segunda-feira, janeiro 14, 2013

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 14/01


SALTO ALTO
Indústria brasileira investe em produto de maior valor agregado para enfrentar concorrente barato no exterior; exportação caiu 43% desde 2007

Na tentativa de combater os abalos na balança comercial e a concorrência dos importados, a indústria calçadista brasileira capricha no lustre dos sapatos.

A ideia é criar um produto menos sofisticado que os concorrentes europeus, de custo e preços elevados, mas de qualidade superior à de exemplos asiáticos.

O principal problema hoje segue sendo a exportação, segundo o presidente do grupo Couromoda, Francisco Santos. Em 2012, as exportações representaram cerca de US$ 1,09 bilhão. Em 2007, haviam chegado a US$ 1,9 bilhão.

As empresas que ainda registram bom desempenho são aquelas capazes de gerar produtos diferenciados, com processo de inovação e design, ressalta Heitor Klein, da Abicalçados.

"No segmento de produtos de médio e alto valor agregado, os asiáticos ainda não são grandes competidores. Assim, podemos retomar alguns mercados", diz Santos.

"Já estamos colhendo resultados interessantes no exterior, ainda que com a dimensão reduzida em face das perdas", diz Klein.

"Mesmo na China já estamos entrando com produtos de maior valor. É um trabalho lento. Temos de ganhar a confiança dos distribuidores e do varejo local", diz o executivo da Abicalçados.

A Ásia fabrica hoje cerca de 90% dos sapatos produzidos em todo o mundo -14 bilhões de pares, de acordo com Santos. O Brasil corresponde a apenas 5% do total, com 800 milhões.

No mercado interno, os importados da China deixaram de ser os grandes inimigos. As mercadorias do Vietnã agora ocupam esse lugar.

PÉ PRA FORA
A fabricante de calçados Carmen Steffens pretende ampliar a participação das exportações em seu faturamento de 15%, registrados no ano passado, para 25% em 2016.

Fora do país, a companhia evita a competição com os chineses inserindo-se no segmento dos sapatos intermediários.

"O foco é concorrer com o produto italiano e o francês, mas com preços mais baixos que esses e superiores ao chinês", diz o presidente da marca, Mário Spaniol.

A empresa tem hoje 32 lojas em 18 países. Nas unidades que já existiam em 2011, o crescimento foi de 30% no ano passado. Para 2013, estão previstas entre dez e 15 franquias no exterior.

"Vamos continuar expandindo nos Estados Unidos, onde estamos com três lojas. Na Europa, principalmente na Espanha, está mais difícil. Lá vamos manter o que já temos", afirma Spaniol.

No Brasil, a companhia prevê inaugurar cerca de 45 franquias neste ano. Hoje, são cerca de 250.

A Carmen Steffens faturou R$ 300 milhões em 2012.

NEGÓCIO INTERNACIONAL
Empresas que têm negócios internacionais tiveram maiores lucros nos últimos 12 meses do que as que atuam apenas em seu país de origem, segundo pesquisa feita em todo o mundo pela Regus.

Metade das companhias que trabalham em seu país e no exterior viram seus lucros aumentarem. Menos de 40% das domésticas registraram maiores ganhos.

No Brasil, os números são mais altos para os dois modelos de empresa: 66% para as que têm negócios fora e 58% para as que se dedicam apenas ao mercado interno.

O custo com documentação e patrimônio é um dos principais obstáculos para as empresas se estabelecerem no exterior. Dos entrevistados, pouco mais de 60% citaram essa preocupação.

Também aparecem entre as dificuldades a construção de uma imagem internacionalmente (50%) e as normas e tributos locais (44%).

O gerenciamento de riscos políticos e de desastres naturais foi apontado como fator complicador por 37% dos ouvidos pela pesquisa.

O levantamento também mostrou que os executivos brasileiros acreditam que a América do Sul é a região mais lucrativa para se atuar internacionalmente.

A China (45%) e a América do Norte (44%) aparecem em seguida como os mercados mais rentáveis.

Ao todo, 20 mil executivos foram entrevistados.

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