quarta-feira, dezembro 14, 2011

Errata - MARIO MESQUITA

FOLHA DE SP - 14/12/11

O consenso para a inflação do próximo ano é de 5,5%; vamos torcer para que, desta vez, o mercado acerte


Em coluna de janeiro deste ano ("Para não contar com a sorte", publicada no dia 26), escrevi que trazer a inflação de volta à meta em período razoável requeria trazer o crescimento para algo abaixo de 4%, "talvez até mais próximo a 3%".

A coluna alertava, também, que a utilização de medidas de controle de crédito como parte da estratégia de estabilização não seria indolor do ponto de vista da atividade econômica.

Cabe reconhecer que a evolução da conjuntura validou apenas parcialmente as avaliações daquele texto. A atividade, de fato, sofreu forte desaceleração, em certa medida na esteira das ações de contenção de crédito adotadas desde o final de 2010.

Mas o processo de desinflação tem se mostrado bem mais lento do que se esperava. Afinal, a inflação se acelerou em vez de recuar no ano, a ponto da convergência para 4,5% ter sido efetivamente postergada para o final de 2012 ou depois -ainda que a providencial redução do peso dos serviços na nova composição do IPCA possa vir a ajudar. Isso porque os preços de serviços têm historicamente mostrado dinâmica mais persistente do que os dos bens.

Evidentemente, o quadro pode mudar se de fato as autoridades europeias fracassarem nas tentativas de sustentar a união monetária, o que provavelmente levaria a uma crise financeira e econômica mais profunda.

Nesse contexto, que ninguém deseja, mas que pode ocorrer, tanto a atividade doméstica, mais deprimida, quanto os preços das commodities, mais baixos, ajudariam a acelerar a convergência da inflação para a meta.

Sem tal evento extremo, a julgar pelas projeções de consenso, a inflação passará dois ou, em cenário mais pessimista, três anos acima da meta -meta essa que, não custa recordar, é bem superior àquela praticada em outras economias da região com o mesmo regime de política econômica, 3% no caso tanto do Chile quanto do México.

O persistente descolamento da inflação observada em relação à meta faz com que tanto investidores quanto formadores de preços passem a atribuir um peso maior à dinâmica inflacionária passada na formação de expectativas -o que é ainda mais razoável quando autoridades econômicas demonstram conforto com os níveis correntes de inflação. Em outras palavras, a persistir a atual situação levará ao aumento da inércia inflacionária.

Nesse ambiente, a meta pode perder a capacidade de atrair as expectativas de inflação, do que já há certos sintomas, como o descolamento das expectativas inflacionárias a prazos mais longos.

Dessa forma, a tarefa do Banco Central nos anos à frente se tornaria ainda mais difícil -quando a ancoragem das expectativas se enfraquece é preciso mais desaquecimento econômico para conseguir reduzir a inflação.

Cabe notar, adicionalmente, que não há apenas riscos de baixa para a inflação, derivados basicamente do setor externo. Existem também riscos de alta que não devem ser subestimados.

Em primeiro lugar, o aumento do salário mínimo, em cerca de 14%, vai atingir um mercado de trabalho ainda bastante vigoroso, que opera com estreita margem de ociosidade, podendo ensejar repasses de preços em diversos setores (vale notar que a pressão não se esgota aí -para 2013, a permanecer a regra atual, devemos esperar um reajuste do salário mínimo próximo a 10%).

Além disso, com o aumento da proteção contra importados, bem como o relaxamento das condições de crédito, o setor de automóveis, cujo peso no IPCA aumentará, pode deixar de apresentar deflação, como tem sido o caso desde 2010.

Existem também os problemas recorrentes na oferta de etanol. Finalmente, certos reajustes que foram postergados neste ano, como o do IPI sobre cigarros, tendem a ocorrer em 2012.

No final de 2010, o consenso do mercado era que a inflação de 2011 seria de 5,3%, recuando diante da taxa então observada.

Atualmente, o consenso para a inflação de 2012 é de 5,5%, o que levaria a taxa à metade do caminho entre o nível atual e a meta.

Vamos torcer para que, desta vez, o mercado acerte.

MARIO MESQUITA, 46, doutor em economia pela Universidade de Oxford,

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