FOLHA DE SP - 22/09
Prioridades devem ser revistas sempre. As prioridades do Brasil há dez anos não são as mesmas de hoje. Na época, vínhamos de um padrão de crise recorrente por mais de duas décadas, com dívida pública vulnerável e sensível à aversão de risco dos investidores, inflação que atingiu 17% em maio de 2003 e dívida pública externa muito superior às reservas internacionais.
A prioridade, então, era estabilizar a economia e sanear as finanças públicas e, com isto, estabelecer condições para a criação de emprego e o crescimento sustentável.
Isso foi feito com todo o rigor: a inflação foi controlada, as reservas superaram o total da dívida externa pública e privada em 2008, e a dívida pública caiu substancialmente em relação ao PIB. Em consequência, o Brasil cresceu a taxas aceleradas entre 2004 e 2010, criando milhões de empregos e expandindo de forma impressionante o mercado consumidor interno.
Essa evolução trouxe maior estabilidade econômica, política e social à nação. É necessário manter o que foi conquistado e dar os próximos passos.
A única forma de retomar o crescimento é elevar a produtividade e o estoque de capital da economia. Ou seja, investir em máquinas e equipamentos, educação, treinamento e infraestrutura.
Esse aumento substancial do investimento requer, em última análise, aumento da poupança nacional, e aqui chegamos ao nó górdio. A poupança brasileira é baixa para os padrões internacionais e extremamente baixa pelo padrão dos países emergentes, como esta Folha mostrou na segunda-feira. O aumento da poupança é o próximo grande desafio nacional.
O passo mais imediato é o aumento da poupança pública, com redução de gastos correntes e mais investimentos, uma decisão essencialmente política. As dificuldades no Congresso nessa área são reais e compreensíveis. Mas não maiores que o desafio vencido na década passada de equilibrar as contas e estabilizar a economia.
O segundo passo é elevar a poupança privada. Para isso, será preciso que as políticas públicas deixem de privilegiar o aumento do crédito e do consumo e incentivem a poupança, mesmo com perda de consumo no curto prazo.
A alta do investimento virá com poupança nacional ou estrangeira. Mas a dependência estrangeira não é sustentável, devido ao aumento do déficit externo e das incertezas dos mercados internacionais.
Portanto, a poupança nacional é o único caminho viável para o desenvolvimento sustentável no médio e longo prazos.
Para isso, é preciso que as autoridades assumam essa prioridade como meta nacional, mesmo com sacrifício de políticas pró-consumo de curto prazo.
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