sexta-feira, outubro 25, 2013

Britânicos superam preconceito contra energia nuclear - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 25/10

Brasil terá de seguir caminho semelhante para não ter de recorrer a combustíveis mais poluentes na geração de eletricidade em usinas térmicas


Os britânicos fazem parte da União Europeia, mas não aderiram ao euro, moeda única adotada por 17 nações no continente e usada até mesmo por outras economias. A Grã-Bretanha optou por manter a tradicional libra, até porque tem fortes laços comerciais, financeiros e políticos fora da Europa (com os Estados Unidos, por exemplo). Além disso, a libra talvez seja um dos últimos símbolos herdados da imponência do antigo Império Britânico, aquele em que nunca o sol se punha.

Resistiram muito a entrar na União Europeia, assim como foram oponentes do nascente Mercado Comum Europeu nos anos 1950 e 60. Sob pressão migratória permanente com origem em suas ex-colônias, a Grã-Bretanha não aderiu ao tratado (Schengen) que permite a livre circulação de cidadãos dentro de grande parte da União Europeia.

Gostam de ser diferentes dentro da Europa e mais uma vez devem comprovar essa característica ao decidir pela construção de uma nova usina nuclear, o que não faziam há trinta anos. Os britânicos foram os primeiros a gerar eletricidade no mundo em uma usina nuclear. E interromperam seu programa quando os franceses pisavam fundo no acelerador desse segmento e os alemães tentavam difundir uma nova tecnologia (tendo inclusive o Brasil como parceiro) nesse campo.

A França tem hoje 84% da sua eletricidade sendo gerados em usinas nucleares. Os alemães, mais de 50%, porém optaram por recuar. Os britânicos passaram a contar com o gás natural do Mar do Norte depois dos anos 1970, mas suas reservas estão diminuindo. Certamente não vão querer retroceder ao carvão, que foi a base de sua revolução industrial. Um número considerável de minas de carvão foi fechada no País de Gales, na Escócia e no Norte da Inglaterra, por serem antieconômicas. E, ainda mais, é um tipo de combustível que contribui para o aumento das emissões de CO2.

Assim, a energia nuclear ressurgiu como alternativa mais viável, mesmo pelo aspecto ambiental, pelo controle dos rejeitos. O primeiro-ministro David Cameron, do Partido Conservador, levantou a bandeira da geração de energia nuclear como uma oportunidade para que a a indústria britânica recupere o patamar tecnológico que já possuiu nesse segmento. Chegou a prever a criação de 30 mil empregos com essa retomada, feita com a ajuda de tecnologia francesa e capitais chineses.

O Brasil é um dos países que estão construindo nova usinas nucleares. Angra 3 vai gerar energia dentro de alguns anos, quando estiver concluída e testada, incorporando-se a duas outras já em operação. Como o Brasil agora se recusa a construir hidrelétricas com reservatórios de acumulação de água, a dependência por usinas térmicas será crescente. Para evitar que se tenha de recorrer a combustíveis mais poluentes para a geração térmica, usinas nucleares precisam ser consideradas como boa opção.

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