CORREIO BRAZILIENSE - 30/06
Com o legado do lulismo em risco, petistas dizem que o maior erro de Dilma foi a desatenção para com sua própria base social e política
"Quem joga os amigos ao mar não contará com eles na tempestade." Essa frase foi dita à presidente Dilma Rousseff, no início de seu governo, em conversa sobre o tratamento que vinha sendo dado a aliados e remanescentes do governo Lula. Mais que os amigos, dizem os petistas no calor da crise, Dilma foi desatenciosa para com a base social e política do próprio lulismo, que garantiu sua eleição. E a tempestade chegou. Na semana passada, ela dedicou-se a uma maratona de encontros com movimentos sociais - Passe Livre, centrais sindicais e LGBT - e com políticos aliados: presidentes de partidos e líderes que integram o Conselho Político do governo, que ela jamais convocou antes. Agora, quer ouvir a oposição, com a qual nunca houve diálogo, ainda que formal. Pessoas do governo procuraram outros segmentos abandonados, mas, na avaliação de petistas, isso não bastará para quebrar o isolamento, criado pelos protestos mas também por erros políticos e de comunicação, antigos e novos.
Iniciada a tempestade das ruas, o mal-estar já era grande. A bancada do PT engolira suas mágoas enquanto as bancadas dos partidos aliados respondiam ao desprestígio com guerrilhas nas votações deste ano. Na segunda-feira, os governadores e prefeitos chamados ao Planalto sentiram figurantes na reunião sobre um pacto que não foi discutido nem negociado previamente. A proposta de constituinte exclusiva, ao ser apresentada sem consulta prévia, irritou o Congresso e vitaminou a oposição. Sequer o vice Michel Temer, constitucionalista, fora informado. Os meninos do Passe Livre saíram praguejando contra a falta de objetividade. As centrais sindicais ficaram amuadas porque não se tratou da agenda delas, que inclui o fim do fator previdenciário e a redução da jornada. Na era Dilma, o latifúndio foi favorecido em relação aos índios e ambientalistas, e segmentos conservadores, como os evangélicos fundamentalistas, fortalecidos diante dos movimentos libertários.
Cobrou-se o silêncio de Lula, mas ele não esteve calado. O que evitou foi declarações pela imprensa. Conversou com líderes de movimentos sociais, os de sua base, e os estimulou a irem às ruas. "Se querem luta de massas, vamos fazer luta de massas", teria dito antes de embarcar para a África. As centrais, todas elas, marcaram um ato conjunto para o dia 11, que pode ter o formato de protesto ou de greve geral. Isso ainda estão definindo mas será um ato unitário e diferenciado dos protestos "difusos", do qual se aproveitam tantos grupos obscuros, inclusive uma extrema-direita renascida. O ato das centrais terá articulação, líderes e propostas. A UNE e UBES já mostraram a cara.
Julho, tudo indica, continuará movimentado. O Congresso terminou a semana entregando, com a eficiência ditada pelas ruas, uma boa cesta de votações, como a derrubada da PEC 37 e a nova criminalização da corrupção. Mas, tendo no colo a proposta de um plebiscito sobre a reforma política, que terá de viabilizar, embora a preferência nítida seja pelo referendo. Quando, no futuro, os historiadores escreverem sobre o levante junino, qualquer que seja o nome que lhe deem, alinharão muito mais que estes elementos para explicar como ocorreu tão brusca e veloz alteração na conjuntura que ameaça o legado do lulismo e do PT, na economia e no social.
Na verdade, a dilapidação foi lenta e contínua, e teve como corrosivo o descaso com a política e com a base social, sem falar na classe média.
Aulas no plebiscito
Se o plebiscito vingar mesmo, terá uma campanha curta em agosto. Os partidos - por mais que os manifestantes não queiram, eles são os atores da representação democrática - formarão frentes parlamentares para defender diferentes preferências. O tempo de tevê será igual para todos. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) já defende, entretanto, que boa parte dele seja reservada ao TSE, para a veiculação de explicações didáticas sobre temas com o voto distrital e voto proporcional; lista aberta ou lista fechada; financiamento público ou privado de campanhas. A reforma política tem que ir além, mas outros pontos não devem entrar. Caberá ao Congresso entender o recado das ruas e aprovar as mudanças complementares.
Junto e misturado
Só não viu quem não quis que nestes protestos havia mais que indignação política. As forças de segurança já sabem que no Rio, por exemplo, atuaram mercenários do tráfico, em revanche contra as UPPs que minaram seus negócios. Os donos de vans, do transporte pirata suprimido pelo prefeito Eduardo Paes, mandaram seus vândalos quebrar os ônibus. Outras forças ocultas estão sendo identificadas.
Milagre das ruas
Os ventos fortes, soprando para a direita, conseguiram reunir a velha frente de esquerda - PT, PCdoB, PDT e PSB, que já se havia distanciado - num fórum de defesa do plebiscito. E fizeram sumir das falas do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o sotaque de candidato. Para pensar em eleição, agora só depois que o tempo serenar. Em poucas semanas, o capital de Dilma caiu tanto quanto as ações da Bovespa. O Planalto já tem suas pesquisas, mas esconde os números. Lula, em 2005, no auge do mensalão, estava a esta mesma distancia temporal da reeleição. Sangrou no segundo semestre e começou a se recuperar em janeiro de 2006, reelegendo-se em outubro. Quem fez a diferença foi a economia.
"Quem joga os amigos ao mar não contará com eles na tempestade." Essa frase foi dita à presidente Dilma Rousseff, no início de seu governo, em conversa sobre o tratamento que vinha sendo dado a aliados e remanescentes do governo Lula. Mais que os amigos, dizem os petistas no calor da crise, Dilma foi desatenciosa para com a base social e política do próprio lulismo, que garantiu sua eleição. E a tempestade chegou. Na semana passada, ela dedicou-se a uma maratona de encontros com movimentos sociais - Passe Livre, centrais sindicais e LGBT - e com políticos aliados: presidentes de partidos e líderes que integram o Conselho Político do governo, que ela jamais convocou antes. Agora, quer ouvir a oposição, com a qual nunca houve diálogo, ainda que formal. Pessoas do governo procuraram outros segmentos abandonados, mas, na avaliação de petistas, isso não bastará para quebrar o isolamento, criado pelos protestos mas também por erros políticos e de comunicação, antigos e novos.
Iniciada a tempestade das ruas, o mal-estar já era grande. A bancada do PT engolira suas mágoas enquanto as bancadas dos partidos aliados respondiam ao desprestígio com guerrilhas nas votações deste ano. Na segunda-feira, os governadores e prefeitos chamados ao Planalto sentiram figurantes na reunião sobre um pacto que não foi discutido nem negociado previamente. A proposta de constituinte exclusiva, ao ser apresentada sem consulta prévia, irritou o Congresso e vitaminou a oposição. Sequer o vice Michel Temer, constitucionalista, fora informado. Os meninos do Passe Livre saíram praguejando contra a falta de objetividade. As centrais sindicais ficaram amuadas porque não se tratou da agenda delas, que inclui o fim do fator previdenciário e a redução da jornada. Na era Dilma, o latifúndio foi favorecido em relação aos índios e ambientalistas, e segmentos conservadores, como os evangélicos fundamentalistas, fortalecidos diante dos movimentos libertários.
Cobrou-se o silêncio de Lula, mas ele não esteve calado. O que evitou foi declarações pela imprensa. Conversou com líderes de movimentos sociais, os de sua base, e os estimulou a irem às ruas. "Se querem luta de massas, vamos fazer luta de massas", teria dito antes de embarcar para a África. As centrais, todas elas, marcaram um ato conjunto para o dia 11, que pode ter o formato de protesto ou de greve geral. Isso ainda estão definindo mas será um ato unitário e diferenciado dos protestos "difusos", do qual se aproveitam tantos grupos obscuros, inclusive uma extrema-direita renascida. O ato das centrais terá articulação, líderes e propostas. A UNE e UBES já mostraram a cara.
Julho, tudo indica, continuará movimentado. O Congresso terminou a semana entregando, com a eficiência ditada pelas ruas, uma boa cesta de votações, como a derrubada da PEC 37 e a nova criminalização da corrupção. Mas, tendo no colo a proposta de um plebiscito sobre a reforma política, que terá de viabilizar, embora a preferência nítida seja pelo referendo. Quando, no futuro, os historiadores escreverem sobre o levante junino, qualquer que seja o nome que lhe deem, alinharão muito mais que estes elementos para explicar como ocorreu tão brusca e veloz alteração na conjuntura que ameaça o legado do lulismo e do PT, na economia e no social.
Na verdade, a dilapidação foi lenta e contínua, e teve como corrosivo o descaso com a política e com a base social, sem falar na classe média.
Aulas no plebiscito
Se o plebiscito vingar mesmo, terá uma campanha curta em agosto. Os partidos - por mais que os manifestantes não queiram, eles são os atores da representação democrática - formarão frentes parlamentares para defender diferentes preferências. O tempo de tevê será igual para todos. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) já defende, entretanto, que boa parte dele seja reservada ao TSE, para a veiculação de explicações didáticas sobre temas com o voto distrital e voto proporcional; lista aberta ou lista fechada; financiamento público ou privado de campanhas. A reforma política tem que ir além, mas outros pontos não devem entrar. Caberá ao Congresso entender o recado das ruas e aprovar as mudanças complementares.
Junto e misturado
Só não viu quem não quis que nestes protestos havia mais que indignação política. As forças de segurança já sabem que no Rio, por exemplo, atuaram mercenários do tráfico, em revanche contra as UPPs que minaram seus negócios. Os donos de vans, do transporte pirata suprimido pelo prefeito Eduardo Paes, mandaram seus vândalos quebrar os ônibus. Outras forças ocultas estão sendo identificadas.
Milagre das ruas
Os ventos fortes, soprando para a direita, conseguiram reunir a velha frente de esquerda - PT, PCdoB, PDT e PSB, que já se havia distanciado - num fórum de defesa do plebiscito. E fizeram sumir das falas do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o sotaque de candidato. Para pensar em eleição, agora só depois que o tempo serenar. Em poucas semanas, o capital de Dilma caiu tanto quanto as ações da Bovespa. O Planalto já tem suas pesquisas, mas esconde os números. Lula, em 2005, no auge do mensalão, estava a esta mesma distancia temporal da reeleição. Sangrou no segundo semestre e começou a se recuperar em janeiro de 2006, reelegendo-se em outubro. Quem fez a diferença foi a economia.
Um comentário:
Pior do que o PIG é ex-petista que perdeu a mamata que nunca teria se não tivesse sido petista
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