sexta-feira, setembro 27, 2013

Algo no ar além do otimismo - OCTÁVIO COSTA

BRASIL ECONÔMICO - 27/09

Foi estranho o teor do discurso da presidente Dilma Rousseff para 350 empresários e gestores de fundos durante o seminário sobre oportunidades de investimentos no Brasil organizado pelo banco Goldman Sachs, em NovaYork. Dentro do estilo de road-show, esperava-se que Dilma e seus ministros dessem ênfase à importância e à qualidade dos grandes projetos de infraestrutura.

Mas o que se viu foi uma enorme preocupação em tranquilizar os investidores quanto à segurança jurídica que o governo oferece aos investidores. “Quero dizer que há uma característica do meu país, que é extremamente civilizada, do ponto de vista de uma sociedade aberta e democrática, que é o respeito às instituições e aos contratos”, afirmou a presidente. E destacou que o respeito aos contratos vem de antes do governo Lula.

Sabe-se que o Palácio do Planalto acompanha com sintonia fina o que se passa com os humores dos investidores estrangeiros. Essa poderia ser uma explicação para a contundência da presidente da República ao falar sobre a segurança jurídica dos contratos. Tudo leva a crer que existe algum ruído entre os potenciais interessados nos leilões de concessão de rodovias, ferrovias e aeroportos, um investimento estimado em US$ 220 bilhões.

Alguns deles estariam pondo em dúvida as garantias oferecidas pelo governo, o que poria em risco o sucesso das licitações marcadas para os dois próximos meses. Se Dilma Rousseff, a mais alta autoridade brasileira, foi impelida a dizer que nosso país comporta-se de forma civilizada quanto à manutenção das regras do jogo, ela deve ter detectado sinais negativos. Na verdade, por mais que o governo exalte o desempenho recente da economia — com a inflação sob controle e desemprego de apenas 5,3% —, a opinião nos principais centros financeiros é diferente.

Prova disso foi a capa da edição desta semana da revista “The Economist”, que repete uma brincadeira com o Cristo Redentor, mas de forma pessimista. Se alçava voo em 2009, agora o Cristo entrou em queda de parafuso. Diz a revista que o Brasil perdeu a janela de oportunidade. Menos ácido, mas também cético, o diretor da holandesa Apm Terminal, Bart Wiersum, em entrevista ao Brasil Econômico, criticou a taxa de retorno das concessões de portos.

Segundo ele, a taxa de 7%, mencionada pelo governo, está abaixo dos 8,3% praticados antes da nova lei. “E até agora eu não ouvi nenhuma explicação sobre porque foi reduzida”, lamenta. Em Brasília, porém, assessores palacianos garantem que continua muito forte o interesse dos investidores pelos leilões.

A menção da presidente à segurança jurídica seria uma resposta às críticas feitas pela oposição. Dilma considerou descabida a versão de que as grande empresas de petróleo americanas não se inscreveram para o leilão da área de Libra por causa da criação de uma estatal para o pré-sal. Também achou equivocada a leitura sobre o fracasso do leilão de concessão da rodovia BR-262. Por considerar que essas interpretações poderiam contaminar o ânimo dos investidores, ela aproveitou o seminário para dar seu recado.

Lembram também as fontes que, recentemente, ao debater a questão do orçamento, o presidente Barack Obama afirmou que o governo americano tema tradição de pagar suas contas. A advertência da presidente Dilma seria nessa mesma linha. O resto, segundo as mesmas fontes, é ver chifre em cabeça de cavalo.

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