sexta-feira, outubro 04, 2013

Volátil, juro fareja pistas - LUIZ SÉRGIO GUIMARÃES

BRASIL ECONÔMICO - 04/10

A tensão pré-Copom volatiliza ainda mais as já frequentemente instáveis taxas dos contratos futuros de juros. Os investidores se agarram a todas as pistas sobre a possível decisão que o Banco Central tomará na semana que vem ou para se proteger ou para tirar vantagem. As dicas mais preciosas são sempre as fornecidas por dirigentes da autoridade monetária. A passagem do presidente Alexandre Tombini por Londres foi pródiga em pegadas. Mas, para desespero do pregão da BM&F, enquanto umas iam, outras voltavam. A taxa para a virada do ano, que havia subido para 9,39% na quarta-feira, caiu a 9,38% ontem, retornando ao nível de terça-feira. O contrato mais negociado, com vencimento em janeiro de 2015, recuou de 10,27% para 10,17%.

Na quarta-feira, Tombini enfatizou que o BC persegue como meta de inflação os 4,5% fixados no centro do sistema de bandas. Foi o que bastou para desencadear a suspeita de que o Copom estava prestes a desfechar um choque de juros digno do nome. Para trazer a inflação de 2014 dos 5,7% projetados pelo próprio BC em seu último Relatório Trimestral de Inflação (RTI) para a mosca de 4,5%, uma Selic de 12% talvez não fosse suficiente.

Pouco se parou para pensar que, sob um regime de metas inflacionárias, nenhum presidente de BC admitiria estar no encalço de uma taxa de inflação diferente do ponto central. Mas muita energia foi gasta na discussão da possibilidade, e risco, de um aperto drástico na política monetária. Ontem, tudo mudou.

Ainda em Londres, Tombini disse que "a inflação está sob controle". Disse mais: "Estamos em processo de redução da inflação. Fizemos progressos depois do pico de junho e fomos capazes de reduzi-la. E observamos a inflação para definir nosso passo". Estas últimas declarações não combinam nada com a intenção de promover um choque de juros. Combinam mais com o oposto.

O fato é que nenhuma dessas afirmações conflita nem com o bom senso, nem com os documentos oficiais. A inflação de fato não ameaça descontrolar-se. Isso poderia acontecer em caso de over-shooting cambial, de choque externo ou pela imposição de um realismo tarifário. Nada disso está no horizonte. Se alguém não concordar com a visão de Tombini de uma inflação descendente, não poderá negar, contudo, que o IPCA está ao menos estabilizado entre 5,8% e 6%. Está estabilizado num nível alto - o que causa repulsa aos ortodoxos -, mas está estabilizado.

Uma comunicação eficaz do BC com os agentes econômicos é essencial ao sucesso do sistema de metas. É por meio dela que a autoridade conduz e fundeia as expectativas. A comunicação é mais efetiva quando feita por meio dos textos oficiais - atas e statement do Copom, RTIs, Boletins Focus e notas oficiais. E muito raramente é exercida através de discursos e entrevistas. Caso, por exemplo, da entrevista de Tombini no início de fevereiro, quando se declarou "preocupado" e "desconfortável" com o nível da inflação. Mesmo assim, na reunião seguinte do Copom, em 7 de março, manteve a Selic em 7,25%. Só foi subi-la no encontro de 17 de abril.

O dólar só conseguiu subir ontem 0,41%, cotado a R$ 2,2030, por culpa de ranhuras na imagem externa do país. Mesmo os investidores peritos em incendiar os mercados apenas munidos de poucos gravetos não encontraram muito combustível no relatório da agência americana de risco Moody"s, a maior do mundo, em que reduz a perspectiva brasileira. Não é verdade que a classificadora ameaçou reduzir a nota atribuída ao Brasil. O que ela fez foi mudar o outlook de positivo para neutro.

Explicando: antes, conseguia enxergar justificativas para um upgrade da nota de risco de crédito dos títulos nacionais. Por isso, o viés era positivo. Agora não vê mais condições de melhorar a nota. Vê problemas que impedem a concessão de uma nota mais positiva. A perspectiva passou então para neutra. Não há motivo nem para subir nem para descer a nota. A agência estará disposta a estudar uma baixa na classificação do país (hoje em "BAA2") se, no futuro, alterar o outlook de neutro para negativo. Ao colocar o rating em perspectiva neutra, ela reconfirma, apesar dos problemas, o status de grau de investimento do Brasil.

O relatório da Moody"s não deixou ninguém escandalizado porque, na verdade, a agência estava atrasada em relação às outras duas gigantes do setor. A inglesa Fitch já cultivava viés estável para a nota brasileira, no caso dela, um "BBB". A mais apressadinha é a americana Standard & Poor"s, com perspectiva negativa e nota também "BBB". Nos três casos, o rating do país está no segundo patamar de baixo para cima do crité -rio conhecido como "investment grade". Ou seja, se o país descesse um degrau, ainda assim seria grau de investimento, apto a receber aplicações de fundações globais que, por estatuto, só investem em países com esse selo de segurança anticalote.

Meio travado, o dólar nem conseguiu acompanhar o sobe-e-des-ce dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano. Eles se movimentaram em função dos indicadores cuja apuração e divulgação não foram prejudicadas pela paralisação de setores do governo. De manhã, a taxa do T-Note de 10 anos avançou até 2,66%, vindo de 2,62% na véspera, por causa de um crescimento no número de novos pedidos de seguro desemprego aquém do esperado. As novas solicitações avançaram na semana passada de 307 mil para 308 mil, mas os analistas projetavam alta para 315 mil. Ou seja, o mercado de trabalho não está tão ruim como imaginavam. À tarde, caiu até 2,58% em razão de dados ruins sobre o setor de serviços. OISM relativo ao segmento cedeu de 58,6 em agosto para 54,4 em setembro, um recuo mais acentuado que a estimativa de 57 dos economistas.

Desde o início do shutdown, na terça-feira, já deixaram de ser publicados pelo Departamento do Comércio os dados referentes aos investimentos em construção civil e as encomendas à indústria. E o Departamento do Trabalho já avisou que não divulgará hoje o payroll de setembro, o relatório sobre o mercado de trabalho, o dado mais aguardado da semana pelos investidores, pois fundamental às decisões do Federal Reserve (Fed). Na falta de indicadores, os mercados terão de se fiar nas declarações dos presidentes regionais do Fed. Mas, estas, apontam para todas as direções e não chegam a lugar algum.

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