FOLHA DE SP - 28/07
Presidente de empresa global europeia, com presença industrial importante no Brasil, relatou que parou de investir em produção para exportação devido aos custos elevados no país. Na visão dele, mesmo no mercado interno cresce a dificuldade de repasse integral de custos, pois o aumento de preços já afeta a demanda.
Ele destacou como inibidores do investimento os al- tos custos logísticos, trabalhistas e tributários, as incerte- zas com a pouca previsibili- dade das políticas macroe- conômicas e a situação fiscal e inflacionária.
Sua opinião resume o que pensa grande número de investidores e dirigentes de empresas sobre o Brasil hoje, principalmente no setor industrial.
O problema de logística e infraestrutura só pode ser enfrentado com uma série de licitações bem-sucedidas, que atraia capital e competência técnica. Para isso, serão necessárias taxas de retorno compatíveis com o risco, quando comparadas com o retor- no oferecido em outros lugares do mundo.
É essencial entender ainda que a decisão de investimento é de cada empresa, e dificilmente haverá coincidência de avaliações entre grande número delas. As experiências de sucesso passam pelo incentivo à maior concorrência possível para obter o menor custo. Nesse contexto, a fixação de taxa de retorno pelo governo é vista como um grande limitador.
Os custos trabalhistas e a reforma fiscal terão de ser enfrentados, mas são ques-tões legislativas de resolução mais longa por envolver conflitos de interesse e grande vontade política.
Já a questão da inflação começa a ser enfrentada pelo Banco Central e seria facilitada por uma contenção de gastos do governo capaz de equilibrar a economia.
Diante dessa conjuntura, a alternativa na visão de muitos é uma mera depreciação do real que compense a baixa produtividade e os custos excessivos. Mesmo que a deterioração do cenário torne factível essa via, o aumento do custo dos produtos importados demandaria das autoridades monetárias e fiscais medidas mais duras para evitar seu repasse ao restante dos preços.
E a desvalorização da moeda só é eficaz se aceitarmos mudança de preços relativos na sociedade, com setores que produzem bens comercializados no exterior se apropriando de parcela maior da renda nacional em detrimento de setores imensos como o de serviços, cujos preços não são cotados internacionalmente e não se beneficiam do real desvalorizado.
Em resumo, as soluções são relativamente simples, porém de difícil implementação, dados os custos políticos de um ajuste econômico mais sério, rigoroso e eficaz.
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