Em 85, diziam que Sarney era a ‘vanguarda do atraso’. Nem isso pode ser dito de seu sucessor no Senado; nada na história de Renan pode ser confundido com avanço, a não ser sobre bens públicos
Essa, sim, é uma foto que vale por mil palavras. É de Ailton de Freitas, foi publicada na primeira página do GLOBO do último sábado e mostra Fernando Collor e Renan Calheiros às gargalhadas comemorando a vitória obtida com votos inclusive de tucanos e de petistas, como Eduardo Suplicy. Os dois parecem dizer: "Olha nós aqui de novo, otários.” É o retrato fiel do Brasil andando para trás e trazendo de volta personagens de um passado que os condena. O primeiro sofreu impeachment em 1992, quando era presidente da República; o segundo teve que renunciar à presidência do Senado em 2007 por causa de um escândalo de corrupção. O segundo pertencia à tropa de choque do primeiro;agora, o primeiro é da tropa de choque do segundo. No seu discurso, o mais virulento em defesa do amigo, Collor esbravejou como nos tempos em que ameaçava "marajás" e prometia um choque de ordem no país. Uma mão lava a outra — e haja água. Já Renan falou de transparência e ética, apropriando-se indevidamente até das palavras. "A ética é meio, não é fim” disse, esquecendo-se de que é sobretudo princípio. Esse retrocesso de 20 anos dá razão ao escritor Antonio Callado, que dizia: "O Brasil não anda pra frente porque roubam as rodas do carro."
Numa noite de 1985, assisti no Teatro Casa Grande, em companhia de centenas de intelectuais e artistas na plateia, ao então ministro da Justiça, Fernando Lyra, classificar José Sarney como a "vanguarda do atraso’; uma maneira de justificar a adesão ao presidente que inaugurava a Nova República depois de ter apoiado a ditadura militar. Hoje, nem isso poderia ser dito do seu sucessor na presidência do Senado;nada na sua história pode ser confundido com avanço, a não ser sobre bens públicos. A política nacional é uma tragicomédia onde não há flash back, ou melhor, onde ele é permanente: o passado não sai de cena, está sempre presente Querem mais? Na Câmara e também com a bênção da presidente Dilma, Henrique Eduardo Alves, coberto de denúncias, foi eleito para a presidência da casa, e Eduardo Cunha, acusado de sonegação fiscal, para líder do PMDB. Como líder do PT, José Guimarães, aquele cujo assessor foi pego com dólares escondidos na cueca. E tem ainda Garotinho, respondendo a inquérito no STF por peculato, como líder do PR. Não há dúvida de que estamos vivendo, com alguns dias de antecedência, o reinado de Momo, onde tudo é permitido, principalmente os blocos de sujos. Como bem definiu o deputado Miro Teixeira, "pior do que este, só um parlamento fechado’!
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