FOLHA DE SP - 08/01/12
Desta vez, giro americano do presidente do Irã não passa pelo Brasil, o que nos poupa de falsas polêmicas
O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad começa hoje, pela Venezuela, mais uma excursão pela América Latina. Mas desta vez, ao contrário de 2009, não virá ao Brasil, o que nos poupa de outra polêmica inútil.
Refiro-me, especificamente, ao intenso ruído em torno da tentativa turco-brasileira de arrancar um acordo do Irã sobre seu programa nuclear, que levou a uma bateria de acusações de que o governo Lula estava, na verdade, ajudando Teerã a ganhar tempo para fazer a bomba.
Cansei de escrever, com base em fatos, inclusive obtidos de fontes norte-americanas, que Lula nada mais fizera do que seguir, ao pé da letra, sugestões contidas em carta que lhe enviou o presidente Barack Obama às vésperas da iniciativa turco-brasileira. Inútil. Prevalece sempre a versão ou por desinformação, ou por má-fé, ou ambas juntas.
Pulemos, pois, para o presente. Ahmadinejad irá, além de Caracas, a Equador, Cuba, Nicarágua e Guatemala, nestes dois últimos países para a posse dos respectivos presidentes. O Brasil não se interessou em convidá-lo nem ele se ofereceu para vir, ao menos segundo a versão de Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático da presidente.
Garcia desdramatiza qualquer interpretação sobre a não vinda. Mas não dá para esquecer que Dilma introduziu duas mudanças na atitude do Brasil em relação ao Irã. Primeiro, condenou a pena de apedrejamento a que foi condenada Sakineh Ashtiani, acusada de adultério. Depois, a diplomacia brasileira votou a favor de uma investigação sobre direitos humanos no Irã, quando Lula nunca se manifestou a respeito. É verdade que aprovar uma investigação não é a mesma coisa que condenar um dado país, mas a mudança é relevante, mais ainda aos olhos de um regime fechado que divide o mundo em amigos ou inimigos sem meios-termos.
Poupado o Brasil de novas polêmicas, elas de todo modo acompanham a viagem de Ahmadinejad, reacendendo o pavor de uma perigosa infiltração iraniana na América Latina. Basta ver o que diz Ileana Ros-Lehtinen (republicana da Flórida), presidente do Comitê de Relações Internacionais da Câmara de Representantes : "A atividade iraniana no Hemisfério Ocidental ameaça a segurança regional e a estabilidade".
Que o Irã está ativo na América Latina é fato, do que dá prova a estatal Press TV ao informar: "A promoção de uma abrangente cooperação com países latino-americanos está entre as principais prioridades da política externa da República Islâmica".
Mas Stephen Johnson, diretor do Programa Américas do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington, põe as coisas em perspectiva: "O comércio entre o Irã e a região triplicou entre 2008 e 2009, mas o comércio com cada país latino-americano é ainda apenas uma lasca da torta do país, correspondendo a menos de 1% em todos os casos".
Outro ponto que agita o noticiário em torno da viagem do iraniano é a possibilidade de que use a América Latina para romper ao menos parcialmente o isolamento do regime. Sem visitar Brasil, Argentina e México, as chances tendem a zero.
2 comentários:
Tentei fazzer um comentário importante, mas esse Blog me negou.
Que decepção!!!!!!
Então por que, se negou ao meu comentário, se o campo não pode ficar em branco?
É por isso que não tem nenhum cometário!!!!!!
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