FOLHA DE SP - 08/01/12
Quanto mais Dilma espera para fazer a reforma, mais enfraquecidas ficam as siglas na disputa pelas vagas
Em vez de apressar, as más condutas ministeriais e respectivas exonerações recomendam a Dilma Rousseff empurrar a reforma ministerial até o limite, no fim de março, de desligamento dos ministros que se pretendem candidatos em outubro. Não, porém, porque tenha abandonado ou abandone a "faxina", mera criação do vício batismal da imprensa, depois usado na própria e na oposição parlamentar para cobranças à presidente. O fato é que, a rigor, cada desabamento no ministério resulta em ganho político futuro para Dilma Rousseff.
Esperada para este janeiro, a reforma ministerial foi desconfirmada de passagem pela presidente, para espanto da imprensa que criara e insistia no prazo. As sete substituições de ministros, porém -com o oitavo já na beira do trampolim para o salto sem rede e sem água- não deixaram de ser uma pequena reforma. Em especial na exclusão do poderoso, confiante e ambicioso "consultor" Antonio Palocci. Cada uma representou um problema, menor ou maior, para Dilma Rousseff. Mas em todos os casos a colheita de lucro político foi maior do que a inconveniência administrativa.
Lucro não só para sua imagem. Sobretudo, para sua autoridade na relação com os partidos aliados, muito arrogantes até então, e nas negociações com o Congresso. Na proporção em que os partidos se enfraqueceram com as más condutas de seus representantes no ministério, o reverso de sua perda resultou em fortalecimento da presidente junto ao partido em questão. E, por alguma dose de extensão, junto aos demais. Cuja vez outro ministro seu logo traria.
Assim foi, até agora, que se combinaram a queda de Palocci e o enfraquecimento do PT; de Wagner Rossi e do PMDB; de Alfredo Nascimento e do PR; de Pedro Novais e do PMDB; de Orlando Silva e do PC do B; de Carlos Lupi e do PDT.
Duas importantes alterações de comportamento, em relação à presidente e ao governo, decorreram daí, no todo ou em boa parte. Os petistas sumiram com a ideia de que se trata de um governo do PT e, portanto, a isso Dilma Rousseff deveria estar condicionada sempre. A obesidade do PMDB deixou de ser interpretada pelo líder Henrique Eduardo Alves como força sem paralelo e autorização para a arrogância grosseira, de muita impertinência e escassa política.
Lula e Fernando Henrique estabeleceram com os partidos relações de balcão. Junto à caixa registradora e ao cofre. Dilma Rousseff quer algo bem mais formal e até cerimonioso. Com o governo visto no lugar que é seu. Ficou muito longe disso, na composição do ministério inicial, embora sem ceder na distância. O "esquema Lula" agiu, ou, também se pode dizer, inviabilizou as experimentações introdutórias de uma nova concepção.
O resultado é o fracasso ministerial que está à vista, perceptível tanto em números como em débitos dos partidos. Já por isso, as exonerações necessárias de ministros dão a Dilma uma condição fortalecida para formar o que poderá ser o "seu" ministério. E quanto mais espera para a reforma ministerial, maior será o tempo em que os partidos, com PMDB e PT à frente, estarão se enfraquecendo na disputa pelas vagas, o que já ocorre. Única instância fortalecida, Dilma tenderá à possibilidade de não admitir o que não queira e até de impor o que queira.
Teríamos, então, uma novidade essencial no Brasil.
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