia 13 de julho.

Carga pesada
Em turnê pela América Latina, a Orquestra Sinfônica Nacional de Washington se apresenta, segunda e terça, em São Paulo. No Municipal.

Na bagagem, quase dez toneladas de equipamentos, divididas em cem baús, que ocupam cerca de 1 km².

Achou, ganhou
Decisão confirmada pelo STJ: a Unilever terá mesmo de pagar… R$ 10 mil a consumidora.

Em 2007, ela encontrou um preservativo dentro de lata de molho de tomate da Knorr.

De novo, não
A classificação para a final da Copa do Brasil foi redentora, mas Felipãojá está às voltas com outro problema. A reclamação de conselheiros palmeirenses sobre o mando de jogos na Arena Barueri.

Quinta, alguns perderam parte da partida contra o Grêmio. Estavam presos no trânsito.

Planos para o futuro
Daniela Cembranelli, reconduzida por Alckmin por mais dois anos na Defensoria Pública do Estado, reassume com boa informação dada pelo governador. Seu projeto na Assembleia, para praticamente dobrar o número de defensores públicos, tem grandes chances de passar.

Quais os principais desafios deste novo mandato?

Assim que forem criados os novos cargos, será possível expandir a atuação da Defensoria em todo o Estado. O foco é colocar mais defensores para reforçar o atendimento especialmente na área criminal – tanto na porta de entrada quanto na de saída para os presos.

Outras frentes?

Ampliar a área de conciliação, para ajudar a desafogar o Judiciário, e, claro, optar por uma cultura de paz. Especialmente nas áreas de família, que correspondem a cerca de 50% da demanda da Defensoria. E, por fim, fortalecer as Defensorias hoje existentes em 29 cidades – principalmente, abrir novas unidades nos municípios mais pobres de SP.

Com essas ampliações, como ficarão os convênios com a OAB-SP, por exemplo?

Continuarão existindo, tanto com a Ordem quanto com universidades e outras entidades que ajudam no atendimento jurídico a pessoas carentes. O déficit, hoje, de profissionais é enorme. Para se ter uma ideia, são cerca de 2 mil juízes estaduais, 1.800 promotores e, mesmo com os novos cargos que virão, seremos somente 900 defensores./DÉBORA BERGAMASCO

Na frente
O comentário é geral em Brasília. Como Gilberto Carvalho faz falta a Lula.

Lulu Librandi pilota festa de estreia da peça A Doença da Morte. Domingo, no Teatro Augusta.

A Mendes Wood inaugura, hoje, mostras dos artistas americanos Francesca Woodman e Steve Locke.

Erika dos Mares Guia inaugura loja, segunda, em novo endereço. Na Consolação.

Ruth Grieco lança livro sobre sua história no mundo das joias. Terça, no Museu da Casa Brasileira.

Celso Jatene autografa, segunda, o livro 10 Décadas – A História do Santos Futebol Clube. No Museu do Futebol.

Newton Mesquita abre mostra, quarta, no Palacete das Artes Rodin. Em Salvador.

Floriano Martins mostras suas fotografias, segunda, no Espaço Cultural Citi.

Além de querer que o Brasil invista, as delegações de Mianmar e Laos, na Rio+20, pediram ontem a Michel Temer… técnicos de futebol.

Oba-oba sustentável - GUILHERME FIUZA


O GLOBO - 23/06

A Rio+20 foi um sucesso. E não poderia ser diferente. Tudo foi muito bem montado para que não houvesse chances de falha. A estratégia é perfeita: anuncia-se uma megaconferência para salvar o mundo; convida-se mais de uma centena de chefes de Estado para assinar a salvação à beira-mar; produz-se um documento que naturalmente não salva nada nem ninguém; cada governante que chega tem a chance de dizer ao seu eleitorado que esperava mais; até Ahmadinejad, o tarado atômico, declara-se "frustrado"; todos ficam bem na foto "histórica", com seus crachás de gladiadores da sustentabilidade; e o mundo continua piorando com a consciência limpa.

Os ecologistas reunidos no Rio de Janeiro estão certos: para o mundo não acabar, é preciso economizar tudo. Menos o bufê das festas ecológicas, que ninguém é de ferro. A milionária produção da Rio+20 é o melhor exemplo de sustentabilidade: se essa era a última chance de salvar a Terra, como avisaram os organizadores, por que poupar para o próximo banquete? Não há no mundo contemporâneo negócio tão sustentável quanto a propaganda do Apocalipse. É o único em que o cliente paga para que a entrega não seja feita.

E, por falar no fim do mundo, o empresário Fernando Cavendish está entre os que aprovaram os resultados da Rio+20. Durante a conferência, a convocação do ex-comandante da Delta para depor na CPI do Cachoeira foi barrada. Maior caixa-preta do Brasil hoje, Cavendish contou com a proteção da já famosa "tropa do cheque" para não ter que interromper o sossego de sua aposentadoria nababesca e ir se explicar em Brasília. E contou, principalmente, com a colaboração da opinião pública nacional, que estava muito ocupada com a salvação do planeta no Rio.

Há muito tempo a República não vivia um momento tão decisivo quanto o da convocação de Cavendish pela CPI. As investigações indicam que o empreiteiro regia, ao lado do bicheiro, uma máfia sem precedentes no assalto ao Estado brasileiro. A construtora que centralizava o esquema era nada menos que a líder do PAC - e continuou recebendo contratos mesmo depois que o governo federal foi avisado, pela Controladoria Geral da União, dos superfaturamentos em série. Quem esquentava as costas de Cavendish?

A convocação do empreiteiro para depor no Congresso colocaria a bola na marca do pênalti. Pênalti para o Brasil contra a corrupção. E, quando a CPI foi votar essa convocação, o povo foi às ruas. Foi às ruas contra o gás carbônico, contra a Vale do Rio Doce, contra a ditadura de 64, contra o capitalismo individualista e o que mais o carnaval fora de época da Rio+20 inspirasse. Fernando Cavendish deve ter assistido emocionado à passeata das mulheres pelo direito constitucional de mostrar os peitos no jornal (em protesto contra a falta de sustentabilidade).

Não se sabe se toda essa bravura cívica mobilizada pela Rio+20 salvará o planeta. Mas salvou Cavendish, o que já é um começo.

A CPI do Cachoeira é um fracasso de público. O ano da Rio-92 foi também o do impeachment, mas não apareceu agora um único cara-pintada para a Collor+20. O presidente deposto é hoje um soldado do PT na CPI, escalado para bombardear a imprensa e atrapalhar a divulgação das investigações. E os estudantes não estão nem aí. A UNE, comprada por Lula e Dilma, conquistou seu sustento sustentável. O resto da turma deve estar ocupado com o gás carbônico.

E a OAB, que tanto brilhou na CPI do PC? Por onde anda essa entidade tão vigilante na defesa do estado de direito? Onde está a OAB no momento em que a quadrilha tenta manipular juízes para anular as provas gravadas pela Polícia Federal? Não se sabe. O que se sabe é que a democracia foi posta em risco por uma máfia que alicia agentes públicos, comprando parlamentares, alugando governadores e dando ordens em ministérios endinheirados. E que, na hora da verdade, essa máfia está sendo defendida por advogados de ponta, como o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, muito bem pagos com o dinheiro sujo do esquema.

O que a OAB tem a dizer sobre isso? Aparentemente, nada. Em time que está ganhando não se mexe.

Na hora de cercar a máfia Delta-Cachoeira, o Brasil resolveu discutir sustentabilidade. Que desenvolvimento sustentável é possível num país onde o orçamento de infraestrutura foi dominado por uma quadrilha? Discute-se a criação de mesadas ecológicas (segure sua carteira) para o crescimento limpo, enquanto a gangue do bicheiro pilota a aceleração do crescimento sujo. Apertem os cintos e financiem o bem, para que os governos possam continuar gastando mal.

O sucesso da Rio+20 aparece nas imagens mais sutis, como a do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (que mandou para Pernambuco 90% das verbas contra enchentes), palestrando no Espaço Humanidade sobre desigualdades. O melhor lugar para discutir a salvação da Terra é mesmo o mundo da Lua.


Túmulo do samba - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 23/06


RIO DE JANEIRO
- A capa nº 6 da revista "Realidade", de novembro de 1966, era estrelada pelos jovens Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Magro (do conjunto vocal MPB4), Toquinho, Rubinho (baterista do Zimbo Trio), Jair Rodrigues, Nara Leão e Paulinho da Viola. Título: "Os novos donos do samba".
Tudo era samba, até o que não era. Era um nome genérico. E vinha de longe. Um livro de Orestes Barbosa, de 1932, intitulado "Samba", falava também de choros, marchinhas de Carnaval, valsas e sambas-canções. E, nos anos 50, quando Vinicius de Moraes chamou São Paulo de "túmulo do samba", não estava acusando a cidade de não produzir o dito ritmo, mas de ter uma noite acanhada, com poucas boates -tanto que o artista que motivou sua frase, Johnny Alf, nem era um sambista tradicional.
Em 1966, ainda se podia chamar tudo de samba porque, mesmo maquiado pela bossa nova, ele continuava o ritmo dominante -vide o número de bossas novas que lhe prestaram tributo até no título: "Samba de Uma Nota Só", "Samba de Orfeu", "Samba do Avião", "Samba Triste", "Samba do Carioca", "Samba Toff", "Samba da Pergunta", "Samba da Bênção", "Samba de Verão" e muitos mais. Chico Buarque e Paulinho da Viola compunham samba "full time" e, dali a três anos, o próprio Gilberto Gil teria seu maior sucesso com um samba: "Aquele Abraço".
Mas, em pouco tempo, a cena mudou. As gravadoras, aliás, multinacionais, decidiram que samba era aquilo que o pessoal do morro fazia no Carnaval. Tudo mais, que não fosse rock, cabia na sigla "MPB". Por coincidência -exceto Paulinho da Viola, que silenciou-, muitos sambistas de 1966 aderiram a um ritmo cursivo, invertebrado, sem swing, de mais trânsito internacional.
No fim, São Paulo deu a volta por cima. E quem se tornou o túmulo do samba, no sentido literal, foi o Brasil.

Prisões, privatização e padrinhos - PAUL KRUGMAN


FOLHA DE SP - 23/06


Pense nos benefícios que a privatização traz aos fundos de campanha e às finanças pessoais dos políticos



Nos últimos dias, o "New York Times" publicou reportagens aterrorizantes sobre o sistema de casas de semi-internato de Nova Jersey -ala auxiliar, operada pelo setor privado, do sistema penitenciário estadual.
A série é um modelo de jornalismo investigativo que todos deveriam ler. Os horrores descritos são parte de um padrão mais amplo sob o qual funções do governo estão sendo privatizadas e degradadas.
Em 2010, Chris Christie, o governador de Nova Jersey, descreveu as operações da Community Education Centers, a maior operadora dessas instalações, para a qual fez lobby, como "uma representação do que há de melhor no espírito humano".
Mas as reportagens revelam algo mais próximo ao inferno -um sistema mal gerido, com escassez de funcionários e equipes desmoralizadas. A história é terrível. Mas é preciso vê-la no contexto mais amplo de uma campanha nacional da direita americana pela privatização de funções de governo, o que inclui a administração de prisões.
O que move essa campanha? Seria tentador dizer que ela reflete a crença dos conservadores na magia do mercado. É assim que os políticos da direita gostariam de ver a questão. Mas basta pensar por um minuto para perceber que as empresas que formam o complexo penitenciário privado não concorrem num mercado livre. Vivem de contratos governamentais.
Os operadores privados de penitenciárias só conseguem economizar dinheiro por meio de reduções em quadros de funcionários e nos benefícios aos trabalhadores. As penitenciárias privadas economizam dinheiro porque empregam menos guardas e pagam menos a eles. E em seguida lemos histórias de horror sobre o que acontece nas prisões.
O que levanta a questão dos motivos reais para a campanha pela privatização das penitenciárias. Uma resposta é que a privatização pode servir como forma encoberta de elevar o endividamento do governo, já que esse deixa de registrar despesas antecipadas e eleva os custos de longo prazo de maneira invisível pelos contribuintes.
Outra resposta para a privatização é que ela representa uma forma de eliminar funcionários públicos, que têm o hábito de formar sindicatos e tendem a votar nos democratas. Mas a principal resposta está no dinheiro. Pouco importa o efeito da privatização sobre os orçamentos estaduais. Pense nos benefícios que ela traz aos fundos de campanha e às finanças dos políticos.
Com a privatização de funções governamentais, os Estados se tornam paraísos de pagamento nos quais contribuições políticas e pagamentos a amigos e parentes se tornam parte da barganha na obtenção de contratos do governo.
As empresas estão tomando o controle dos políticos ou os políticos estão tomando o controle das empresas? Pouco importa.
Não se deve imaginar aquilo que o "New York Times" descobriu sobre a privatização de prisões em Nova Jersey como exemplo isolado de mau comportamento. Trata-se quase certamente de apenas um vislumbre de uma realidade cada vez mais presente, de uma conexão corrupta entre privatização e apadrinhamento que está solapando as funções do governo em muitas regiões dos EUA.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

Dentro da lei - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 23/06


Embora dentro das normas constitucionais, a deposição do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, pelo Congresso tem claros indícios de que foi o desfecho de uma disputa política que se desenrola praticamente desde que ele chegou ao poder, cerca de 4 anos atrás.

Já houvera antes uma tentativa de impeachment quando surgiram as denúncias sobre os vários filhos do ex-padre católico, dois dos quais ele já reconheceu. Há outros na fila.

O escândalo sexual não foi suficiente, no entanto, para que os opositores de Lugo conseguissem levar adiante a tentativa de impeachment, mas a tragédia recente, em que morreram 11 camponeses de um movimento sem-terra e seis policiais, fez com que forças políticas majoritárias se unissem para acusá-lo de “mau desempenho de suas funções”, o que possibilitou o processo de impeachment.

Os agricultores sem-terra da Liga Nacional de Acampados, que invadem propriedades e instalam-se em tendas, receberam o aval público de Lugo, que os recebeu diversas vezes no palácio do governo e na residência presidencial, até que, em 15 de junho, seis policiais desarmados foram mortos durante a desocupação de uma fazenda em Curuguaty, a 250km de Assunção.

A reação da polícia provocou a morte de 11 camponeses e a acusação de perda de controle pelo governo.

Mesmo que a motivação seja política, não é possível classificar de golpe o que aconteceu no Paraguai, sob pena de darmos razão ao hoje senador Fernando Collor de Mello que se diz vítima de um “golpe parlamentar”, e que, em entrevista, já chegou a reivindicar de volta seu mandato presidencial.

O interessante é que Col-lor foi impedido pelo Congresso brasileiro num processo que teve a liderança do PT, tanto na atividade parlamentar quanto na mobilização dos chamados movimentos sociais para apoiar a decisão dos políticos.

Cassado, Collor foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal por falta de provas, o que o leva a alegar que foi vítima de um golpe.

É uma incoerência completa, portanto, que o governo brasileiro acuse um processo congressual de ilegítimo, quando já tivemos essa experiência em nossa democracia recente.

A ameaça de expulsar o Paraguai do Mercosul, além de revelar uma leitura equivocada da cláusula democrática da instituição, pode servir aos interesses da Venezuela, que até agora não foi aceita como membro pleno justamente porque o Congresso do Paraguai não deu permissão, por considerar que a Venezuela não é um país democrático.

Essa aliás, é uma outra boa discussão, pois o governo brasileiro aceita todas as manobras feitas pelo governo de Hugo Chávez na Venezuela, alegando justamente que elas, ao serem aprovadas pelo Congresso, são, portanto, legítimas. Lula chegou ao cúmulo de dizer que havia na Venezuela “democracia demais”.

Todos os governos “boli-varianos” da região — Bolívia, Equador, Argentina, Nicarágua — já promoveram diversas alterações em suas Constituições para aumentar o poder dos respectivos presidentes, em golpes seguidos à democracia, mas utilizando-se de seus próprios instrumentos legais.

Aumentaram a composição da Suprema Corte, criaram obstáculos à liberdade de expressão, mudaram as regras eleitorais para favorecer o partido que está no governo, e alegam sempre que as alterações foram feitas com a aprovação do Congresso.

Mas quando o Congresso decide contra o governante “bolivariano”, desencadeia-se imediatamente um movimento regional de constrangimento a esses parlamentos, tentando usar a cláusula democrática como instrumento de pressão.

Agora mesmo, os chanceleres da Unasul foram a Assunção tentar parar o processo de impeachment de Fernando Lugo, que logo chamaram de golpe. O chanceler Antonio Patriota foi com a instrução da presidente Dilma para “falar grosso”.

No caso de Honduras, em 2009, chegou a ser escandalosa a intromissão do governo brasileiro nos assuntos internos daquele país, a ponto de ter tentado, com a cumplicidade de Hugo Chávez, criar um fato consumado com o retorno do presidente deposto Manuel Zelaya ao país, abrigando-o na embaixada brasileira. De acordo com a Constituição de Honduras, o mandato presidencial tem o prazo máximo de quatro anos, vedada expressamente a reeleição.

Aquele que violar essa cláusula, ou propuser-lhe a reforma, perderá o cargo imediatamente, tornando-se inabilitado por dez anos para o exercício de qualquer função pública.

Foi exatamente o que Ze-laya fez, tentando mudar a Constituição através da convocação de plebiscito. A cláusula pétrea da Constituição de 1982 de Honduras tinha, justamente, o objetivo de cortar pela raiz a possibilidade de permanência de um presidente no poder, pondo fim à tradição caudilhesca no país.

A preocupação tinha sentido: Honduras é o país inspirador do termo “República de bananas” ou “República bananeira” cunhado pelo escritor americano O. Henry, pseudônimo de William Syd-ney Porter, que, no livro de contos curtos Cabbages and Kings, (Repolhos e Reis) de 1904, usou pela primeira vez a expressão, que passou a designar um país atrasado e dominado por governos corruptos e ditatoriais, geralmente na América Central.

O principal produto desses países, a banana, era explorado pela famosa United Fruit Company, que teve um histórico de intromissões naquela região, especialmente em Honduras e Guatemala, para financiar governos que beneficiassem seus interesses econômicos, sempre apoiada pelo governo dos Estados Unidos.

Mesmo com toda a pressão do governo brasileiro e dos demais países “bolivarianos”, que conseguiram até mesmo expulsar o país da Organização dos Estados Americanos (OEA) — como ameaçam fazer agora com o Paraguai, no Mercosul — Honduras promoveu nova eleição e o presidente Porfirio Lobo está no governo, já tendo sido reconhecido por todos os demais países e retornado à OEA.

O ex-presidente paraguaio Fernando Lugo parece estar agindo com mais bom senso do que os governos da Unasul, aceitando a decisão do Congresso.

Laranjal mineiro - VERA MAGALHÃES


FOLHA DE SP - 23/06


Além da atuação em Goiás, Distrito Federal e Rio, a Brava Construções e Terraplanagem, laranja da Delta, foi contratada por prefeituras do interior de Minas Gerais para tocar projetos do Minha Casa, Minha Vida em 2009. Dados da quebra de sigilo da Brava que chegaram à CPI do Cachoeira mostram que a empresa recebeu R$ 52 mil do município de Natalândia, governado pelo PP, e R$ 40 mil de Bonfinópolis, administrado pelo PT, para construir 200 casas populares.

Outro lado 1 O prefeito de Natalândia, Sargento Uadir, afirma que a empresa venceu uma licitação e nunca ouvira falar de Carlinhos Cachoeira. "Conheci o Cachoeira pela CPI.'' Ele encaminhou a documentação dos contratos para o Ministério Público.

Outro lado 2 Já o prefeito de Bonfinópolis, Luiz Araújo, diz que ficou surpreso ao ver a Brava envolvida no Cachoeiragate e que quem o procurou foi João Miranda, sócio da empresa apontado como laranja do contraventor.

Eu sou você... O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, uma das instâncias que devem acompanhar os desdobramentos do impeachment de Fernando Lugo no Paraguai, é Fernando Collor (PTB-AL), que sofreu processo de impedimento há 20 anos.

A conferir Assessores do ex-presidente Lula diziam ontem que a tendência era que ele deixasse para Dilma as manifestações sobre a crise no Paraguai. Além de ser um assunto de Estado, afirmavam, Lula ainda está em tratamento de saúde.

Arraiá eleitoral Sem a tradicional Festa Junina na Granja do Torto, extinta no governo Dilma Rousseff, Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) participam hoje de festa de aniversário de Márcia Lopes, irmã do ministro. Amanhã, o PT homologa sua candidatura à Prefeitura de Londrina.

Tricolor A convenção que formalizará a candidatura de José Serra, amanhã, terá três cores predominantes: além dos tradicionais azul e amarelo, do PSDB, o verde fará parte da programação visual por exigência do PSD.

Nota de corte Após remover, anteontem, o principal entrave para a ampla coligação proporcional desejada por Serra, o PSDB convocou sua executiva na capital para reunião hoje. À ocasião, anunciarão os pré-candidatos a vereador excluídos.

Ensaio geral A CUT ajudará Fernando Haddad (PT), que incorporou a expressão "apagão nos transportes" ao glossário eleitoral. A central levará militantes às ruas na sexta-feira em "ato pela mobilidade urbana", que terminará na Secretaria de Transportes Metropolitanos.

Photoshop Com vice do PSD, Manuela D'Ávila tirou a foice e o martelo, símbolos do PC do B, do material de publicidade que anuncia o lançamento de sua candidatura em Porto Alegre (RS).

Esquerda light A sigla de Gilberto Kassab negocia também a indicação do companheiro de chapa do ex-presidente do Ipea Márcio Pochmann (PT), em Campinas.

#prontofalei Enquanto o governo paulista se esforçava para negar ação do PCC contra PMs, o ex-comandante da corporação Álvaro Camilo escreveu em seu Twitter: "Policiais militares, fiquem atentos, cuidem do cidadão e da sua segurança pessoal principalmente de folga".

Visita à Folha Otavio Leite, deputado federal e candidato do PSDB à Prefeitura do Rio de Janeiro, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Kleber Santos, assessor de comunicação.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Essa PEC é uma vergonha para o parlamento. Só aprofunda o já enorme fosso que separa o parlamentar daqueles a quem representa."
DO DEPUTADO FEDERAL JOSÉ ANTONIO REGUFFE (PDT-DF), sobre a proposta que acaba com o teto salarial de servidores, aprovada em comissão da Câmara.

Contraponto

Deixa comigo

Durante reunião em que o PSDB paulistano aprovou a ampla coligação proporcional para a Câmara, anteontem, o vice-presidente da sigla, João Câmara, ferrenho opositor do "chapão", entregou carta de renúncia ao posto. O presidente, Julio Semeghini, respondeu:
-João, vou ler e analisar sua carta, mas digo de antemão que não aceito. Se você sair, saio também.
O vereador Tião Farias, terceiro na lista sucessória tucana na capital, levantou-se e disse, arrancando gargalhadas na plateia:
-Olha, estamos aí, hein? Eu não renuncio!

Corpos despedaçados - SÉRGIO TELLES


O Estado de S.Paulo - 23/06


O assassinato do herdeiro do grupo Yoki Marcos Matsunaga por sua mulher Elize tem vários elementos que ressoam no imaginário coletivo. Em primeiro lugar, o fato de ter sido ela uma prostituta "salva" pelo cliente que com ela se casou. Esse é um forte estereótipo fantasmático da vida amorosa, a ponto de Freud ter-lhe dedicado um trabalho escrito em 1910 e ainda perfeitamente atual, pois as verdades do psiquismo não caducam. Em Um Tipo Especial de Escolha de Objeto Feita pelos Homens, Freud mostra como as imagens da prostituta e da mãe podem fundir-se em função das vicissitudes do Complexo de Édipo. Mas o mais impactante no caso é o esquartejamento que Elize praticou depois de matar o marido. Para muitos, um ato mais violento do que o próprio assassinato, pois evidencia a presença de um ódio desmesurado que não se contenta em tirar a vida do desafeto e precisa ir mais além, destruindo-lhe o corpo.

O comportamento individual de Elize dá continuidade a uma prática social comandada pela nobreza medieval europeia, que de forma semelhante punia os crimes de "alta traição", aqueles que afrontavam o rei e os símbolos de sua majestade. O criminoso era então condenado à pena de enforcamento, evisceração e esquartejamento, nisso se acrescentando muitas vezes a trituração de ossos, a castração e a decapitação. Em algumas ocasiões, o enforcamento podia ser interrompido antes da morte do condenado para que ele, ainda vivo, sofresse as dores da evisceração e castração. Seu coração e as vísceras eram imediatamente queimados numa fogueira preparada para esse fim, pois se acreditava que ali residiam sua corrupção e maldade. A castração o privava dos símbolos de poder e da procriação. Ao decapitá-lo, expressamente puniam-se suas loucas ideias de enfrentar o rei. Os pedaços do corpo eram expostos em locais de grande afluência. Com essa execução espetacular, de máxima visibilidade pública, o poder reafirmava de forma exemplar sua força e admoestava para o risco de a ele se contrapor.

A carga simbólica maior decorria da crença religiosa. Com mais convicção do que hoje, acreditava-se que no Juízo Final a alma voltaria a habitar os corpos que então ressuscitariam. Daí a importância da integridade do corpo. Ao destruí-lo, o poder eliminava física e espiritualmente o condenado, ou seja, neste e no outro mundo, impossibilitava seu ingresso na vida eterna e era essa a maior punição imaginável.

Em Portugal, o suplício judiciário foi usado também na Inquisição e aplicado a nosso herói da Inconfidência Mineira, o Tiradentes.

Não tão remotamente, procedimento semelhante foi aplicado aqui, no Brasil, com os corpos de Lampião e seu bando, cujas cabeças decapitadas ficaram expostas no Museu Nina Ribeiro de Salvador até 1969.

Algo semelhante continua ocorrendo atualmente no México, em função da guerra entre os cartéis do narcotráfico, na disputa pelo mercado da droga. Em Ciudad Juarez - onde se digladiam o grupo La Línea, que tradicionalmente controlava o tráfico na região, e o cartel de Sinaloa, chefiado por Joaquín Guzmán ("El Chapo") -, frequentemente são encontrados corpos esquartejados, desmembrados, decapitados, desfigurados pelo ácido. Exatamente como faziam os reis europeus e com os mesmos objetivos, os barões da droga querem com isso intimidar os inimigos, proclamando um poder ilimitado e inquestionável, capaz de eliminar qualquer um que ouse desafiá-lo. A única diferença é que antigamente essas execuções ritualísticas eram acontecimentos únicos, excepcionais, realizados com muita pompa em grandes encenações. No México de hoje, são acontecimentos rotineiros, banalizados, frente aos quais a população se anestesia para conseguir sobreviver.

Jonathan Littell é autor de As Benevolentes (Objetiva /Alfaguara), livro lançado em 2006 e vencedor dos Prêmios da Academia Francesa e Goncourt. O título remete ao mito grego das Erínias ou Fúrias, que perseguiam Orestes por ter ele assassinato sua mãe Clitemnestra, e o livro trata do nazismo através de seu personagem principal, um aristocrático oficial da SS. Littell publicou agora na London Review of Books (7/6/2012) o texto Lost in the Void, um assustador relato sobre a situação caótica de Ciudad Juarez, totalmente controlada pelo narcotráfico. Ao falar dos assassinatos sistemáticos, diz que a forma pela qual os corpos sofreram mutilações revela uma semiologia conhecida por todos. Se o corpo vem sem sapatos, é porque o falecido foi expulso do cartel. Se vem com as mãos decepadas e colocadas no bolso, é indício de que foi punido por ter roubado o cartel. Se tem um dedo cortado e enfiado na boca ou no ânus, é por ter denunciado alguém à polícia. Se aparece com a pele do rosto arrancada ("como casca de banana", diz ele), é sinal que foi considerado traidor do grupo.

O que ligaria a ex-garota de programa paranaense, os reis medievais da Europa e os atuais barões da droga na fronteira mexicana é o exercício do ódio, a destruição do corpo do objeto execrado. Compartilham uma vingança onipotente contra uma insuportável ofensa ao narcisismo, esteja este amparado institucionalmente ou não. A exibição do corpo esquartejado, desmembrado, dissolvido no ácido é uma demonstração intimidadora do poder absoluto, esteja ele dentro ou fora da lei. Mas Elize, ao contrário dos reis e dos narcotraficantes, não quer exibir o corpo esquartejado, quer escondê-lo. De fato, aí aparece uma diferença entre as três situações, relacionada com o exercício efetivo do poder. Ao sofrer a ofensa narcísica (a rejeição do marido), Elize onipotentemente se vinga, matando-o e desconstruindo seu corpo. Mas ela não perdeu o contato com a realidade, sabe que, se descoberta, sofrerá as consequências de seu ato. Daí precisar esconder o corpo, ao contrário dos outros dois exemplos, que, por terem grande poder (legítimo ou não) e até mesmo para reafirmá-lo, podem exibir abertamente a vingança.

Sejam quais forem as motivações e justificativas conscientes para realizar o esquartejamento do corpo do morto (razões de Estado, intimidações por parte de mafiosos, eliminação de provas incriminadoras), penso que deve sempre existir um substrato inconsciente muito primitivo, algo próximo do canibalismo, sobre o qual falamos aqui recentemente. No canibalismo predomina a ambivalência, o ódio faz matar o objeto e destruir seu corpo, o amor quer preservá-lo e com esse objetivo o ingere. Nas execuções e nos assassinatos como o realizado por Elize, predomina o ódio. O objeto é morto, o corpo é destruído e abandonado como detrito despojado de toda humanidade, mera evidência do poder daquele que o destruiu.

***

Sabe-se lá que grossas estripulias estará fazendo o leitão Dondinho ("3 anos, 48 quilos") nos paradisíacos chiqueiros celestiais. Afinal, Ivan Lessa, seu criador, nunca foi de lhe impor muitos limites.

Rio+20, sucesso ou fracasso? - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 23/06

Num mundo mais aberto e mais democrático, são mais complexos os processos de tomada de decisão

AS CONFERÊNCIAS internacionais não têm a intensidade dramática capaz de satisfazer a nossa fome de espetáculo. No entanto, elas não ocorrem em vão e dispersam sementes para além das aparências.

No caso das questões do ambiente, foi assim com a Rio-92, com Kyoto e certamente será assim também com a Rio+20.

O modo de funcionamento dessas conferências reflete a realidade de um mundo mais multipolarizado, em que se multiplica sem cessar o número de atores relevantes. Não é mais possível, felizmente, que dois ou três países se reúnam e decidam o destino da humanidade.

Os próprios governos, por sua vez, ao falar e decidir por seus países, devem respeitar a vontade livre de suas sociedades. O mundo tornou-se claramente mais aberto e muito mais democrático.

E nesse mundo, mais opiniões estão sendo levadas em conta, tornando mais complexos os processos de tomada de decisão.

A partir dessas duas premissas, pode-se fazer um julgamento mais equilibrado e mais justo da nossa conferência. É verdade que ela não foi ambiciosa e que renunciou depressa demais a seus objetivos?

Não é uma tarefa simples conseguir que 190 governantes, representando 7 bilhões de pessoas, se ponham de acordo sobre mudanças nos modos de produção, nos estilos de vida e nas expectativas de crescimento econômico para as próximas décadas.

Os próprios termos do problema dificilmente são matéria consensual, mesmo entre profissionais e ativistas. Há importantes setores dos movimentos ambientalistas que contestam duramente a "economia verde" que não passa, segundo eles, de mais um disfarce ou uma variante do desenvolvimento capitalista.

E os objetivos de uma economia sustentável não devem ser impostos por meio de ordens de governos centralizadores e sim por meio da administração de incentivos que, num ambiente de liberdade, alterem os comportamentos de produtores e de consumidores. Afinal, em que sociedade queremos viver?

Como bem disse o negociador-chefe do Brasil, embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, a objetivos ambiciosos devem corresponder recursos também ambiciosos. Uma coisa sem a outra é, no mínimo, incoerência, disse ele.

Eu diria que chega mesmo a ser hipocrisia. Os países ricos desenvolveram-se sem as regras e limites que hoje pesam sobre os países de desenvolvimento tardio e sem incorrer nos custos em que essas restrições implicam.

Por isso, se a União Europeia e os Estados Unidos desejam estabelecer objetivos concretos, devem antecipar-se e oferecer uma parte grande dos recursos necessários.

O papel da política é agir conforme a circunstância, avançando ou recuando conforme as condições reais. Nesse sentido, foi prudente recuar em relação aos recursos e aos financiamentos.

Mas, pela mesma razão, foi necessário não avançar em compromissos que custarão muito, principalmente para os países em desenvolvimento, que ainda enfrentam situações de extrema pobreza.

A preservação dos recursos naturais, para que eles possam ser aproveitados de modo duradouro pelas futuras gerações, é uma tarefa importante e que deve obrigar a todos nós. Mas ao olhar para a natureza e para os homens de amanhã, não podemos fechar os olhos para os homens de hoje; para as centenas de milhões de pobres na África, na Ásia e na América Latina, especialmente mulheres e crianças.

Para eles é preciso haver mais crescimento econômico e mais produção de alimentos. E não vamos conseguir isso retrocedendo a formas primitivas de organização da produção, abolindo o uso de novas tecnologias no campo, renunciando à engenharia genética e amaldiçoando o desenvolvimento.

A Rio+20 é o espelho do Mundo Novo, mais aberto e mais democrático, sem protagonismos excessivos. O governo brasileiro mostrou-se um ator apropriado desses tempos novos, exercendo um tipo de liderança serena, lúcida e democrática.

Estou convicta de que o Brasil, em todos os aspectos, cumpriu bem o seu papel como anfitrião de uma das conferências mais importantes deste século.

Retrocesso no Mercosul isola Brasil - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 23/06


Por conta da crise financeira internacional, as tentativas de se chegar a um acordo multilateral de liberalização do comércio exterior estancaram. O protecionismo até voltou a florescer em alguns países, o que significou um retrocesso em relação aos passos que haviam sido dados nas negociações globais em prol da liberalização. Mas, enquanto a Rodada Doha permanece "congelada", em âmbito regional é possível se observar o surgimento de novos blocos.

Esse parece ser o caso do acordo que vem sendo costurado por países da América Latina, como o Chile, a Colômbia, o Peru e o México. A chamada Aliança do Pacífico poderá ter a adesão do Panamá e da Costa Rica e promete ser mais que um tratado de livre comércio, chegando a ter características semelhantes à União Europeia, pois envolverá integração financeira, ajustes de legislação, intercâmbio dos sistemas de ensino, livre circulação de capitais e pessoas. O acordo vem caminhando com rapidez e contrasta com o que tem acontecido no Mercosul.

Devido a questões internas na Argentina, a união aduaneira no Cone Sul vem se deteriorando. Licenças prévias para importação de mercadorias brasileiras são exigidas, sem que haja um prazo definido pra a liberação. O resultado é que cresce o volume de mercadorias aguardando na fronteira ou na alfândega autorização para chegar ao destino. Os critérios para essa liberação se mostram subjetivos e sem racionalidade econômica, pois mesmo peças e componentes destinados a integrar equipamentos que serão exportados pela Argentina caem na lista de espera. Isso dá a medida da crise cambial no país vizinho.

Em resposta a essa burocracia, o Brasil tem ensaiado algum tipo de retaliação comercial, evidenciando ainda mais o retrocesso em relação às proposições originais do Mercosul.

Embora sejam os maiores mercados da América do Sul, a falta de entendimento entre Brasil e Argentina - causada por erros crassos de política econômica dos argentinos - afasta outros naturais pretendentes à participação no bloco. O Chile é um membro associado, e só não se torna integrante pleno porque, para se ajustar ao Mercosul, teria de dar passos atrás, elevando tarifas de importação. As nações que estão formando a Aliança do Pacífico precisariam fazer o mesmo.

Constituída a Aliança, o Mercosul é que precisaria se ajustar, e não o contrário, para que uma integração entre os dois blocos fosse possível.

Os termos da atual união aduaneira impedem que o Brasil negocie isoladamente novos acordos de livre comércio com outros países. Essa negociação só evolui se tiver anuência do bloco.

Enquanto isso, os vizinhos estão se mexendo e buscando alternativas, quando o natural seria uma aproximação com o Brasil, maior mercado do continente. Infelizmente, o Brasil foi contaminado pelas mazelas argentinas

Depois de tudo que se fez não faria sentido o Brasil abandonar o Mercosul. Mas também não é admissível que a união aduaneira, emperrada na burocracia e nas decisões políticas, se torne um obstáculo nas relações bilaterais do Brasil com os demais vizinhos.

Maconha estatal - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 23/06

É interessante a proposta do governo uruguaio de não só legalizar a maconha como também estatizar sua distribuição. Se o projeto de lei for, de fato, aprovado, como tudo indica que será, teremos um grande laboratório para testar hipóteses sobre o impacto da legalização no consumo e no tráfico de drogas que hoje estão restritas ao campo da especulação.
A primeira dúvida é se a legalização da Cannabis apenas, e não de todas as drogas ilícitas, bastará para reduzir o poder de fogo do crime organizado. Eu não saberia dizer qual é o "share" de mercado no Uruguai, mas a medida só representará um golpe contra o tráfico se conseguir reduzir substancialmente seus lucros. Caso contrário, o "statu quo" fica mais ou menos inalterado.
Também é complicada a ideia de registrar todos os compradores de maconha e controlar a quantidade que consomem para, eventualmente, encaminhá-los para tratamento. É razoável supor que os usuários não gostem de ter o governo monitorando seus hábitos e isso poderia levá-los a continuar adquirindo a droga no mercado ilegal, que dificilmente desaparecerá. Vale lembrar que, no Uruguai, consumir drogas, pela legislação atual, já não é crime.
Outro ponto controverso é imaginar que a iniciativa ajudará os uruguaios a reduzir a demanda por crack. Há indícios científicos de que a dependência é um processo mais específico do que se imaginava. De acordo com seu tipo de personalidade, o indivíduo teria propensão para viciar-se numa ou noutra droga. De fato, se o mecanismo fosse totalmente genérico, o "dependente racional" escolheria sempre o álcool, que é abundante, barato e não tende a gerar problemas com a lei.
De todo modo, é alentador constatar que já existem países dispostos a questionar e propor alternativas ao paradigma proibicionista que, após décadas e décadas de vigência, já mostrou que funciona muito mal.

Preste Atenção! - SILVIANO SANTIAGO


O ESTADÃO - 23/06


Autor ainda não traduzido ao português, Jonathan Crary é o iconoclasta de plantão nas pesquisas e análises recentes sobre o "observador" (palavra que prefere a espectador). Em seu primeiro livro, Techniques of the Observer: On Vision and Modernity in the Nineteenth Century (MIT, 1990), Crary questiona pela raiz o modelo humano de visualização posto em vigor nos primórdios do século 19, que se apoiava na técnica da câmera obscura, difundida pela máquina fotográfica. Segundo Crary, o modelo falhava ao estabelecer diferença exemplar entre o sujeito e o objeto, dissociando-os pela instantaneidade, ao mesmo tempo em que empobrecia o observador por zerar a interação da imagem exterior com sua experiência.

O modelo humano de percepção fundado pela câmera obscura é, pois, metafórico. Visa a explicar a percepção humana por uma câmera vedada à luz, a não ser por orifício munido de lente que serve para focar uma imagem instantânea do mundo exterior, com a finalidade de transportá-la para o interior da mente. Crary substitui o modelo espacial posto em vigor pela metáfora, por outro, fisiológico – o de um olho humano sensível à luz e sujeito tanto às pulsações mutáveis do exterior quanto aos estímulos interiores da retina. Crary troca o espaço estável do dualismo sujeito/objeto pelo desenrolar duma cena temporal instável em que observador e objeto observado entram em constante interação física e psicológica.

Leitores de Freud detectam que o novo modelo se alimenta da noção de "atenção flutuante", configurada pelo mestre em 1912. A noção visa a questionar as motivações que, na escuta da fala do analisando, "dirigem a atenção" do analista. Graças a ela, o analista (o observador) passa a conservar na memória uma multidão de elementos aparentemente insignificantes cujas correlações semânticas são ressaltadas a posteriori. Graças ainda a ela, a atitude objetiva do sujeito (do observador) se adequa a objeto mutável, essencialmente deformado. A atenção flutuante permite a conversa entre inconscientes.

Em seu livro posterior, Suspensions of Perception: Attention, Spectacle and Modern Culture (MIT, 2001), Crary retorna à metáfora oitocentista da câmera obscura a fim de datar o momento em que ela se responsabilizou por nossa postura de "prestar atenção" (to pay attention). A atenção passava, então, a dirigir o nosso modo cognitivo. Ao olhar o quadro-negro, dirigir um carro, consultar a tela do computador, o indivíduo "presta atenção", e se desengaja de amplo campo de atração, tanto visual quanto auditivo. Ele foca (para usar o verbo da moda) um número reduzidíssimo de estímulos. A experiência moderna do observador requer, pois, que ele exclua da consciência muito do ambiente circundante. A vida se compõe à semelhança da colcha de retalhos. Nos últimos 150 anos, a fragmentação do sujeito não é uma condição "natural"; é antes o denso e poderoso refazer da subjetividade humana pelo prestar atenção.

A "atenção dirigida" ganha tal poder nos séculos 19 e 20 que, às vésperas do novo milênio, psicólogos alertam para o seu avesso – a síndrome do déficit de atenção (TDAH). A atividade motora excessiva é resultado do alcance limitado da atenção e da mudança contínua de objetivos a que a criança é submetida. O "transtorno psiquiátrico" (apud OMS) a desqualifica na escola, no playground e em casa.

Em termos do observador em arte, Walter Benjamin foi o primeiro a compreender "a recepção em estado de distração", opondo esta ao – em termos dele – "recolhimento". São as pulsações mutáveis de um novo objeto – no caso o filme cinematográfico – que levam Benjamin a propor a "distração" como modo de percepção do observador. Segundo ele, "a câmera cinematográfica nos abre a experiência do inconsciente ótico, do mesmo modo que a psicanálise nos abre a experiência do inconsciente pulsional". Benjamin privilegia a estética dadaísta porque suas obras produzem, "através da pintura (ou da literatura), os efeitos que o público procura hoje no cinema". E continua: "As manifestações dadaístas asseguravam uma distração intensa, transformando a obra de arte no centro de um escândalo" (v. "Dadaísmo", em A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica).

Crary não abandona a atenção para encontrar abrigo teórico na distração benjaminiana. Também não insufla – ao contrário de Benjamin – uma crítica normativa à pintura (a que convida o espectador ao recolhimento) pela oposição ao cinema (onde o espectador se abandona às associações). Crary opta por opor a atenção dirigida à atenção flutuante e por dissertar a favor de "uma intersecção paradoxal" entre as duas, cuja rentabilidade teórica e analítica passa a examinar a partir da leitura de quadros de Manet (Dans la Serre), Seurat (La Parade du Cirque) e Cézanne (Pins et Rochers).

Para entrar na "dialética da atenção e da distração", Crary vale-se da ambiguidade da prática da hipnose, dispositivo a que recorreram Charcot, Freud e William James. A hipnose abre um lugar entre, já que é fenômeno que envolve e implica dois estados mentais. Leva o hipnotizado a oscilar entre a intensa concentração focal e a relativa suspensão do conhecimento periférico. Representada pelas telas mencionadas, a arte impressionista se dá a ler na oscilação entre dois estados mentais adversos. Inaugura a possibilidade de se opor a uma poderosa atenção focada e normativa a distração que a desfoca de forma irresistível. O observador está diante de exemplos de "irredutíveis modalidades mistas de percepção".

O olhar do observador flutua entre "uma tela métrica e homogênea, sinônimo aparente do espaço clássico, e um regime perceptivo descentrado e desestabilizado"; mantém-se "entre uma operação funcional da visão e as ondulações atemporais do devaneio".

TOQUE FRANCÊS - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 23/06

Melissa Vettore e Leopoldo Pacheco, protagonistas de "Camille e Rodin", apresentaram o espetáculo anteontem na pré-estreia para convidados no Grande Auditório do Masp. Entre os amigos que foram conferir a peça, que tem direção de Elias Andreato, estavam os atores Marcelo Médici e Martha Mellinger.
SERRA PELADA
Uma das maiores produções cinematográficas brasileiras programadas para este ano acaba de ser adiada: "Serra Pelada", dirigido por Heitor Dhalia e coproduzido e estrelado por Wagner Moura, não será filmado em julho, como estava previsto.

EM ALTA
O diretor confirma. E diz que um dos motivos da paralisação seriam os custos da filmagem no Pará, onde fica o garimpo. Eles seriam "20% a 30% maiores" do que em SP, diz Dhalia. "Só para chegar lá é necessário pegar dois aviões. O Pará é quase um país. A gente não quis mais arriscar." O filme está orçado em R$ 10 milhões.

FOLHINHA
Cerca de 30 pessoas já trabalhavam no Pará e a maior parte será dispensada. Outro problema é a agenda: Wagner Moura, por exemplo, está comprometido com outros trabalhos em setembro. A maior probabilidade é que "Serra Pelada" seja então filmado entre outubro e novembro -em Mogi das Cruzes, em SP. "Queria tentar levar o filme pra Cannes em 2013, mas talvez não dê mais. Vamos ver", diz Dhalia.

POLTRONA
A paralisação chega num momento de dificuldade para o cinema brasileiro. Em 2012, nenhuma produção bateu ainda a marca de 1 milhão de espectadores, comum em anos recentes.

FALA, MALUF!
Desde que apareceu numa foto com Lula, Paulo Maluf vê seu celular tocando sem parar. "Recebi mais de 50 ligações num só dia, mas não atendo porque não sei de quem se trata." O ex-prefeito resistia, até ontem, a se manifestar sobre a polêmica imagem. "Há hora de falar e há hora de calar."

DUAS CANOAS
Já o PT festeja a possibilidade de o PTB manter a candidatura de Luiz Flavio Borges D'Urso a prefeito de SP. Quanto mais candidatos no páreo, menor a possibilidade de José Serra (PSDB-SP) vencer no primeiro turno. Dirigente do partido diz que Campos Machado, presidente petebista ligado ao governador Geraldo Alckmin, "está fazendo o que pode" para ajudar o PT, apesar de pressionado também pelo PSDB.

ME DÁ LICENÇA
O Tribunal de Justiça de SP determinou que o terreno ocupado pelo Clube de Regatas Tietê seja imediatamente devolvido ao município -que havia cedido o espaço em 1905. "Desde já, autorizo o uso de força policial e ordem de arrombamento para cumprimento da ordem de reintegração para que, se necessários, sejam utilizados com a máxima cautela", diz despacho da juíza Alexandra Fuchs de Araújo.

ME DÁ LICENÇA 2
Gestores do clube questionam a prefeitura por tê-los excluído de um projeto de lei que garante a oito agremiações (de Corinthians a Juventus) o direito de ocupar terrenos municipais por até mais 70 anos. Com dívida de R$ 35 milhões, o Tietê teve sua concessão expirada há três anos. A reintegração de posse foi pedida pela Secretaria de Esportes, que quer usar os equipamentos da entidade.

MÃOS NAS BATUTAS
O DJ Marky será maestro no Cine Joia em agosto, no evento Red Bull Technostalgia. Vai reger duas bandas que tocarão clássicos das pistas das últimas décadas. Em vez de vinil, CD, computador ou outra mídia, o DJ vai "mixar" a performance das bandas ao vivo.

BARRIGUINHA
Sarah Oliveira, 33, apresentadora do "Viva Voz" (GNT), já começa a repensar seu figurino na atual temporada da atração, que tem gravação até o fim de julho.

"A barriguinha já está aparecendo", diz ela, grávida de três meses do primeiro filho, com Thiago Lopes, administrador de empresas. "Estamos muito felizes", afirma.
VERDADE AQUI
Marisa Monte estreou em SP sua nova turnê, "Verdade uma Ilusão", anteontem, no HSBC Brasil. Foram ver o show a apresentadora Marília Gabriela, o estilista Marcelo Sommer e as modelos Talytha Pugliesi e Luciana Curtis.

CURTO-CIRCUITO
A galeria Mendes Wood inaugura hoje, às 14h, mostras de Steve Locke e Francesca Woodman.
Ricardo de Castro abre a mostra "Transformer", hoje, na Casa Triângulo.
O lounge One JK Iguatemi promove happy hour na segunda, às 18h.
O Oi Futuro e a Progetti lançam vídeo-catálogo da mostra "Máximo Silêncio em Paris", na Art Rio.
O ciclo de palestras do TEDx sobre alimentação no futuro acontece hoje no Grande Hotel Campos do Jordão, às 14h.

O início de uma nova estação para o mundo civilizado - LÚCIA GUIMARÃES


O Estado de S.Paulo - 23/06


A ideia de que uma só obra pode mudar a história começou a preocupar, ainda jovem, o hoje consagrado crítico literário, historiador e professor da Universidade de Harvard Stephen Greenblatt. Ele é um expoente do new historicism (novo historicismo) e vai à próxima Flip debater Shakespeare (leia texto abaixo). Greenblatt procurava leituras para as férias de verão no sebo da Universidade de Yale e se sentiu atraído pelo erotismo da capa de um volume de poesia com o preço desejável de US$ 0.10. O verão que passou mergulhado em Da Natureza, o longo poema escrito 2 mil anos antes pelo romano Lucrécio, inspirou A Virada - O Nascimento do Mundo Moderno, o livro de Greenblatt contemplado com o último Prêmio Pulitzer e o National Book Award de 2011, lançado agora no Brasil.

A Virada narra a redescoberta, em 1417, do poema de Lucrécio dado como perdido por mil anos. O livro é um tratado visionário sobre a natureza de tudo e foi encontrado num monastério alemão pelo italiano Poggio Bracciolini, então recém-demitido como secretário de um papa corrupto e deposto. Bracciolini, erudito à caça de obras perdidas da era clássica, no estilo dos humanistas da época, salvou Da Natureza do esquecimento, mandando seu copista reproduzir o livro, que logo se espalhou pela Europa. O efeito dessa decisão tomada antes mesmo de Bracciolini compreender a importância do que tinha nas mãos, se fez sentir, narra Greenblatt, muito além da escuridão do monastério, através da Renascença - e apontou para a modernidade.

Há 2 mil anos, Lucrécio descreveu em Da Natureza um mundo formado por um número infinito de átomos, um mundo sem Deus, onde a busca do prazer deve se dar na Terra pelo homem. Era uma tentativa de nos liberar do medo da morte, interpretou, desde o início, o estudante Greenblatt. Mas Lucrécio abre o poema com um belíssimo hino a uma deusa, Vênus:

Ó mãe dos Enéadas, prazer dos homens e dos deuses, ó Vênus criadora,

que por sob os astros errantes povoas o navegado mar e as terras férteis em searas, por teu intermédio se concebe todo o gênero de seres vivos e, nascendo, contempla a luz do sol: por isso de ti fogem os ventos, ó deusa

Greenblatt não vê incongruência nesses versos. "Lucrécio queria se apegar ao poder da imaginação como força erótica", diz ele.

Por que decidiu mergulhar na história da perda e recuperação do poema Da Natureza?

Não conhecia a história quando encontrei o livro por acaso, com 18 ou 19 anos. Mas, como passei minha vida profissional estudando a Renascença, me tornei interessado no que chamo de mobilidade cultural. O que acontece quando as coisas são deslocadas e precisam interagir com novo ambiente? Esse é tema recorrente da Renascença e ótimo exemplo é História de Uma Viagem Feita na Terra do Brasil, do Jean de Léry, em 1578. É um livro maravilhoso sobre um encontro em que uma cultura é forçada a interagir com outra, totalmente estrangeira. Temos exemplos dessa mobilidade em Shakespeare, que quase nunca criava uma trama do nada, adaptava narrativas clássicas. A recuperação de Lucrécio é emblemática desse tema, da obra fazendo uma reentrada em nova cultura.

O senhor nota que a primeira versão do poema que encontrou tinha uma tradução apenas correta e acredita que mesmo as obras mal traduzidas retêm seu impacto, quando descobertas em outro contexto.

Sim, acredito nisso. Uma antiga fonte de frustração para mim é não poder ler originais em línguas que não domino, especialmente o grego clássico. Mas isso não me impede de sentir a força da Ilíada e da Odisseia. Muito depois de ler a primeira tradução de Da Natureza, consegui ler o original em latim e aí o poder do poema cresceu para mim. Eu tive de ler Os Lusíadas em inglês, sei que não senti o mesmo como se dominasse o português, mas fui tocado pelo poema de Camões e entendo sua importância. Afinal, a tradução repousa sobre a convicção de que algo vai ser transmitido.

A virada do título se refere, na verdade, a múltiplas viradas e começa com a noção epicurista de clinamen, exposta por Lucrécio.

Sim, e você tem em português a palavra declinar, que usa a raiz latina para a virada. Eu destacaria pelo menos três viradas. Para Lucrécio, o Universo é um mundo material, onde não há deuses ou causas misteriosas. O que existe é o acaso e a incerteza com o fato de que os átomos se movimentam a qualquer momento e é impossível localizá-los. Só a física quântica do século 20 retornou a essa questão, que era considerada uma ideia ridícula, tanto quando Lucrécio escreveu, quanto depois, na Renascença. A segunda virada acontece com os acontecimentos inesperados que levam à redescoberta do livro por Poggio Bracciolini. E a virada maior se dá na mudança lenta do mundo medieval para a modernidade. O conteúdo do livro, que era estrangeiro e até bizarro na Renascença, foi instrumental na evolução para a modernidade.

E como o senhor distingue a progressão dessa mudança, entre a Renascença e o mundo moderno?

Para mim, há o distúrbio fundamental da Renascença, nesse dia do inverno alemão, há 600 anos, quando alguém encontra um manuscrito do tempo de Cícero e Júlio Cesar. Aquela era se define em parte pela redescoberta dos clássicos. Essa foi a tarefa a que se dedicou Poggio Bracciolini, um homem que servia à corte de um papa corrupto, e sua empreitada é a quintessência do Renascimento. Todo o ser nasce. A natureza experimenta incessantemente. Se uma criatura é capaz de se reproduzir e encontrar alimento, pode estender a vida de sua espécie. E será extinta quando o ambiente se tornar hostil. Lucrécio entendia a extinção das espécies há 2 mil anos, algo viria a violar os preceitos do cristianismo. Esta era uma noção radicalmente moderna, e não podia ser aceita na Renascença.

Por falar em espécies, não acha estranho ler um poema de 2 mil anos, ligar a TV, no século 21, e ouvir um conservador como Rick Santorum, que foi candidato sério a presidente, falando do assunto?

(Risos) É verdade, os Estados Unidos são de uma piedade incomum no mundo contemporâneo. Acredito que haja vários motivos pelos quais os americanos se agarram tanto ao fundamentalismo e me pergunto se um deles não tem a ver com uma reação a deslocamentos provocados pela tecnologia. Uma pesquisa de opinião recente mostrou que 75% dos pastores protestantes acreditam que Adão e Eva são personagens literais. Como você pode acreditar nisso e ao mesmo tempo acreditar nos últimos 200 anos da ciência? A alternativa da imaginação oferecida por Lucrécio continua encontrando grande resistência no nosso tempo. E veja que ele não estava reagindo ao cristianismo, reagia ao culto de Diana e Apolo. Nossos atletas, quando marcam um gol, olham para os céus, como se alguém lá em cima tivesse chutado. Esse tipo de pensamento mágico traz conforto.

Foi frustrante não encontrar mais fatos sobre a vida de Lucrécio, já que nada emergiu após a recuperação do manuscrito, no século 15?

Não havia informação confiável. O relato de seu tormento erótico após tomar uma "poção do amor" e o suposto suicídio aos 44 anos, feito por São Jerônimo, em 94 a.C., veio de um polemista interessado em lançar luz negativa sobre um filósofo pagão. Sabemos mais sobre Cícero e Ovídio. Compensei essa lacuna mergulhando sobre a vida de Bracciolini, sobre quem conhecemos bastante.

O senhor escreve que Shakespeare foi só uma faceta espetacular de um movimento cultural mais amplo, que incluiu Rafael, Montaigne, Cervantes, dezenas de artistas e escritores. Mas lembra que Da Natureza se reflete na arte primeiro.

É o que é mais interessante, na minha perspectiva. O poema volta ao mundo em 1417, num momento em que suas proposições eram profundamente inaceitáveis. E por quê? O poema poderia ter desaparecido, mas como sobreviveu? Porque foi abraçado por intelectuais, cientistas, mas, acima de tudo, inicialmente por artistas. Ele aparece na Primavera de Botticelli. Nas obras do excepcionalmente estranho Piero di Cosimo, de Florença. Foi acolhido nos Ensaios de Montaigne, que cita diretamente Da Natureza em mais de cem passagens, ainda que discorde de Lucrécio. É fascinante notar essa aceitação estética do poema, que não depende da tolerância a suas ideias. É uma apreensão de significado que precede em muito o momento, no século 17, quando Galileu se volta para os átomos ou outros cientistas cujo trabalho depois vai desaguar em Isaac Newton.

E isso mostra como a arte tem o poder de antecipar a nossa compreensão do mundo?

Sim, esquecemos como a arte faz avançar ideias que o presente ainda não pode aceitar. Os artistas que compreenderam Lucrécio sabiam que a arte não se opõe à ciência. Lucrécio produziu um dos grandes textos visionários sobre esse encontro. Hoje, podemos olhar para ele e pensar como devemos curar essa divisão entre o artista e o cientista.

Libertadores! Boca x Meia Boca! - JOSÉ SIMÃO


FOLHA DE SP - 23/06

Os corintianos adoraram que deu o Boca, porque pela Universidad eles não iam conseguir passar mesmo!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Pensamento do dia: "Pior não é ficar velho. Pior é ficar velho e parecido com o Lula". Rarará! E o grego novo ministro das Finanças: Vassilis RAPANOS! Rarará!

E o site Futirinhas revela a nova música do Neymar: "Eu quis um tchu! Levei um tchau!". Tchu! Tchau! Tchu Tchau, Neymar!

E atenção! Confirmado! Boca x Corinthians! Boca x Meia Boca! Os corintianos adoraram que deu o Boca, porque pela Universidad eles não iam conseguir passar mesmo! Rarará!

Se o Timão ganhar, a gente fica com as Malvinas. Dizem que é um excelente lugar. Pra morrer de tédio! E como disse o corintiano: "Agora é só calar a Boca da raça que nasceu pra secar o Coringão". Rarará!

E o primeiro jogo vai ser no La Bombonera. E o segundo no Pacaembu, no La Pipoquera. Se fosse no Morumbi, seria o La Bambinera. E na Copa 2014, La Robalhera! Rarará! E todos os argentinos vão gritar "Boca! Boca!" Menos o Maradona, que vai gritar: "Nariz! Nariz!". O Maradona vai torcer pelo nariz!

E cadê o Galvão? Tomou Doril? Sumiu! Por isso que se chama Libertadores: ficamos livres do Galvão! Rarará! Mas eu tenho saudades do Galvão. A gente cria apego! Com aquela voz de foca da Disney!

E a Rio+20! Rio Mais 20 Pedaços de Pizza. Demoraram 20 dias pra conseguir terminar o rascunho final. Olha a charge do Amorim: "Rascunho final às futuras gerações: cês estão é lascados! Ass: Rio+20".

Eles deviam fazer o remake daquele filme do Tom Cruise: "Gases Indomáveis". Avisa pra Cópula dos Povos que segurar gases é uma emissão impossível. E tenho que confessar um crime hediondo: eu deixo a torneira aberta enquanto faço a barba! Rarará! Mas, em compensação, no chuveiro eu só lavo o que for usar hoje. Cartaz no box: "Economize água: só lave o que for usar hoje!".

E a Hilária Clinton? "Hillary diz que energia limpa é um dos pilares da política externa americana". E bomba é energia limpa? Rarará!

E um amigo acha que deviam cimentar a Amazônia e virar estacionamento. O povo quer estacionar. O povo não quer respirar, quer estacionar. Ou então faz 18 buracos e vira campo de golfe! Se bobear é isso que vai acontecer: a Amazônia vira um resort! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Acabou em carnaval - ZUENIR VENTURA


O GLOBO - 23/06
Escrevo antes do encerramento da Rio+20, mas, pelo que tenho lido, dificilmente o documento final atenderá ao que dele se esperava ou se desejava. Com exceção da presidente Dilma, aparentemente satisfeita ("é um grande avanço e uma vitória para o Brasil"), quase todo mundo - dos cientistas aos ambientalistas, passando por empresários e economistas - repudia o texto considerado "tímido" e "frouxo". Na quarta-feira, o libanês Hamidan, da Rede de Ação Climática, já anunciava que mais de mil instituições da sociedade civil, entre ONGs e órgãos de pesquisa, estavam retirando suas assinaturas. O caso mais curioso foi o do secretário da ONU, Ban Ki-moon, que primeiro acusou o relatório de não ter ambição - "não podemos mais nos dar o luxo de adiar decisões" - e no dia seguinte, com a mesma cara, classificou o documento de "grande sucesso" e "excelente".
De consenso mesmo só o fato de que os países mais ricos e poderosos estão dispostos a salvar o planeta, desde que não tenham que enfiar a mão no bolso. Por isso, o momento mais significativo foi o do discurso da jovem neozelandesa de 17 anos Brittany Trilford, puxando a orelha dos chefes de estado, ao cobrar ação e mudanças urgentes: "Vocês têm 72 horas para decidir o destino de nossas crianças, dos meus filhos, dos filhos dos meus filhos." Parece que não lhe deram ouvidos.

Mas, enquanto lá dentro do Riocentro era aquele chove não molha, em outras partes da cidade, principalmente no Centro, o que se via era uma grande e divertida efervescência, lembrando os desfiles de blocos carnavalescos. Nunca houve tantas e tão variadas manifestações de protesto em tão pouco tempo. Passeatas, marcha global, marcha da maconha. Rapazes com nariz de palhaço e bocas tapadas com fita adesiva protestavam contra os rumos da conferência. Índios com tacape, arcos e flechas deixavam a polícia sem saber o que fazer, já que podiam representar ameaça. Na Cinelândia, o senador Eduardo Suplicy, com chapéu de Robin Hood, cantava Bob Dylan para propor a criação de um imposto financeiro. Uma bonita moça com os seios à mostra, como se representasse as femens da Ucrânia, a Riquezinha, tocava tambor em defesa das lésbicas, das negras e da liberdade feminina. Um frequentador do aterro que num dia viu os lindos seios nus da jovem e no outro esbarrou com as bundas nuas dos participantes do movimento Ocupa Rio, disse que aquilo parecia ser não a Cúpula, mas a "Cópula dos povos".

A Rio+20 pode ter sido um fracasso, mas os movimentos sociais fizeram o seu carnaval.

Descobri que, de todas as novas tecnologias da comunicação, o Skype é a mais avançada, a mais revolucionária, a mais útil, a que prefiro. Afinal, é o que está permitindo que diariamente eu veja, ouça e fale com Alice, que está longe, viajando.

Arcaicas, ideias de Safatle deveriam estar num museu - JOÃO PEREIRA COUTINHO


FOLHA DE SP - 23/06

Vladimir Safatle deveria estar num museu. Digo isso com todo o respeito.

Lendo "A Esquerda que Não Teme Dizer Seu Nome", lembrei de imediato a peça "O Percevejo", de Maiakóvski, história de um antigo bolchevique, Prissípkin, que, depois de um acidente, acorda para o mundo futuro vindo diretamente de um passado irreconhecível.

Safatle é uma espécie de Prissípkin intelectual: o século 20 pode ter sido o grande cemitério de cada uma das suas ideias coletivistas. Mas Safatle, como o anti-herói de Maiakóvski, esteve mergulhado numa tina de água gelada em hibernação ideológica. Não viu nada, não aprendeu nada. E não esqueceu nada.

Ser de esquerda é, para Safatle, estar com aqueles que mais sofrem. É o primeiro clichê. Mas depois vêm outros: a defesa radical do igualitarismo é um valor inegociável para os camaradas.

Infelizmente, ele não explica em que consiste esse igualitarismo, para além das piedades habituais sobre a importância de redistribuir riqueza. Nenhuma palavra sobre a necessidade de a criar.

Criar? Para Safatle, o mundo divide-se em ricos e pobres; os ricos roubam os pobres; a função do Estado é roubar os ricos. "The end".

Igualitarismo é parte da história. Mas a esquerda que não teme dizer seu nome também é, para Vladimir Safatle, "indiferente às diferenças". Não sei se isso significa que o autor, com apreciável coragem intelectual, se opõe às cotas raciais instituídas por universidades brasileiras.

Sei apenas que, para Safatle, cultivar as diferenças (e, por arrastamento, demonizar o outro) é vício judaico-cristão, praticado pela Europa branca e xenófoba.

Curiosamente, não passa pela cabeça do filósofo que esse "culto da diferença" é também prerrogativa de comunidades imigrantes, leia-se "muçulmanas", que habitam a Europa, mas repudiam os seus valores multiculturais e resistem a integrar-se.

SOBERANIA POPULAR

De resto, as melhores páginas deste curto ensaio estão na apaixonada defesa do conceito arcaico de "soberania popular".

Na minha inocência, eu julgava que esta herança rousseauniana, uma metáfora para a total rendição do indivíduo aos ditames da comunidade, tinha ficado enterrada com as "democracias populares" do século 20.

Ilusão minha: as utopias revolucionárias da última centúria foram apenas uma ideia que não deu certo, diz Vladimir Safatle.

E acrescenta: "quantas vezes uma ideia precisa fracassar para poder se realizar?".

Não é fácil ler a pergunta e imaginar os 100 milhões de seres humanos (estimativa conservadora) que o comunismo destruiu nas suas "experiências" de criação do "homem novo".

E volto a Maiakósvki, porque são dele as palavras que abrem o livro de Safatle: "Melhor morrer de vodca que de tédio". Admito que sim.

Mas alguém deveria informar Safatle de que não foi a vodca (nem o tédio) que matou o seu herói. Ironicamente, foi o clima de repressão e intolerância do regime soviético que o conduziu à aniquilação pessoal.