O Estado de S.Paulo - 04/10
Se a vontade era de largar tudo, deixar o partido onde não tinha mais espaço e de novo disputar a Presidência da República desta vez pelo PPS, a racionalidade se impôs na decisão de José Serra de ficar no PSDB.
Pesados e medidos os fatores favoráveis e os desfavoráveis, a conclusão foi a de que para tentar derrotar o PT ele contribuiria mais para o reforço do time da oposição ficando e percorrendo o País com discurso crítico ao governo Dilma Rousseff.
Na realidade nua a crua não haveria vantagem em sair. Sem tempo suficiente de propaganda na televisão, com dificuldade de alianças e os obstáculos daí decorrentes para o financiamento da campanha, a possibilidade de ganhar era praticamente nula.
Além disso, se já era pequena a chance de Serra levar consigo outros tucanos ela deixou de existir quando a fusão do PPS com o PMN não deu certo. Parlamentares que deixassem o PSDB estavam arriscados a perder o mandato em função da regra da fidelidade partidária. Sair sozinho não faria sentido.
Com a agravante de que uma possível candidatura presidencial dividiria os votos oposicionistas e reduziria a chance de o PSDB ir ao segundo turno. Serra seria responsabilizado por isso, ainda que o senador Aécio Neves não caísse no gosto do eleitorado por outras razões.
O que os tucanos não dizem publicamente é que houve uma pressão pesadíssima para que ele não saísse. O discurso oficial era o da indiferença, mas a prática interna foi no sentido contrário: o de convencê-lo a ficar, emprestando potencial eleitoral e patrimônio profissional ao partido.
Isso em âmbito nacional, mas também e principalmente em São Paulo onde esse capital é tido como fundamental tanto para a reeleição do governador Geraldo Alckmin quanto como alavanca à candidatura de Aécio Neves.
José Serra, com tantas arestas e conflitos mútuos acumulados, participará efetivamente da campanha? Segundo aliados, precisa participar. Ao jeito dele e da maneira que considerar melhor para preservar espaços de atuação que haviam sido subtraídos e agora podem começar a ser retomados.
Por exemplo: nas pesquisas de opinião realizadas pelo PSDB, o nome de Serra deve ser incluído. Isso não significa que hoje existe a possibilidade de o partido trocar de candidatura. O nome continua sendo o de Aécio Neves.
Mas, como não se sabe o dia de amanhã e as pesquisas atuais não estão exatamente maravilhosas para as candidaturas de oposição, sempre existe uma possibilidade remota de alteração no jogo.
Essa "brecha" - por ora meramente hipotética - permite que Serra seja exposto no noticiário com mais destaque. Não por outro motivo o único acerto feito entre ele e Aécio nas tratativas que antecederam a decisão foi o de que não haverá oficialização da candidatura presidencial antes de abril ou maio de 2014.
Lenitivo. Um velho truque de governantes quando têm um grande problema difícil de ser resolvido é tomar uma medida que dê ao público a sensação de solução.
Assim atua o governo federal com a importação de médicos. A saúde pública continua precária, mas o que fica para a população é a ideia de que alguém fez alguma coisa. Alivia a alma e, ainda que não cure os corpos, rende votos.
Para todos. Na berlinda sobre a propriedade de sua aplicação em tribunais de última instância, os embargos infringentes necessariamente terão em algum momento de ser tema de debate no Supremo Tribunal Federal: continuam ou não a figurar no regimento interno?
Mas, na opinião de um ex-ministro do STF, o assunto terá ao menos de esperar o julgamento do mensalão mineiro. "Se não, vai parecer casuísmo".
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