sexta-feira, setembro 27, 2013

Mundo do emprego - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 27/09

O desemprego caiu em agosto para 5,3% e ficou estável em relação ao ano passado, num nível invejável se comparado a inúmeros países. O que intriga é: a economia não deveria reagir com tantos brasileiros empregados e produzindo? O país cresce pouco há três anos, mas a taxa de desemprego cai. Há várias explicações para isso, mas é, e sempre será, uma notícia a comemorar num mundo onde o emprego é escasso.

Baixo nível de emprego é sempre um fator que impulsiona a economia, mas no Brasil isso não tem acontecido. Um dos motivos da queda do desemprego é demográfico: há um contingente menor de jovens chegando ao mer­cado de trabalho a cada ano, como efeito do ama­durecimento da população. Mas é um sinal tam­bém de que o empresário continua acreditando que a economia vai melhorar e por isso tenta manter o quadro de funcionários.

O desemprego é medido em apenas seis capitais. Em breve, começará a ser divulgada uma nova meto­dologia de pesquisa que cobrirá todo o país, a PNAD contínua. Nessas seis capitais em que a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) é pesquisada, há diferen­ças fortes. Em Porto Alegre, o desemprego é de ape­nas 3,4%, mas em Salvador tem subido este ano e es­tá em 9,4%. Recife tem a segunda maior taxa, mas despencou de julho para agosto de 7,6% para 6,2%.

As desonerações feitas pelo Tesouro a determi­nados setores da economia podem ser outra expli­cação para o mercado de trabalho forte. Em todos os casos, o governo fez a redução do tributo e pediu a manutenção do nível de emprego. Não foi inte­gralmente atendido, mas, mesmo assim, as deso­nerações podem ter segurado muitas vagas. A mais eficiente das desonerações é a que se aplicou sobre a folha salarial. A nova fórmula que já cobre vários setores tira o peso da contribuição previdenciária da folha. A antiga fórmula era um incentivo ao de­semprego. Todos os

acordos com a indús­tria automobilística, por exemplo, tiveram como contrapartida a manutenção dos pos­tos de trabalho. O go­verno dá o benefício e pede para que as em­presas não demitam.

Mesmo assim, muitas demitiram. Talvez ti­vessem demitido mais sem o subsídio. Só que isso tem um custo. O IPI reduzido para au­tomóveis e outros itens, como linha branca, terá um im­pacto no Orçamento de R$ 11,8 bilhões este ano. Custou R$ 8,5 bi­lhões em 2012 e custa­rá mais R$ 7,1 bi no ano que vem.

A menor incidência de impostos sobre a folha de pagamentos custará R$ 40 bilhões nesses dois anos e o aumento do limite das faixas de tributação para micro e pequenas empresas custará mais R$ 11,8 bi.

Olhando apenas para o emprego, a economia vai bem. Iria melhor se não fossem alguns problemas: o investimento público continua estagnado em 1% do PIB, o país cresce pouco, e o superávit primário, que ajuda a combater a inflação e a manter sob controle a dívida pública, tem caído.

Além de haver a cada ano menos jovens chegando à idade de trabalhar, eles também estão estudando mais, e, por isso, retardando a entrada no mercado de trabalho. O contraditório é que, apesar de haver menos jovens procurando emprego e eles terem es­colaridade maior do que seus pais, o nível de desem­prego entre jovens é muito alto. Caiu, mas permane­ce alto. Na outra ponta, no Brasil não há idade míni­ma para se aposentar. Muita gente ainda com capaci­dade produtiva já deixou o mercado.

Uma das boas notícias é a queda constante e forte do trabalhador sem carteira assinada. No ano, o per­centual dos sem carteira caiu 6,2%. Hoje, o total dos sem carteira é de 9,7% do universo pesquisado. O tra­balhador por conta própria é de 17,9%. Esse número mistura empreendedorismo, mudança no trabalho; mas também o desemprego disfarçado. Há trabalha­dores por conta própria que trabalhariam em empre­sas caso houvesse oportunidade.

A taxa de desemprego baixa é o principal sucesso da política econômica, em um mundo cercado de taxas altas de desemprego. É preciso trabalhar para manter esse bom resultado. Quando a economia cresce um pouco mais, os empresários falam em "apagão de mão de obra". Mas ainda é possível avançar se forem reduzidas as desigualdades den­tro do mercado de trabalho — entre negros e bran­cose entre homens e mulheres — e se as empresas aumentarem a contratação de jovens.

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