O Estado de S.Paulo - 07/10
PARIS - Nikolas Michaloliakos, o líder do partido grego neonazista Aurora Dourada, foi preso e permanecerá na cadeia enquanto responde a processo. A decisão dos juízes de primeira instância que adotaram medidas judiciais contra esse grupo ultraviolento, acusado de ter assassinado o rapper antifascista Pavlos Fyssas, tranquilizou os democratas gregos.
Várias estratégias se sucederam em relação ao Aurora Dourada. O governo "conservador" de Antonis Samaras contemporizou durante muito tempo. A Grécia debatia-se na crise financeira e não queria tratar de mais um problema.
Em seguida, o Aurora Dourada, que conseguira eleger ao Parlamento 18 deputados, começou a multiplicar as provocações. Lançou seus asseclas contra os imigrados. Ao mesmo tempo, perpetrou várias ações ilegais, extorsões e fraudes.
Até que, no mês passado, os neonazistas cometeram mais um assassinato, no dia 17, em Atenas. A vítima foi um rapper, punido por seus textos antifascistas.
Nessa altura, o primeiro-ministro decidiu agir com extrema eficiência e prendeu o líder Michaloliakos e seus principais assistentes.
O grupo nazista ficou acéfalo. A Grécia, mas também os outros países europeus, respiraram. Entretanto, dias depois, temeu-se uma "recaída" das autoridades, quando colocaram em liberdade provisória vários chefetes do Aurora Dourada. Pensou-se num recuo diante desse grupo de bandidos.
Em menos de 24 horas, no entanto, a Justiça decidiu manter na cadeia o líder Michaloliakos, assim como um dos seus principais ajudantes, Georges Patelis, chefão do Aurora Dourada no bairro onde o rapper foi executado.
Resta uma pergunta: a coragem do governo grego bastará para afastar o espectro do fascismo? O jornal francês Le Monde não tem a menor dúvida.
E saiu com a manchete: "Boas notícias da Grécia com o fim do partido neonazista".
Não devemos esquecer de que a Grécia moderna, ao contrário da Grécia Antiga, é um caldo de cultura no qual prosperam as bactérias do fascismo mais exaltado. Vimos isso depois da guerra, com as tentativas da tomada do poder dos comunistas stalinistas; mais tarde, com o regime selvagem dos "coronéis" (1967-1974).
Por outro lado, se o Aurora Dourada cresceu tão rapidamente a ponto de representar 12% do povo grego, o fato explica-se pela crise que assola o país há três anos com a força de um tsunami. Sem emprego nem dinheiro e obrigada a mendigar, grande parte da sociedade está disposta a aderir às vozes mais tentadoras, mais vulgares. Entretanto, mesmo com o líder do Aurora Dourada provisoriamente na cadeia, a crise econômica, a "descida aos infernos", prossegue inexoravelmente.
O partido de extrema direita soube tirar proveito dessas duas realidades: a miséria e a xenofobia. Como exemplo da habilidade dessa estratégia, o Aurora Dourada, quando não executa rappers, distribui alimentos gratuitamente. Para ter direito a uma tigela de sopa, a pessoa deve apenas provar que é de nacionalidade grega. Nada de sopa para os estrangeiros!
"O ovo da serpente", disse mais ou menos Shakespeare em Júlio César, "se chocado, por sua natureza se tornará nocivo. Matemo-lo enquanto está na casca". O sueco Ingmar Bergman usou essa frase como título de um dos seus mais belos filmes, em que analisa justamente o início do nazismo.
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