O GLOBO - 31\10
O eleitor talvez estivesse saturado de um assunto —o mensalão — que já estava sendo devidamente resolvido pelo Supremo Tribunal Federal
Mais uma eleição para abalar algumas certezas prévias e desmoralizar a tendência de atribuir a um único fator a causa da vitória ou derrota desse ou daquele candidato. Por exemplo, em São Paulo, foi Fernando Haddad que ganhou ou foi José Serra que perdeu? O que foi determinante: o apoio recebido pelo petista ou a enorme rejeição ao tucano? Assim como Dilma em 2010, Haddad teria ganho por causa de Lula, que, como se diz, elege até postes? (Ele mesmo fez ironia antes: “De poste em poste, vamos iluminar o país”.) É difícil negar o “milagre” operado por Lula em SP, transformando um candidato com 3% das intenções no começo em prefeito eleito com 55,57% dos votos. Mas por que o mesmo não aconteceu ali perto, em Campinas, onde Lula, além de Dilma, investiu tanto no “poste” Marcio Pochman? Ou em Belo Horizonte, no primeiro turno, onde o candidato do PT Patrus Ananias era muito mais que um “poste”? Por que não adiantou o empenho do ex-presidente ou da presidente em capitais como Salvador, onde chegaram a subir em palanque do petista Nelson Pelegrino para tentar derrotar ACM Neto, um inesquecível desafeto que chegou a ameaçar Lula de uma surra física em 2008?
A lista poderia continuar com Manaus, Fortaleza, Recife, Cuiabá, entre outras.
Alguns analistas viram a vitória do “novo” Haddad contra o velho “Serra” como parte da onda de renovação que teria sido a característica geral dessas eleições.
Tudo bem que em SP a hipótese tenha funcionado, com o eleitor supostamente cansado de oito anos do mesmo. Mas ela não se aplica, por exemplo, a Manaus, onde só com muito boa vontade se pode ver em Artur Virgílio Neto algo parecido com renovação. Quando Russomano parecia imbatível, falou-se no vitorioso “conservadorismo” paulista.
E o mensalão? Muitos acreditavam que seria “o” fator decisivo. Os petistas fizeram tudo para que o julgamento não ocorresse antes das eleições, temendo que as condenações iriam afetar negativamente o resultado das urnas. Parece que o candidato tucano também achava isso, ao apostar no tema, privilegiando-o como arma de campanha. Não percebeu que o eleitor talvez estivesse saturado de um assunto que já estava sendo devidamente resolvido pelo STF, e se esqueceu de que, na prática, as eleições municipais têm mais a ver com os problemas locais do que com as questões ideológicas. Percepções como a de que “Serra para no meio” provavelmente pesaram mais do que suas qualidades.
Em suma, as eleições têm uma dinâmica própria e um imponderável que tornam arriscadas as certezas prévias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário