CORREIO BRAZILIENSE - 22/09
Num sistema com 30 partidos, governo algum terá maioria parlamentar. Os velhos problemas, com mais três siglas, tendem a se agravar
A decisão do PSB de deixar o governo Dilma vai turbinar os movimentos eleitorais, acelerando migrações, alinhamentos e desalinhamentos nos estados, com reflexos na disputa nacional. Com o gesto, o governador Eduardo Campos atiçou, em Pernambuco, a corrida pela sua própria sucessão. Na oposição, Aécio Neves estreita os laços com a cúpula do DEM, velho aliado, antes que seja por outro cobiçado. Mas Dilma, ao pedir novo encontro com Campos, e ele, ao aceitar o convite, voltaram a jogar fumaça no ar. O governador, mesmo entregando os cargos, não assumiu a própria candidatura, e, com isso, manteve ainda alguma ambiguidade.
Vamos a Pernambuco, onde a política local está fervendo. A primeira reação ao gesto de Campos foi do senador Armando Monteiro, do PTB. Por algum tempo, ele foi considerado uma alternativa do governador para a própria sucessão. Mas os socialistas passaram a dizer que o candidato será do PSB, escolhido pelo governador, na hora que ele considerar oportuna. O secretário Tadeu Alencar é tido como seu delfim. Na sexta-feira o senador fez ,em Recife, declarações equivalentes a um grito de independência, reiteradas à coluna: "O que eu digo é simples. O PTB deseja ter, em Pernambuco, a mesma liberdade que o PSB buscou no plano nacional ao deixar o governo. Eu apoio o Eduardo no estado, mas ele não será mais candidato a governador. Nem informou se será candidato a presidente. Eu também apoio a presidente Dilma, e como ela é candidata natural à reeleição, terá meu apoio. Diante do hegemonismo do PSB, minha candidatura ao governo será apresentada como alternativa independente". No estado, o estilo imperial e centralizador do governo já rendeu um chiste: "Os coronéis antigos perseguiam os adversários. O de hoje, persegue os aliados".
Devolvendo os cargos no governo federal, Campos deixou principalmente o PT pernambucano em saia justa. Amanhã, diz o senador Humberto Costa, a executiva regional se reunirá para decidir se responde na mesma moeda, devolvendo os cargos que ocupa no governo estadual. "Vamos discutir, mas evitando rompantes e hostilidades", diz ele. Na verdade, os petistas devem estar confusos com os sinais emitidos por Dilma e Campos ao acertarem novo encontro, depois de ela ter pedido ao ministro do PSB Fernando Bezerra para ficar no cargo até o dia 29. Há quem veja nisso algum movimento de Lula. Seja o que for, melhor ir devagar com o andor. E se, lá na frente, ele desistir da candidatura? E se concorrer, mas não chegar ao segundo turno, quando seu apoio será valioso? Mesmo assim, os petistas já se preparam para a disputa estadual. Se Eduardo apoiasse Dilma, eles apoiariam o candidato dele. Como isso agora é improvável, podem lançar a candidatura do ex-prefeito João Paulo ou apoiar o senador Armando Monteiro. O PSDB, embora torça pela candidatura Campos, precisará de palanque no estado. O candidato deve ser Daniel Coelho, segundo colocado na eleição municipal do ano passado.
Uniões e separações
A viagem de Aécio Neves a Salvador era apenas para visitar o prefeito ACM Neto, mas ele acabou se reunindo também com o presidente do partido, senador José Agripino, e o secretário e ex-deputado José Carlos Aleluia. Aécio quer assegurar logo a aliança que começou em 1994, na primeira eleição de Fernando Henrique. Precisa convencer de sua maior viabilidade eleitoral os democratas empolgados com a candidatura de Campos, como o deputado Ronaldo Caiado, de Goiás. Endossando a candidatura de ACM Neto a governador da Bahia, Aécio sinaliza aos descontantes, como Caiado, a quem o governador tucano Marconi Perillo negou apoio no passado, que o PSDB está disposto a uma aliança de reciprocidades em 2014. No mais, saudou a dissidência de Campos, dizendo que ele deixa o governo porque já enxerga o fim da era PT e seguiu para Alagoas, para um dos seminários que seu partido está realizando nas capitais, tocando o tambor para reunir a tribo.
PSDB e DEM se unem, PT e PMDB devem aparar as arestas. Eduardo Campos, entretanto, enfrentará turbulências internas no PSB. O governador Cid Gomes e o irmão Ciro nunca hesitaram em mudar de partido quando ficaram isolados. Ciro, pelo menos, já passou por PDS, PMDB, PSDB e PPS, do qual saiu para entrar no PSB, quando o partido de Roberto Freire partiu para a oposição a Lula, em 2004. Decididos a apoiar Dilma, dificilmente ficarão no PSB se a candidatura Campos vingar. O destino mais provável é o Pros, um dos três partidos que estão surgindo. É incerta ainda a reação do PSB do Amapá, liderado pelo senador João Capiberibe e o filho Camilo, governador do estado, que apoiam Dilma. Ou seja, para Campos, por ora, o rompimento trará mais desalinhamentos dos que alianças.
Mais partidos, mais problemas
Três novos partidos estão rompendo a casca do ovo. O Rede, de Marina Silva, despertando simpatias e tropeçando nas exigências, pode morrer na praia. O Solidariedade, puxado pelo deputado Paulinho, da Força Sindical, já é acusado de irregularidades na obtenção das assinaturas. Será pró-Aécio. Do Pros, que se adjetiva republicano da ordem social, pouco se sabe, a não ser que será pró-Dilma, podendo receber aliados em desconforto. Um sistema que já tem 30 partidos só pode piorar com o aumento de siglas. Enquanto for assim, governo algum terá maioria. Seguiremos reféns do presidencialismo de coalizão e de seus males, como os que estão na base deste mensalão que, a cada episódio, como a decisão de quarta-feira, aumenta a divisão e o veneno entre os brasileiros.
Vamos a Pernambuco, onde a política local está fervendo. A primeira reação ao gesto de Campos foi do senador Armando Monteiro, do PTB. Por algum tempo, ele foi considerado uma alternativa do governador para a própria sucessão. Mas os socialistas passaram a dizer que o candidato será do PSB, escolhido pelo governador, na hora que ele considerar oportuna. O secretário Tadeu Alencar é tido como seu delfim. Na sexta-feira o senador fez ,em Recife, declarações equivalentes a um grito de independência, reiteradas à coluna: "O que eu digo é simples. O PTB deseja ter, em Pernambuco, a mesma liberdade que o PSB buscou no plano nacional ao deixar o governo. Eu apoio o Eduardo no estado, mas ele não será mais candidato a governador. Nem informou se será candidato a presidente. Eu também apoio a presidente Dilma, e como ela é candidata natural à reeleição, terá meu apoio. Diante do hegemonismo do PSB, minha candidatura ao governo será apresentada como alternativa independente". No estado, o estilo imperial e centralizador do governo já rendeu um chiste: "Os coronéis antigos perseguiam os adversários. O de hoje, persegue os aliados".
Devolvendo os cargos no governo federal, Campos deixou principalmente o PT pernambucano em saia justa. Amanhã, diz o senador Humberto Costa, a executiva regional se reunirá para decidir se responde na mesma moeda, devolvendo os cargos que ocupa no governo estadual. "Vamos discutir, mas evitando rompantes e hostilidades", diz ele. Na verdade, os petistas devem estar confusos com os sinais emitidos por Dilma e Campos ao acertarem novo encontro, depois de ela ter pedido ao ministro do PSB Fernando Bezerra para ficar no cargo até o dia 29. Há quem veja nisso algum movimento de Lula. Seja o que for, melhor ir devagar com o andor. E se, lá na frente, ele desistir da candidatura? E se concorrer, mas não chegar ao segundo turno, quando seu apoio será valioso? Mesmo assim, os petistas já se preparam para a disputa estadual. Se Eduardo apoiasse Dilma, eles apoiariam o candidato dele. Como isso agora é improvável, podem lançar a candidatura do ex-prefeito João Paulo ou apoiar o senador Armando Monteiro. O PSDB, embora torça pela candidatura Campos, precisará de palanque no estado. O candidato deve ser Daniel Coelho, segundo colocado na eleição municipal do ano passado.
Uniões e separações
A viagem de Aécio Neves a Salvador era apenas para visitar o prefeito ACM Neto, mas ele acabou se reunindo também com o presidente do partido, senador José Agripino, e o secretário e ex-deputado José Carlos Aleluia. Aécio quer assegurar logo a aliança que começou em 1994, na primeira eleição de Fernando Henrique. Precisa convencer de sua maior viabilidade eleitoral os democratas empolgados com a candidatura de Campos, como o deputado Ronaldo Caiado, de Goiás. Endossando a candidatura de ACM Neto a governador da Bahia, Aécio sinaliza aos descontantes, como Caiado, a quem o governador tucano Marconi Perillo negou apoio no passado, que o PSDB está disposto a uma aliança de reciprocidades em 2014. No mais, saudou a dissidência de Campos, dizendo que ele deixa o governo porque já enxerga o fim da era PT e seguiu para Alagoas, para um dos seminários que seu partido está realizando nas capitais, tocando o tambor para reunir a tribo.
PSDB e DEM se unem, PT e PMDB devem aparar as arestas. Eduardo Campos, entretanto, enfrentará turbulências internas no PSB. O governador Cid Gomes e o irmão Ciro nunca hesitaram em mudar de partido quando ficaram isolados. Ciro, pelo menos, já passou por PDS, PMDB, PSDB e PPS, do qual saiu para entrar no PSB, quando o partido de Roberto Freire partiu para a oposição a Lula, em 2004. Decididos a apoiar Dilma, dificilmente ficarão no PSB se a candidatura Campos vingar. O destino mais provável é o Pros, um dos três partidos que estão surgindo. É incerta ainda a reação do PSB do Amapá, liderado pelo senador João Capiberibe e o filho Camilo, governador do estado, que apoiam Dilma. Ou seja, para Campos, por ora, o rompimento trará mais desalinhamentos dos que alianças.
Mais partidos, mais problemas
Três novos partidos estão rompendo a casca do ovo. O Rede, de Marina Silva, despertando simpatias e tropeçando nas exigências, pode morrer na praia. O Solidariedade, puxado pelo deputado Paulinho, da Força Sindical, já é acusado de irregularidades na obtenção das assinaturas. Será pró-Aécio. Do Pros, que se adjetiva republicano da ordem social, pouco se sabe, a não ser que será pró-Dilma, podendo receber aliados em desconforto. Um sistema que já tem 30 partidos só pode piorar com o aumento de siglas. Enquanto for assim, governo algum terá maioria. Seguiremos reféns do presidencialismo de coalizão e de seus males, como os que estão na base deste mensalão que, a cada episódio, como a decisão de quarta-feira, aumenta a divisão e o veneno entre os brasileiros.
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