sábado, novembro 03, 2012

Torniquete na CPI - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 03\11


Comissão parlamentar do caso Cachoeira encerrará trabalhos sem aprofundar investigações sobre teia de gastos da construtora Delta

Alguns congressistas bem que tentaram, mas restaram infrutíferos os esforços para colocar a CPI do caso Cachoeira num caminho capaz de impedir que as investigações dessem em nada.

Em minoria na Casa, partidos da oposição não conseguiram, em reunião nesta semana, prorrogar por seis meses a CPI. Prevaleceu a vontade da base governista, comandada por PT e PMDB, de manter os trabalhos por mais 45 dias apenas, nos quais nada se fará, salvo finalizar o relatório final.

Novos pedidos de informação ou convocações ficam fora da pauta. PT e PMDB, assim, não precisarão mais, como vinham fazendo, barrar requerimentos que buscam avançar as investigações.

A manobra visa dar cabo de uma CPI que, embora tenha nascido com o propósito de fustigar a oposição e criar uma cortina de fumaça às vésperas do julgamento do mensalão, deu sinais de que poderia incomodar o próprio governo federal e alguns de seus aliados.

Na maquinação petista -inspirada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva-, o inquérito se restringiria a apurar as ligações de oposicionistas com Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso há meses sob acusação de explorar jogo ilegal. Os alvos prioritários eram Demóstenes Torres, ex-senador pelo DEM, e o tucano Marconi Perillo, governador de Goiás.

Logo se viu, porém, que a rede de influência de Cachoeira era mais ampla. Escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal mostraram que um dos personagens centrais era a empreiteira Delta -atulhada de contratos com o governo federal- e que o esquema não fazia distinção entre partidos.

De acordo com a PF, Carlinhos Cachoeira é sócio oculto da Delta. Nesse cenário, uma investigação séria atingiria também o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e o do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).

Por assim dizer ecumênica, a CPI estava destinada a sofrer uma "operação abafa". A inapetência parlamentar interrompeu os trabalhos por mais de um mês, e uma peça importante como a Delta nem teve suas contas abertas; até a oposição parecia pouco convicta da urgência de escrutiná-las.

O relatório final da CPI do Cachoeira só deverá ser conhecido no próximo dia 20. O documento dificilmente incomodará algum congressista, mas certamente acrescentará nova mácula à já desgastada reputação do Poder Legislativo.

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