sexta-feira, julho 06, 2012

Digitais tucano-petistas - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE 06/07

A largada de hoje da eleição municipal ganha contornos nacionais em São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Em São Paulo, Lula e Dilma jogam tudo no sentido de reduzir a influência do PSDB. Na capital de Minas Gerais, a ordem do PT é tentar tirar fôlego do maior líder político do estado, o senador Aécio Neves, hoje o principal nome do PSDB rumo à Presidência da República. E, Recife, como já foi dito ao longo de toda a semana, é o governador, Eduardo Campos, tentando se firmar como alternativa de poder no cenário nacional.
A tentativa de reduzir o oxigênio de Aécio em Minas não foi apenas privilégio da presidente Dilma Rousseff, a quem o PT recorreu em busca de ajuda para arregimentar o PSD à campanha de Patrus Ananias contra Márcio Lacerda. A manobra tem, nos bastidores, uma participação especial de José Serra, pré-candidato tucano a prefeito de São Paulo. Quem investigou a interferência de Kassab em Belo Horizonte não deixou de perceber as digitais do tucano. Aécio, entretanto, perguntado numa roda, disse, sorrindo, não acreditar nessa hipótese. Kassab também tira Serra dessa história. 
Mas nem Aécio nem tampouco o PSDB. Os pessedistas não engolem o fato de o PSDB ter patrocinado a ação no Supremo Tribunal Federal para tentar lhes tirar o direito a tempo de TV e Fundo Partidário. O PT, não. Portanto, magoados, consideram que quem trabalhou para sufocá-los não pode agora querer desfrutar dos minutos do PSD na tevê. Como a árvore que balançou forte depois da decisão do STF foi a de Belo Horizonte, Kassab aproveitou a onda na cidade para punir os tucanos, ao ponto de decretar a intervenção para obrigar o partido a seguir com os petistas. 
Mas o raciocínio de outros tucanos é o de que o caminho de Kassab rumo a 2014 começa a apresentar sinalizadores em várias direções. Não fosse isso, seguiria com Lacerda, dentro do que desejava seu próprio partido. Kassab é aliado do PSDB em São Paulo, tem laços com Eduardo Campos, presidente do PSB, do prefeito Márcio Lacerda. Por que, então, Kassab jogaria com o PT em Belo Horizonte? Para muitos políticos, está claro que Kassab começa ali um jogo triplo em sinais trocados. Faz um afago à presidente Dilma e deixa transparecer que dentro do PSDB seu jogo é apenas com José Serra. Quanto ao PSB, se Eduardo Campos se viabilizar, ok. Mas não se pode esquecer de que Kassab, em várias entrevistas, não rejeitou apoio à presidente Dilma daqui a dois anos, se ela for a candidata e estiver em condições de vitória. 

Por falar em candidata...
Dentro do PT está cada vez mais claro que o nome é mesmo Dilma e, para quem pretendia manter a presidente longe, não deixará terreno livre para Aécio jogar com desenvoltura. Ontem, por exemplo, o Ministério das Cidades se mobilizava no sentido de dar mais visibilidade ao Minha Casa, Minha Vida. O governo tem detectado que, em vários municípios, os prefeitos têm recebido recursos do governo federal do Minha Casa, Minha Vida, mas, na hora de inaugurar as casas ou colocar a placa na obra, o nome em destaque é o do programa estadual, como o “casa paulista”, em São Paulo, ou o “morar carioca”, do Rio. A presença da presidente Dilma Rousseff hoje no Rio de Janeiro, além de reforçar a candidatura do aliado Eduardo Paes, tem ainda o objetivo não declarado de selar a inauguração das casas como uma obra da sua lavra, e não do prefeito. 
Nesse período, vale lembrar, Dilma, enquanto presidente da República, não está proibida de inaugurar obras federais, nem de andar pelo país apresentando as benesses de seu governo à população. E ela não deixará de fazê-lo. Para desespero daqueles que esperavam ver a presidente, hoje bem avaliada, trancada no Planalto e cuidando apenas das contas públicas, ela começa a campanha fora da toca. 

Por falar em contas...Nem todos os políticos vão receber Dilma com muita festa nos próximos dias. Tudo por causa do cancelamento de R$ 2,8 bilhões em restos a pagar não processados de 2010. Ela está cada vez mais empenhada em acabar com a sangria de receitas por conta de orçamentos de anos anteriores pendentes de pagamento. A sorte dela é que a revolta da base só deve se materializar em agosto, quando os parlamentares retornam do recesso e voltam a turbinar a CPI de Carlos Cachoeira com a presença de Luiz Antonio Pagot, o ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transporte, que o Planalto não queria ver de jeito nenhum lépido e falante na CPI. Mas essa é outra história. 

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