O GLOBO - 03\11
Um dos mais sérios obstáculos aos ganhos de produtividade pelas empresas está na precariedade da logística do país. Sem investimentos e o setor privado, não se irá longe
Assim que passar de vez o rescaldo eleitoral, os problemas da economia voltarão a ganhar destaque na agenda de trabalho do governo. Talvez até acelere este retorno o mau resultado colhido pela indústria no mês de setembro, quando a produção setorial, calculada pelo IBGE, encolheu 1% em relação a agosto, depois de três meses consecutivos de alta. Superou as expectativas pessimistas.
Em bases anuais, a indústria retrocedeu 3,5%, mais uma confirmação de que o PIB de 2012 não ultrapassará em muito o 1% de crescimento. Para permitir comparações, houve ajustes estatísticos no cálculo da taxa de setembro, pois o mês teve apenas 19 dias úteis, contra 23 em agosto e 21 em setembro do ano passado. Mas, mesmo que possa ter ocorrido algum desvio nestes ajustes, não se tem dúvida de que o setor industrial fraquejou, apesar de todos os incentivos ao consumo.
Reforça-se, assim, a necessidade de um enfoque mais amplo nas análises da conjuntura. Fica cada vez mais evidente que não será um câmbio congelado em R$ 2 que restabelecerá a competitividade da economia brasileira em bases sólidas. Quando a taxa cambial oscilava bem abaixo disso, acenava-se com o paraíso para quanto ela fosse desvalorizada e chegasse onde se encontra já há algum tempo. Houve a desvalorização, mas as terras de leite e mel continuam distantes, para além do horizonte.
À parte a questão do esgotamento ou não da capacidade de as famílias aumentaram o endividamento para continuar nas compras, há gargalos no país que pressionam o custo das empresas, sem que a taxa de câmbio possa aliviá-las.
Neste sentido, é elucidativa pesquisa da Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, feita junto a 126 grandes empresas que respondem por 20% do PIB brasileiro. O levantamento concluiu que precariedades no sistema logístico do país geram perdas anuais de R$ 83,2 bilhões, quase o gigantesco orçamento público da Saúde.
Estradas mal conservadas, burocracia, precariedades na malha ferroviária, dificuldades no uso integrado dos diversos modais de transportes, tudo somado reduz bastante o poder de competição do país, ainda mais num momento de dificuldades econômicas mundiais. No longo e histórico ciclo de expansão mundial sincronizada, finalizado de uma vez na explosão da bolha imobiliária americana na segunda metade de 2008, estas “desvantagens comparativas” não apareciam tanto. Diferente de hoje em dia.
Esclarecedoras comparações: no Brasil, exportar um contêiner custa US$ 1.790 (só de burocracia, US$ 690), contra US$ 1.050 nos Estados Unidos, US$ 1.055 na Índia, US$ 872 na Alemanha, US$ 500 na China e, em Cingapura, US$ 456. Daí a dificuldade, por exemplo, nas exportações de manufaturados.
Sem investimentos em infraestrutura, com grande participação da iniciativa privada, não se irá longe. Mesmo com o câmbio a R$ 2 ou mais.
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