sexta-feira, novembro 02, 2012

A indústria, ainda fraca - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 02\11


Não é por falta de torcida que o setor produtivo ainda segue prostrado. As apostas feitas pelo governo Dilma e por tanta gente otimista por personalidade ou dever de ofício continuam dando errado. O desempenho da indústria em setembro foi outra vez decepcionante e deve puxar ainda mais para baixo o avanço do PIB deste ano.

Quase sempre, são os números do segmento de veículos que chegam primeiro. Quando saíram os resultados de setembro (queda de 31,5% nas vendas de veículos leves em relação a agosto), os primeiros decepcionados ainda procuravam explicações. Assim, setembro teve quatro dias úteis a menos do que agosto; ou o comprador teria preferido esperar até outubro para trocar seu carro, para que aproveitasse os lançamentos dos modelos 2013; ou, ainda, seria equivocado comparar setembro com agosto, um mês excepcional que, por várias razões, tinha levado o consumidor a antecipar suas compras. As estatísticas confirmaram o desempenho medíocre e podem estar montando uma plataforma de resultados pouco encorajadores nos próximos meses.

Entre esses, está o do PIB deste ano. Após meses de projeções delirantes, de crescimento de ao menos 4,5%, o governo Dilma afinal se conformou com projeções mais modestas: "Abaixo dos 2,3% obtidos em 2011" - passou a garantir o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Aos poucos, analistas foram obrigados a rever também esses números, para perto de 1,6%. A pesquisa Focus, do Banco Central, que afere a expectativa de cerca de 100 instituições financeiras, consultorias e diretorias de Finanças, registrou nas duas últimas semanas projeções médias de 1,54% para o aumento do PIB de 2012. A partir das mais novas mensurações da atividade industrial, as estimativas deverão ser outra vez revisadas, provavelmente para alguma coisa entre 1,0% e 1,4%.

Também não se sustentam as últimas apostas do próprio governo Dilma, de que, no último quadrimestre do ano, o PIB retomaria velocidade de cruzeiro de 4,5%. Vai dando bem menos.

Essa nova correção das expectativas monta um panorama também mais fraco para 2013. Embora seja cedo demais para definir quadros mais firmes, dá para dizer que o ano que vem terá início num ritmo bem mais baixo do que os anteriormente projetados. Se algo de diferente não acontecer nos próximos meses, até mesmo as perspectivas mais conservadoras, de um avanço superior a 3,0%, podem mudar.

Um dos equívocos da atual política econômica foi dar ênfase demais ao consumo. Não era por aí que a economia vinha se arrastando. As vendas se expandiam e seguem assim, acima de 5% ao ano. O problema está na oferta e - não é demais insistir - na atual insuficiência de investimentos.

Mas, afinal, por que os empresários vêm adiando o lançamento dos seus projetos? A resposta a essa pergunta não mudou de alguns meses para cá: eles temem que a alta dos seus custos inviabilize seus negócios; sentem-se reféns de uma infraestrutura sujeita a tantos apagões de logística; e vão sentindo que a folha de pagamentos está se esticando mais depressa do que a produtividade de suas linhas de produção. Enfim, o empresariado sente que o custo Brasil lhe tira competitividade tanto no mercado externo como no interno.

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