sexta-feira, outubro 25, 2013

Águas da Petrobras - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 25/10

A defasagem da gasolina está em 6,5% e a do diesel, 19%, números de ontem, segundo informou a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster. Em uma entrevista que me concedeu, ela diz que a produção aumentará muito porque nove plataformas estão entrando em operação. Não falou de reajuste já, mas disse que está trabalhando num modelo para dar previsibilidade aos preços.

Professor da FEA/USP, Adriano Henrique Rebelo Biava defende uma ampla renegociação da dívida i pública no país e não apenas a troca do indexador, que na sua avaliação será uma solução temporária. A atual proposta, segundo ele, acabará por facilitar o aumento do endividamento de estados e municípios. — Da forma como está sendo negociada essa renegociação da dívida agora, vai permitir que os estados e municípios que estão na beira do endividamento possam contrair novos débitos. Isso não é correto—diz ele.

Para Biava, a alternativa que foi aprovada pela Câmara é um acerto parcial e deve ter um prazo de validade pequeno, porque não muda o comportamento de estados e municípios frente aos gastos. Ele ressalta que a discussão atual e a da década de 90 foram marcadas por componentes políticos.

— É preciso um esquema para equacionara dívida como um todo. Sugiro uma câmara de compensação da dívida federal, que liste todos os débitos.

Sem essa negociação mais ampla, afirma o professor da FEA/USP, estados e municípios sem problemas em suas finanças acabarão custeando as dívidas dos demais, já que é a União que assumirá esse custo maior do endividamento. (Lucianne Carneiro)

Petrobras sempre está no centro das atenções, mas nesta semana foi mais ainda. Ela me concedeu uma entrevista na Globo-news em que falou de alguns dos inúmeros assuntos que cercam a operação da empresa.

Graça confirmou que não precisará de endividamento para pagar o bônus.

— O caixa da empresa dá para pagar algumas vezes o bônus de R$ 6 bi. Os investimentos de libra são grandes, mas não a curto prazo. O primeiro óleo sai em 2020 e vamos produzir no pico em 2024 e 2025.0 grande investimento será em 2017 e 2018. Agora, faremos apenas dois poços exploratórios e uma sísmica 3D.

Além disso, segundo ela, começa agora uma escalada de aumento de produção de petróleo:

— Libra veio num momento muito conveniente, quando a curva de produção será ascendente. Pela primeira vez na história da Petrobras, nove plataformas estão entrando em operação quase simultaneamente. Hoje, a P-55 chegou ao nível 3, a P-63 já está em Papa-terra esperando a P-61, que chega em um mês. O ano que vem será totalmente diferente, vamos aumentar mais 150 mil a 200 mil barris, mas todas essas plataformas são mais um milhão de barris/dia.

Eu perguntei sobre os inquietantes dados do endividamento que levou ao rebaixamento da empresa por uma agência de risco. Para se ter uma ideia, em 2010 a empresa devia R$ 132 bilhões e agora R$ 240 bi. A capitalização foi feita porque a relação entre endividamento líquido e patrimônio líquido estava numa proporção de 30, agora está em 34. Perguntei se não era preocupante:

— A gente teve downgrade por uma das agências, mas todas nos classificam como grau de investimento. Ninguém gosta de tirar nota baixa, a gente não quer descer nem um degrau.

O problema é que em 2012 postergamos parte da produção projetada.

Esse atraso impactou a geração de caixa. Nos últimos 16 meses tivemos quatro aumentos de preços (alguns não chegaram ao consumidor pela redução da Cide).

Ficamos em alguns momentos muito próximos da paridade e em maio chegamos a vender diesel mais caro aqui do que lá fora. Mas aí veio o Fed e anunciou que estava pensando em retirar os estímulos e a volatilidade do câmbio nos pegou em cheio.

O dólar já caiu grande parte do que tinha subido, por isso perguntei sobre a atual defasagem:

— Não costumo dizer, mas vou dizer. Hoje de manhã estava em 6,5% a gasolina e 19% o diesel, sem contar os custos de internação. A produção que é postergada pode ser recuperada amanhã, a gasolina vendida abaixo do preço não se recupera mais essa receita.

Mesmo assim, ela não quis dizer se os preços subirão este ano. Preferiu repetir que está trabalhando num modelo de previsibilidade. Negou que fosse como a fórmula paramétrica que funcionou no passado e disse que não quer repassar a volatilidade dos preços e câmbio, mas quer ter previsão desses dois preços que representam, segundo ela disse, 40% do que fatura na venda de combustíveis:

— Para o governo não interessa a inflação e para mim também não, mas eu tenho que fazer um grande investimento e por isso preciso ficar mostrando o tempo todo ao governo que eu preciso honrar meus compromissos. Preciso crescer, gerar renda e dar retorno aos acionistas. O preço da ação não é justo para uma empresa que tem tanto.

Ela disse que enfrentará a queda das ações com mais produção. Disse que os estaleiros do Norte-Nordeste até o Rio Grande do Sul estão trabalhando em plataformas com atrasos menores do que os equipamentos que vêm da China.

Perguntei como ela avalia o fato de ser obrigatoriamente a operadora em todos os campos do pré-sal:

— Isso é lei, e lei é lei. Não discuto. Mas tudo vai depender do ritmo que se quer.

Disse que houve muita competição durante meses, das empresas interessadas em libra. Competição para estar junto com a Petrobras. Acha que foi boa a solução final. Sobre a PPSA, afirmou que sabe pouco sobre a empresa, mas tem confiança nas pessoas escolhidas. 

Nenhum comentário: