FOLHA DE SP - 02\11
RIO DE JANEIRO - Nova York, devastada pela furacão Sandy, não esperou a chuva estiar para sair às ruas, começar a passar o rodo e cuidar dos estragos. É como se milhões de pessoas tivessem se cansado de ficar sem energia -elevadores parados, gente presa no 80° andar, hospitais fechados em meio a cirurgias, telefones mudos, voos cancelados-, de metrô, trens e túneis alagados, prédios, garagens e estacionamentos idem, com pisos, móveis e carros destruídos, e ruas cobertas de lixo, lama e, dizem, ratos mortos, vindos dos subterrâneos.
Toda a Costa Leste americana foi atingida, mas é inevitável que Nova York atraia as atenções. Não se entende a cidade sem o comércio funcionando, as luzes piscando e o dinheiro girando. E não se a concebe também sem seus cidadãos se mobilizando de forma coletiva e solidária, todos se empenhando em resolver os problemas de todos -sem desprezar a ajuda dos poderes oficiais, apenas antecipando-se a eles e fazendo a sua parte.
Foi assim no 11/9, quando, poucos dias depois do ataque aéreo e com a poeira ainda no ar, Blossom Dearie começou a cantar "It's All Right to Be Afraid" num clubinho; os teatros reabriram as portas e as pessoas voltaram à vida em vez de ficar olhando para o céu. Normal ter medo, dizia a canção, desde que ele não as impedisse de fazer o que tinham a fazer.
A maratona de Nova York, a maior do mundo, programada há meses para este domingo, poderia ter sido cancelada. As ruas estão um caos e inúmeros participantes, vindos de toda parte, não tiveram ou terão como chegar. Mas será realizada assim mesmo. A imagem dos corredores cruzando os cinco distritos e terminando no Central Park simbolizará a invencibilidade desta cidade, ultimamente mais posta à prova do que nunca.
Os furacões passam longe das nossas costas, melhor assim.
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