O Estado de S.Paulo - 19/01/12
Quem não tem reforma ministerial a fim de apresentar um governo para chamar de seu, caça com uma reunião ministerial para discutir metas, meios e modos.
Assessores, conselheiros, ministros e políticos próximos à presidente da República passaram o ano de 2011 dizendo que no início de 2012 haveria uma reforma ministerial que marcaria o começo do verdadeiro governo de Dilma Rousseff.
Pouco depois da posse presidencial e do anúncio do Ministério disseminou-se a versão de que a equipe então nomeada teria prazo de validade. Seria de um ano. Quem não sobrevivesse ao teste estaria fora. Os leitores, espectadores e ouvintes atentos lembram-se disso.
Completado o primeiro ano de governo, do parto da montanha nasceu um rato. O que era reforma agora é chamado de "ajuste" com quatro, no máximo cinco mudanças pontuais de nomes e nenhuma alteração no conceito da formação do condomínio.
As razões são basicamente duas e já conhecidas: a troca de sete ministros ao longo de 2011 e a decisão de não mexer na forma nem no conteúdo da partilha política entre partidos aliados.
Primeiro porque o governo considera que está ganhando o jogo e segundo porque todo cuidado é pouco em ano eleitoral.
Pois bem, mas Dilma ainda assim continua precisando de um marco, a fim de consolidar a imagem do recomeço com jeito de começo para valer.
E é aí que entra a reunião ministerial marcada para a próxima terça-feira para discutir cortes no Orçamento, metas de gestão e reformulação de programas setoriais.
Trata-se de um substitutivo à reforma que, na prática, terá muito pouco ou quase nada a oferecer além de diagnósticos - sem sentido num projeto de governo que entra em seu décimo ano - de prognósticos cuja execução o histórico da discrepância entre anúncios e resultados não convida à credibilidade.
Como evento, a reunião ministerial é sucesso garantido. Como ação real e marco de governo, algo que precise de três encontros preparatórios e movimente 38 ministros (entre eles vários com os quais Dilma nunca recebeu), nada garante o sucesso.
Dois gumes. A ausência do senador Aécio Neves da linha de frente de combate oposicionista, segundo seus aliados, é estratégica. Apostaria na atuação de bastidor e nas fissuras da base do governo.
Um dos seus alvos é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB.
Há quem veja, porém, um risco: o de Eduardo Campos crescer demais e terminar dono do espaço que Aécio esperaria ocupar nos preparativos para 2014.
Padroeiros. A ofensiva do governo argentino contra a imprensa não alinhada aos seus interesses - invasão de uma empresa do grupo Clarín e proposta de estatização disfarçada da produção, distribuição e comercialização de papel-jornal - não é, na versão oficial, uma tentativa de controle dos meios de comunicação.
A ideia, segundo assessores de Cristina Kirchner, é "democratizar a informação e eliminar o poder dos monopólios".
O presidente do PT, Rui Falcão, também desmente que o objetivo do partido seja o controle. "Queremos proteger a imprensa nacional da lei da selva do mercado", alega.
Qualquer semelhança na argumentação não é mera coincidência. É eufemismo mesmo.
Venha a nós. Na entrevista do ministro do Tribunal Superior do Trabalho e ex-integrante do Conselho Nacional de Justiça, Ives Gandra Filho, publicada na edição de domingo do Estado, sobre a pressão de juízes contra a criação de critérios bem definidos para o pagamento de pagamentos acumulados a magistrados, um trecho mostra a amplitude dos lobbies.
É o relato sobre a situação encontrada pelo CNJ no Tribunal de Justiça de Mato Grosso: "A presidência era dominada por maçons, havia uma cooperativa ligada à maçonaria. Vários magistrados receberam (alguns R$ 1,5 milhão) para emprestar à loja".
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