O GLOBO - 06/02
A empresa precisa investir, há projetos ousados de investimento e isso é bom. O problema é que para isso terá que aumentar seu endividamento, o que a coloca num círculo perigoso: se atingir o percentual de 35% do patrimônio líquido - está em 30% - pode perder seu grau de investimento, o que tornaria os juros maiores.
Graça Foster avisou que será um ano difícil. Quem avisa, sincero é. E isso é melhor do que dourar a pílula e contornar a realidade. Se tentasse esconder a informação, não conseguiria, e aumentaria ainda mais a desconfiança. A empresa perdeu enorme valor de mercado nos últimos anos. Mas isso se recupera. O problema é perder o tempo que tem perdido com a excessiva intervenção governamental.
Como o Tesouro é o maior acionista, alguma intervenção teria que haver mesmo. O problema é o acionista controlador tratar a empresa como um braço do governo. Isso causa uma dissonância na governança que termina em perdas.
O economista Nataniel Cezimbra, que acompanha a Petrobras pelo BB Investimentos, lembra que além dos três problemas - preços de derivados, câmbio, queda da produção - o endividamento também pesa:
- O endividamento líquido da empresa, ou seja, descontando a parte que ela pagou em 2012, subiu 17%. Mais de 70% da dívida bruta é atrelada ao dólar. Mas a Graça Foster ganhou muita credibilidade com o discurso realista de hoje (ontem). Disse que vai trabalhar arduamente para conseguir a convergência de preços de derivados.
Só que nem o governo nem o consumidor querem ouvir falar da tal convergência, outro nome para alta de preços. Cezimbra disse que a empresa deve voltar ao mercado para conseguir recursos para investir. E que o custo desse endividamento será olhado com atenção.
Luiz Otávio Broad, da Ágora Corretora, disse que nenhuma nova refinaria deve entrar em operação antes de 2014, então, até lá, não há como aumentar a produção de derivados, já que a empresa está usando 96% da capacidade de refino. Qualquer aumento de consumo terá que ser coberto com importação:
- A empresa vai pagar o mínimo de dividendos e está correta porque ela está com problemas de caixa.
Mas foi esse dividendo menor que derrubou as ações ON ontem, em mais de 8%.
A produção de derivados aumentou 5% em 2012, com alta de 11% na gasolina e 5% no diesel. Só que o consumo cresceu mais. O de gasolina disparou 17%, e o do diesel, 6%. A política do governo de incentivar a compra de automóveis e manter estáveis os preços da gasolina, tornando a opção etanol antieconômica, produziu estrago de grandes proporções: no balanço da Petrobras e na balança comercial. A Petrobras importou a um preço cerca de 17% mais caro do que vendeu às distribuidoras. O déficit da área de abastecimento disparou de R$ 9,9 bi para R$ 23 bilhões. A importação da gasolina aumentou 102% no ano.
Todos os especialistas alertaram que a política de combustíveis tinha essas contradições e que isso cobraria um preço. Mesmo assim, o governo persistiu nos seus objetivos. Qualquer empresa pode, de vez em quando, se afastar dos interesses imediatos dos acionistas minoritários para atender à vontade do acionista controlador. Nas estatais, isso acontece com mais frequência quando é para atender a uma política de governo. Mas que sentido social faz uma política de subsídio ao carro particular e ao combustível fóssil?
Sem capacidade de elevar a produção doméstica, com a demanda ainda crescente, e o endividamento chegando perto do ponto a partir do qual os juros cobrados são mais altos, a empresa não terá mesmo um ano de 2013 muito melhor do que o do ano passado.
Se a redução de lucro, ou o prejuízo setorial no abastecimento, tivesse lógica na estratégia da empresa, dava para entender. Mas nem o governo deve compreender exatamente o que quer com os combustíveis. É torcer para o cenário continuar assim: sem expectativas de alta do dólar e do petróleo no mercado internacional.
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